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ENTREVISTA
Economista afirma que a alta dos preços seria "o pior dos mundos" e que não se surpreendeu com queda do PIB
Para Belluzzo, queda rápida de juros trará pressão inflacionária
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil cometeu a "imprudência" de permitir a excessiva valorização do real sob o regime de
câmbio flutuante e enfrentará o
risco de pressões inflacionárias
quando (e se) o Banco Central
acelerar o processo de redução
dos juros, afirma o economista
Luiz Gonzaga Belluzzo, professor
titular da Unicamp.
Vencedor do "Juca Pato - Intelectual do Ano de 2004", Belluzzo
considera que a alta dos preços seria "o pior dos mundos". Mas ressalva que a probabilidade que esse
cenário se concretize não é "terrível" em razão da grande quantidade de dinheiro em circulação
no mundo, que amenizaria a
pressão pela desvalorização do
real decorrente do corte de juros.
O economista disse que não ficou surpreso com o resultado do
PIB do terceiro trimestre, que
atribui aos juros e superávit primário. A seguir, a entrevista:
Folha - Como o sr. recebeu o resultado do PIB?
Luiz Gonzaga Belluzzo - Não fiquei nem um pouco surpreso. Os
indicadores mostravam que a
economia estava desacelerando.
Folha - Quais foram as principais
razões dessa queda?
Belluzzo - O crédito consignado
deu impulso à demanda de bens
duráveis nos trimestres anteriores, mas foi curto em razão dos juros muito altos. Outro elemento
dinâmico, que são exportações líquidas, também não tiveram o
mesmo ímpeto.
O elemento que talvez tenha
contribuído muito para a queda,
o elemento dinâmico para a economia, é a indústria e suas ramificações. No desempenho da indústria, o investimento é o elemento que compensaria esses
dois outros fatores de expansão,
que são exportações líquidas e o
consumo, mas ele tem se comportado de maneira bem modesta.
Mas o fator fundamental é realmente a combinação juros e superávit primário, que não foram
exatamente expansionistas e tiraram fôlego do crescimento.
Folha - O governo errou na mão?
Belluzzo - Faz tempo que isso está acontecendo, mas os efeitos demoram um pouco para aparecer.
Estava todo mundo dizendo
"olha, não tem importância o
câmbio, a taxa de juros, o superávit", o que obviamente era uma temeridade. Não há dúvida de que
este ano a economia vai ter crescimento bem mais modesto que o
do ano passado. Os juros começaram a subir em setembro de 2004,
mas o efeito não é imediato.
Folha - Dá para recuperar no
quarto trimestre?
Belluzzo - O quarto trimestre vai
ser morno, talvez seja positivo,
mas não vai dar para dar um crescimento de 3,5%. Não vai nem
chegar a 3%. Vai dar 2,7%, 2,8%.
Folha - E o próximo ano?
Belluzzo - O próximo ano é outra história, porque espero que,
diante desse resultado, o Banco
Central acelere a queda dos juros.
Mas não é algo isento de risco. Se
a queda for muito rápida e houver
um movimento um pouco acentuado de desvalorização cambial,
isso pode ter efeito sobre a inflação, e aí seria o pior dos mundos.
No Brasil, tem essa coisa do
câmbio flutuante, que é uma história mal contada. Se você olha
pesquisas do FMI, a maior parte
dos países está em regimes de
câmbio intermediários, porque
não dá para ter câmbio flutuante
em um mundo onde há movimentos de capital e arbitragem financeira. O Brasil fez uma coisa
de uma imprudência e um risco
enorme, que não precisava correr
[permitir a valorização do real].
Não creio que com a grande liquidez internacional o risco seja
terrível, mas pode acontecer alguma coisa, com efeito na inflação.
Folha - Quando o sr. fala queda
mais agressiva de juros, o sr. está
falando de quanto?
Belluzzo - Acho que é ficar em
uma taxa real bem menor que os
13% de hoje. Tem gente que está
dizendo, não sei com que informação, que o Banco Central considera que o máximo que pode
chegar é 10% real, porque a partir
daí há o risco de inflação.
Essa é uma visão antiga, justificada até em relação à inflação no
caso do passado brasileiro, mas
agora a tendência mundial não é
essa. Há outros instrumentos para ajudar a combater a inflação.
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