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Distribuidora de luz usa brecha para cobrar mais
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo descobriu um mecanismo legal usado por distribuidoras de energia para tentar forçar reajustes maiores de tarifa. Pelo esquema, o preço da energia,
que hoje está baixo porque há excesso de oferta, é artificialmente
elevado e repassado para as tarifas
cobradas dos consumidores.
O uso desse mecanismo, que lesa os consumidores, poderá acabar neste ano, quando toda a
energia comprada pelas distribuidoras tiver que ser adquirida em
leilão. Hoje, as geradoras leiloam
parte da energia que produzem,
mas as distribuidoras podem
comprar de outras fontes, sem leilão, como as comercializadoras.
A ministra Dilma Rousseff (Minas e Energia) afirmou que o leilão para compra de energia "elimina uma coisa muito complicada que estava existindo, que era a
venda intra-grupos [de energia"
por valores acima da média". Ela
disse que, mesmo "sobrando
energia barata, se vendia energia
entre as empresas de uma forma
que não era muito transparente".
Segundo a Folha apurou, há casos de energia comprada entre R$
56/MWh e R$ 62/MWh por uma
comercializadora e repassada para a distribuidora por cerca de R$
120/MWh -isso ocorreu com
uma grande distribuidora do Sudeste, dona da comercializadora
que comprou a energia barata.
A distribuidora ganha nesses
casos porque o intermediário
-comercializadora- que aumenta o preço pertence ao mesmo grupo controlador. Ou seja, o
preço é elevado pela comercializadora. Depois, a distribuidora
usa esse fato como argumento para pedir reajustes maiores.
Como as empresas pertencem
ao mesmo grupo, a distribuidora
aceita comprar a energia mais cara da comercializadora e o ganho
ficará dentro da mesma empresa.
Isso é possível porque hoje é
permitido que as distribuidoras
comprem até 30% da energia que
vendem de empresas ligadas ao
mesmo grupo empresarial.
O custo da energia comprada
pelos distribuidores é repassado
para os consumidores no reajuste
anual de tarifas. A Aneel fixa um
teto de repasse, chamado VN
(Valor Normativo). As distribuidoras podem repassar à tarifa um
percentual desse VN.
Ou seja, as distribuidoras são incentivadas a comprar energia
mais barata e podem repassar ao
consumidor tarifas mais altas,
apropriando-se de parte desse ganho de custo que é limitado a um
percentual do VN. Como o repasse é parcial, haveria ganho para o
consumidor na compra de energia mais barata pela distribuidora.
Outro lado
Ricardo Lima, vice-presidente
da Abracel (Associação Brasileira
dos Comercializadores de Energia), disse que pode estar havendo
confusão em relação ao prazo de
duração dos contratos de venda
de energia feitos entre comercializadores e distribuidores.
Segundo ele, o preço reflete a
duração dos contratos, que, no
caso dos de longo prazo, é superior a dois anos. Por esse raciocínio, uma energia barata hoje pode
ser vendida cara porque seu preço
tem de refletir uma expectativa de
preço da energia para um tempo
de duração longo.
A Folha tentou contato com a
Abradee (Associação Brasileira
dos Distribuidores de Energia
Elétrica), mas não teve resposta.
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