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São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2003

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POLÍTICA MONETÁRIA

Segundo ministro, governo busca taxas reais de "6% ou 8%" para pôr fim ao "vício dos que vivem de renda"

BC vai baixar juros neste mês, diz Dirceu

Sergio Lima/Folha Imagem
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, cumprimenta o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, em Brasília


WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro José Dirceu (Casa Civil) afirmou ontem, durante seminário sobre a retomada do desenvolvimento, no Palácio do Planalto, que a taxa de juros deverá cair de novo neste mês, na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), nos dias 16 e 17.
"Quando assumimos o governo, os juros estavam em 25% [ao ano]. Subimos para 26,5%, agora estão em 17,5% e ainda devem baixar em novembro e dezembro, quando teremos reuniões do Copom", disse o ministro, que se enganou quanto à reunião de novembro, que, no mês passado, reduziu a taxa em 1,5 ponto.
Dirceu não disse como será feita a redução: "Não vou dizer como. Só o Banco Central é que sabe".
O presidente do BC, Henrique Meirelles, disse, na noite de ontem, em São Paulo, que declarações de Dirceu não devem ser entendidas como uma intervenção no papel da autoridade monetária. "O presidente da República já emitiu uma nota dizendo que a decisão da taxa de juros é de responsabilidade exclusiva do Copom e [ele] confia totalmente na sua decisão. Não há interferência. O que existe é um debate normal na sociedade em que diversos setores expressam sua opinião."

Juros reais
Dirceu disse ainda que uma taxa civilizada de juros reais (descontada a inflação) seria de 3% a 6%. "O problema é muito simples, infelizmente, e trágico. Arrecadar R$ 405 bilhões em impostos, que são 33% do PIB, é uma barbaridade. Nós temos de pagar juros da dívida interna. Para resolver o problema do superávit fiscal, nós temos de reduzir os juros cada vez mais, até entrar em um juro real civilizado, que é um juro de 3%, 4%, 5%, 6%, dependendo das condições internacionais e da força do país."
Em outro momento, Dirceu afirmou que o governo procura reduzir os juros reais para 6% ou 8%. "A busca de um juro real de 6% ou 8%, para liberar os recursos orçamentários a fim de o país crescer, e toda a construção que estamos fazendo para reorganizar o sistema previdenciário e tributário e para regular os setores de infra-estrutura são fundamentais para o país."
Segundo o ministro, "o Brasil viciou uma camada importante da população em viver de renda, com taxas de juros [reais] de 13%, 15%". Acrescentou: "Nós estamos adotando todas as providências para reduzir os juros no país e estamos reduzindo".
Em resposta aos críticos da atual política econômica, ele afirmou estar convicto de que o governo está no caminho certo. "Fizemos o que era importante neste primeiro ano: dar governabilidade, conquistar maioria no Parlamento, fazer as reformas tributária e previdenciária."
Ele citou ainda como medidas relevantes as reformas política, do Judiciário, sindical e trabalhista, a reorganização do aparelho administrativo, a retomada da função dos bancos públicos e a definição de novas regras para investimentos em infra-estrutura.

Urgência
Segundo Dirceu, há um desafio pela frente, que não se resolve sem uma grande mobilização nacional. "O tempo conspira contra nós, porque a urgência dos famintos, dos que não tinham voz nem vez, não é a urgência da racionalidade econômica, da engenharia política."
Ele deu razão a quem tem pressa. "Muitas vezes, vejo setores da sociedade brasileira impacientes -e com razão. É de direito a pressa daqueles que esperaram durante tanto tempo. Uma sociedade tão rica quanto a brasileira e com tantas possibilidades não terá futuro se o povo não for ator e agente dessa mudança".
Dirceu afirmou ainda que "as necessidades sociais não são compatíveis com as restrições econômicas" e voltou a reclamar da herança que o PT recebeu de governos anteriores, não só o passado.

Com a Reportagem Local

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