São Paulo, #!L#Domingo, 06 de Fevereiro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
UE tem o desafio de se tornar confiável e forte

do "Financial Times"

O debate sobre a adoção da moeda única européia pelo Reino Unido desvia a atenção de um tema mais importante: fazer o mercado unificado funcionar.
Wim Duisenberg, presidente do Banco Central Europeu (BCE), estava muito certo ao dizer que levaria alguns anos -se é que isso aconteceria- para que os 11 países que adotaram o euro atendessem os requerimentos determinados em Maastricht e as condições de convergência impostas pelo governo britânico.
O chanceler alemão, Gerhard Schroeder, já tem preocupações demais para querer liderar uma cruzada pela adesão britânica, e, de qualquer maneira, ele será cuidadoso antes de partir para mais um evento da "terceira via" em companhia de Tony Blair.
A União Européia deveria dedicar suas energias a promover outra rodada de negociações do comércio internacional e a resolver as muitas fricções que ainda impedem que o mercado unificado da região opere como deveria.
Não há necessidade de que o primeiro-ministro britânico jure sobre a Bíblia que ele não pressionará por adesão ao euro nos próximos cinco anos. Tudo o que ele precisa fazer é oferecer essa garantia com base nas evidências e circunstâncias previsíveis.
Com base nos indicadores atuais, a convergência do Reino Unido parece distante.

Libra valorizada
A libra está entre 20% e 35% acima da taxa de câmbio realista, de acordo com a maioria dos modelos econômicos. Além disso, mesmo que uma virada no comércio internacional em favor da alta tecnologia e dos serviços tenha tornado essas estimativas datadas, é inconcebível que qualquer governo britânico conduza a libra ao sistema unificado de moeda. As cotações fazem a libra valer 3,20 marcos alemães.
A cotação cambial da moeda britânica teria de cair no mínimo a 2,90 marcos por libra, e, ainda assim, muitos industriais e economistas ficariam irritados, se a moeda unificada fosse adotada pelo Reino Unido.
O vigor tanto do dólar quanto da libra só é explicável com base na suposição de que as relações atuais entre taxas de juros vão continuar se mantendo.
As taxas de juros norte-americanas estão com tendência de alta. É provável que as britânicas subam na semana que vem. Os juros do BCE já subiram 0,25 ponto percentual na quinta-feira.
Ainda assim, as pressões por juros mais altos estão longe de ser uniformes.
No momento, são muito mais fortes nos dois países de língua inglesa do que na zona do euro, onde continua a haver uma certa folga econômica -com índice de desemprego perto dos 10% e a inflação básica extremamente baixa.
Os Estados Unidos, em contraste, estão em meio a um "boom" feroz, o que dita uma política monetária mais dura, para não falarmos do medo quanto a uma possível bolha em Wall Street.
O Reino Unido caminha, mais lentamente, na mesma direção.
Se o Banco Central Europeu tivesse de adotar uma política monetária mais severa do que se esperava no momento -e o Fed e o Banco da Inglaterra reduzirem seus juros-, veríamos uma queda na libra para nível mais negociável e, a seguir, uma convergência entre as taxas de juros britânicas e as da zona do euro.
Mas isso seria mais um encontro ao acaso do que uma coreografia. De fato, grandes movimentos do euro e das taxas de juros britânicas em direções opostas só serviriam para sublinhar a imensa diferença entre os ciclos de negócios no Reino Unido e na zona do euro.


Tradução de Paulo Migliacci

Texto Anterior: Opinião econômica - Rubens Ricupero : Uma estratégia para o conhecimento
Próximo Texto: Lições contemporâneas: Surto nacionalista
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.