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CÂMBIO
Desvalorização gradual deve favorecer economia americana, dizem economistas
Analistas não esperam colapso do dólar
JONATHAN FUERBRINGER
DO "NEW YORK TIMES"
O dólar caiu de novo diante da
maior parte das moedas do mundo em 2003, apresentando seu
terceiro pior desempenho desde
que começou a ser negociado livremente, nos anos 70. Foi o segundo declínio anual consecutivo
do dólar, e muitos analistas prevêem nova queda neste ano.
Se for moderado, um declínio
seria em geral bom para as empresas dos EUA e para os norte-americanos investindo no exterior. Mas uma queda de muitos
pontos percentuais, que alguns
analistas consideram possível,
poderia solapar os mercados financeiros no país e no exterior.
Robert Sinche, diretor mundial
de estratégia de câmbio no Citigroup, espera que o dólar volte a
cair no começo do ano e depois se
recupere, terminando 2004 em alta de mais de 6% sobre o euro, cuja cotação ele prevê em US$ 1,18.
Mas adverte que a recuperação
pode ter fôlego curto. "A tendência a um dólar mais fraco existe",
disse, o que significa que o declínio pode ser retomado em 2005.
Em análise mais pessimista, David Gilmore, sócio da consultoria
Foreign Exchange Analytics, prevê que o dólar possa cair em até
13% neste ano -o euro terminaria 2004 cotado a US$ 1,45.
Isso colocaria o valor da moeda
norte-americana de volta ao patamar de 1995, quando atingiu seu
ponto mais baixo diante do marco alemão, uma das 12 moedas
que compõem o euro, desde 1971.
"O dólar é um animal debilitado", disse Gilmore. E advertiu que
existe chance de que o declínio venha rápido o bastante para que
"as coisas fiquem bem feias, para
causar desordens nos mercados e
para provocar alta nas taxas de juros e queda nas Bolsas".
Determinar se o dólar continuará caindo -e, em caso positivo,
quanto e com que velocidade-
depende até certo ponto do governo Bush, que alega apoiar um
dólar forte, por um lado, mas vem
pressionando China e Japão para
que valorizem suas moedas e permitam queda da divisa norte-americana, por outro. Acredita-se
que isso seja parte de uma estratégia eleitoral que ajudaria as empresas norte-americanas a ganhar
competitividade.
O Federal Reserve (banco central dos EUA) também será um
jogador importante, já que deve
começar a elevar sua meta para os
juros de curto prazo neste ano. Os
analistas de câmbio estão divididos quanto ao efeito dos juros
mais altos sobre o dólar.
Alguns argumentam que os aumentos de juros do Fed confirmarão que a economia está de volta a
um ritmo sólido e firme de crescimento, que deve ajudar a manter
em movimento a recuperação da
Bolsa. Se as ações subirem o bastante e os juros forem altos o bastante, mais investidores estrangeiros poderiam ser atraídos aos
mercados norte-americanos.
Outros analistas advertem que
no passado o dólar foi solapado
quando o Fed aumentou as taxas
de juros. O último ciclo de aumento de juros do Fed aconteceu
em 1994, e em 1995 o dólar respondeu caindo em nível recorde
diante do marco alemão e do iene.
E temos ainda a China e o Japão,
que impediram o dólar de cair
ainda mais do que aconteceu em
2003. A moeda chinesa está ancorada ao dólar, de modo que em lugar de subir com relação a ele no
ano passado, manteve seu valor,
limitando a queda do dólar no
mercado como um todo. Mas, se
essa âncora for removida, o dólar
poderia cair em relação à maioria
das moedas asiáticas.
O governo japonês gastou US$
187 bilhões, ou mais de 20 trilhões
de ienes, em intervenções nos
mercados de câmbio, adquirindo
dólares para conter a queda do iene. Uma alta no iene poderia prejudicar os exportadores do país.
O governo jamais gastara tanto
para impedir que o iene subisse, e
muitos operadores e analistas de
câmbio agora brincam que a
moeda japonesa, está operando
com uma âncora cambial.
Sem essa intervenção, o dólar,
que caiu 9,6% diante do iene no
ano passado, poderia ter caído até
16%, dizem alguns analistas. E devido à intervenção, eles acreditam
que o dólar não deva cair tanto
diante do iene quanto com relação ao euro, este ano. Algumas
previsões falam em declínio de
apenas 4% a 5%.
Por fim, a economia e os mercados de ações norte-americanos
sofrerão impacto. Até agora, a retomada do crescimento no país e
a alta nas Bolsas não influenciaram o dólar. O ambiente de baixas
taxas de juros e o déficit recorde
em conta corrente norte-americana, que mede o balanço comercial
de bens e serviços dos EUA com o
resto do mundo, podem tornar o
investimento no país menos
atraente para os estrangeiros.
O dólar caiu 12,1% diante do euro do começo da recuperação da
Bolsa, em março, ao final do ano;
a queda para o ano como um todo
atingiu os 16,5%, com o euro cotado a US$ 1,2572 dólar. Diante do
iene, a moeda norte-americana
caiu a 107,35 ienes.
Os norte-americanos que investem no exterior se beneficiarão da
fraqueza do dólar, já que os ganhos externos aumentam quando
são traduzidos para moeda local.
Em 2003, os retornos do mercados de ações no exterior, medidos
pelo índice mundial Morgan Stanley Capital International e excluindo os EUA, quase duplicaram para os investidores norte-americanos. O retorno de 19,9%
em moedas locais dos países que
compõem o índice se traduziu em
37,5% de ganho em dólares.
Os exportadores e a economia
dos Estados Unidos em geral também se beneficiam do dólar em
queda, já que os produtos norte-americanos ganham competitividade de preços no exterior, enquanto os importados se tornam
mais caros no país, o que ajuda os
concorrentes locais.
Além disso, uma queda modesta do dólar é o que a maior parte
dos economistas receita como antídoto de longo prazo ao déficit
crescente do país em conta corrente, que atingiu o recorde anual
de US$ 500 bilhões.
Mas os norte-americanos terão
de pagar muito mais em viagens
de negócios ou lazer ao exterior.
Uma queda pronunciada do dólar é possível porque o agravamento do déficit em conta corrente requer fluxo incessante de dinheiro externo para cobrir a diferença cada vez maior.
A maior parte dos analistas, porém, prevê declínio ordeiro, e não
um mergulho, em parte porque a
queda do dólar até agora não prejudicou os mercados de ações
nem o de títulos públicos.
Tradução de Paulo Migliacci
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