|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Selic mais alta eleva a dívida, inibe
o investimento e freia o consumo
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Juros nas alturas são responsáveis por uma série de danos a uma
economia. A simples elevação de
meio ponto percentual, como a
aprovada na última reunião do
Copom (Comitê de Política Monetária), tem efeito imediato.
Primeiro, aumenta o tamanho
da dívida pública. De acordo com
o Tesouro, em dezembro, 46,21%
da dívida interna estava vinculada
à Selic e outros 37%, ao dólar.
Como a maior parte da dívida
pública é de curto prazo, qualquer
ajuste para cima da taxa de juros
eleva o seu valor nominal. O segundo efeito, esse vinculado ao
""mundo real", é o do estancamento da atividade econômica.
A equação: juros altos estimulam as empresas a investirem em
aplicações financeiras. Significa
ainda, para as que não dispõem
de capital, crédito escasso (os
bancos preferem comprar títulos
do governo a assumir o risco de
emprestar dinheiro) e mais caro.
As empresas correm o risco de
investir em produção e não encontrar compradores: o consumidor, se tiver dinheiro disponível,
pode preferir mantê-lo investido.
Se não tiver dinheiro, os mesmos
juros vão inibir seu endividamento. Resultado: a atividade econômica recua. Vendendo menos, as
empresas são obrigadas a represar aumentos, sob o risco de perderem mais consumidores.
Juros x inflação
Foi esse efeito dos juros sobre a
atividade econômica o fator usado pelo BC ao longo de 2002 para
tentar combater outro mal: a
pressão inflacionária provocada
pela contínua depreciação do real.
A desvalorização influencia os
preços de produtos que dependem de matéria-prima importada
ou dos que têm cotação fixada no
mercado externo (como a soja).
Como juros altos provocam
menor demanda interna e dificuldades de financiamento, empresas, lojas e prestadores de serviços
têm dificuldade para repassar a
alta do dólar. Acabam por absorvê-la em sua margem de lucro.
Por outro lado, existe a avaliação de que juros estratosféricos
podem fazer pouco para conter a
inflação brasileira. As tarifas públicas são reajustadas de acordo
com cláusulas contratuais, ou seja, subirão sejam os juros 10% ou
100%. Já as oscilações da taxa de
câmbio estão agora mais ligadas
ao cenário internacional -possibilidade de guerra. Assim, a política monetária tem efeito limitado
sobre a inflação, a não ser que o
governo decida promover um
ajuste drástico, causando recessão forte para conter os preços.
Texto Anterior: "Spread" para pessoa física atinge maior nível desde agosto de 2000 Próximo Texto: Vítimas dos juros altos: Motoboy não consegue pagar parcela de R$ 19 Índice
|