São Paulo, terça-feira, 06 de janeiro de 2004

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No Brasil, preço do leite cai e CVM revê balanço

ADRIANA MATTOS
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise que atingiu a Parmalat contaminou o preço do leite vendido no país e forçou uma queda no valor negociado no mercado. No Nordeste, por exemplo, a empresa reduziu em 20% a 30% o volume de leite comprado em dezembro. Resultado: sobra produto e o preço cai. Essa situação também será discutida hoje na reunião entre governo e produtores.
Ontem, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) informou que está analisando os balanços da empresa no país, mas que, até o momento, não encontrou nenhum indício de irregularidade. O pente fino nos balanços começou em dezembro, quando veio a público a fraude contábil.
Ontem, a empresa enviou um comunicado à Bolsa de Valores de São Paulo. Informa que "o obstáculo a ser superado é reconhecido pela gestão local, que busca preparar-se para os eventuais impactos decorrentes dele".
Não foi só isso. De acordo com cooperativas de Goiânia, a companhia informou ontem que os pagamentos feitos na forma de leite em pó podem atrasar.
A Parmalat tem dificuldades para arcar com os pagamentos dos contratos de fornecimento dos meses de novembro e dezembro. Algumas dívidas foram quitadas por meio da troca: a empresa pagou o que devia com leite em pó.
Mas não seria possível, apurou a Folha, atender todos os credores dessa forma porque a empresa pretende fazer caixa exportando o leite em pó em janeiro.
"Hoje (ontem) venceu uma dívida de cerca de R$ 40 mil da Parmalat conosco, relativa a dezembro. Isso não foi pago e propus receber em leite em pó. Eles disseram que pagamento dessa forma só após o dia 20", afirma Rui Tomé, gerente da área de lácteos da Agrovale, cooperativa com 2.000 produtores de Goiás.
Um dos maiores conglomerados do setor alimentício no país, a Parmalat enfrenta um momento delicado. O seu fundador, Calisto Tanzi, está preso, acusado de fraude contábil. A empresa entrou em concordata na Itália.
Representantes de cooperativas em Pernambuco informam que há um movimento de redução no volume de pedidos da Parmalat na região. Porém, como de outubro a março é o momento de safra e a produção está elevada, uma redução nos pedidos da empresa pode puxar os preços para baixo.
"Os produtores me ligam dizendo que tiveram de reduzir o preço de venda porque há produto sobrando. Há uma queda de 20% a 30% na compra por parte da empresa na região", diz Pio Guerra Júnior, vice-presidente executivo da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
Para Rui Tomé, da Agrovale, o litro do leite hoje é revendido a R$ 0,41, em média, à fábrica. Há um mês, o valor estava em R$ 0,45.
Para Márcio Lopes de Freitas, presidente da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), essa queda não é só efeito da Parmalat. "O preço já estava caindo."


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