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Agrofolha
Brasil volta a liderar importação de trigo
País deve comprar 15 mi de toneladas no biênio 2006/7; pesquisador da Embrapa diz que é preciso uma política definida
Importação mostra como o país vive de altos e baixos no setor: em 2004, produção foi de 60% do consumo, mas neste ano não chega a 20%
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Um dos líderes mundiais nas
exportações do agronegócio, o
Brasil deve voltar a ser o campeão mundial nas importações
de trigo neste e no próximo
ano. Serão pelo menos 15 milhões de toneladas do cereal
que vão entrar pelos portos
brasileiros entre 2006 e 2007.
Mais uma vez, essas importações mostram como o país vive
de altos e baixos na triticultura.
Enquanto em 2004 o país produziu 60% do que consumiu,
neste ano fica em 20%.
"O país precisa tomar uma
decisão política. Tomar e assumir se quer ser produtor ou importador. Do contrário, em
2007 estaremos tendo as mesmas discussões sobre o setor."
A avaliação é de Benami Bacaltchuk, pesquisador da Embrapa
Trigo que, desde a década de 70,
se dedica a essa cultura.
Para Bacaltchuk, não é o
aporte de dinheiro apenas na
hora de enfrentar problemas
no setor que vai desenvolver a
triticultura, mas a adoção de
uma política estimuladora.
"Uma política com previsibilidade e consistência, na qual o
produtor confie", diz ele.
Bacaltchuk vai direto ao ponto: "Ou o Brasil adota subsídios
para a triticultura, ou vamos
continuar financiando os subsídios dos outros". Ele afirma
que é contra a proteção de mercados, mas diz que, no caso da
triticultura, não há solução.
O pesquisador da Embrapa
justifica o quanto seria importante o país fazer uma opção
pela triticultura. Para cada 27
hectares cultivados, são criados
um emprego direto e dois indiretos na cadeia do setor.
Márcio Só e Silva, também da
Embrapa e especialista no desenvolvimento do produto no
cerrado brasileiro, diz que, dadas as condições para essa cultura, a área ocupada poderia ser
de 4 milhões a 5 milhões de
hectares no Brasil central.
As ações a serem desenvolvidas no setor devem ter como
objetivos não apenas os incentivos ao plantio, mas também
medidas de mercado e de apoio
ao produtor em outras regiões
fora do eixo Paraná-Rio Grande
do Sul, os líderes de produção.
Controlar entrada
O mercado trata muito mal o
produtor local, na avaliação de
Bacaltchuk. Por isso, uma das
propostas seria criar mecanismos de entrada do produto no
Brasil. Não se trata de impedir
as importações da Argentina, o
maior fornecedor brasileiro,
mas controlar o período de entrada do produto, segundo ele.
Uma medida como essa permitiria a desova da produção
brasileira para outros Estados,
o que aliviaria os armazéns do
Paraná e do Rio Grande do Sul,
grandes produtores de grãos.
Uma ampliação da triticultura nacional passa, ainda, pela
solução de vários gargalos estruturais, segundo Silva. Um
deles é o fornecimento de sementes apropriadas para as diversas regiões com potencial de
produção, principalmente para
o Brasil central.
A Embrapa está voltada para
essa região. O cultivo do sequeiro é embrionário e depende
mais da ação do governo. Silva
destaca que, mesmo na área do
conhecimento, são necessários
avanços, principalmente no desenvolvimento de variedades
mais resistentes a doenças.
Ao contrário da baixa produtividade do sequeiro -1.500
quilos por hectare na região-,
o trigo irrigado tem produção
média de 4.200 quilos. Nesse
caso, os problemas são outros,
segundo Silva.
Enquanto soja e milho contam com boa logística de captação e de armazenagem na região, o mesmo não ocorre com
o trigo, devido, inclusive, à falta
de indústrias de moagem.
Silva acredita no desenvolvimento da triticultura fora do
Rio Grande do Sul e do Paraná.
As pesquisas continuam e a
resposta do produtor virá
quando houver variedades
mais competitivas. Além das
áreas tradicionais de produção,
o foco da Embrapa se estendeu
também para o norte de Mato
Grosso do Sul, Mato Grosso,
Goiás, Distrito Federal, Minas
Gerais e sudoeste da Bahia.
Esse avanço depende também de investimentos do governo, especialmente em pesquisas. Silva diz que, com o
avanço tecnológico no setor, os
investimentos privados virão.
Apesar do potencial de produção no Brasil, Silva não acredita em auto-suficiência, mas
na abertura de uma avenida de
duas mãos: exportar parte da
produção para aliviar o excesso
do mercado em períodos de safra, e voltar a importar nos momentos de entressafra.
A exploração de novas áreas
para o trigo ampliaria a oferta e
a "janela de produção", que hoje está restrita ao segundo semestre. Ela poderia ser de maio a dezembro, segundo Silva.
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