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No Brasil, preço do leite cai e CVM revê balanço
ADRIANA MATTOS
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise que atingiu a Parmalat
contaminou o preço do leite vendido no país e forçou uma queda
no valor negociado no mercado.
No Nordeste, por exemplo, a empresa reduziu em 20% a 30% o volume de leite comprado em dezembro. Resultado: sobra produto e o preço cai. Essa situação também será discutida hoje na reunião entre governo e produtores.
Ontem, a CVM (Comissão de
Valores Mobiliários) informou
que está analisando os balanços
da empresa no país, mas que, até
o momento, não encontrou nenhum indício de irregularidade.
O pente fino nos balanços começou em dezembro, quando veio a
público a fraude contábil.
Ontem, a empresa enviou um
comunicado à Bolsa de Valores de
São Paulo. Informa que "o obstáculo a ser superado é reconhecido
pela gestão local, que busca preparar-se para os eventuais impactos decorrentes dele".
Não foi só isso. De acordo com
cooperativas de Goiânia, a companhia informou ontem que os
pagamentos feitos na forma de
leite em pó podem atrasar.
A Parmalat tem dificuldades para arcar com os pagamentos dos
contratos de fornecimento dos
meses de novembro e dezembro.
Algumas dívidas foram quitadas
por meio da troca: a empresa pagou o que devia com leite em pó.
Mas não seria possível, apurou a
Folha, atender todos os credores
dessa forma porque a empresa
pretende fazer caixa exportando o
leite em pó em janeiro.
"Hoje (ontem) venceu uma dívida de cerca de R$ 40 mil da Parmalat conosco, relativa a dezembro. Isso não foi pago e propus receber em leite em pó. Eles disseram que pagamento dessa forma
só após o dia 20", afirma Rui Tomé, gerente da área de lácteos da
Agrovale, cooperativa com 2.000
produtores de Goiás.
Um dos maiores conglomerados do setor alimentício no país, a
Parmalat enfrenta um momento
delicado. O seu fundador, Calisto
Tanzi, está preso, acusado de
fraude contábil. A empresa entrou em concordata na Itália.
Representantes de cooperativas
em Pernambuco informam que
há um movimento de redução no
volume de pedidos da Parmalat
na região. Porém, como de outubro a março é o momento de safra
e a produção está elevada, uma redução nos pedidos da empresa
pode puxar os preços para baixo.
"Os produtores me ligam dizendo que tiveram de reduzir o preço
de venda porque há produto sobrando. Há uma queda de 20% a
30% na compra por parte da empresa na região", diz Pio Guerra
Júnior, vice-presidente executivo
da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
Para Rui Tomé, da Agrovale, o
litro do leite hoje é revendido a R$
0,41, em média, à fábrica. Há um
mês, o valor estava em R$ 0,45.
Para Márcio Lopes de Freitas,
presidente da OCB (Organização
das Cooperativas Brasileiras), essa queda não é só efeito da Parmalat. "O preço já estava caindo."
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