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São Paulo, quinta-feira, 06 de fevereiro de 2003

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Selic mais alta eleva a dívida, inibe o investimento e freia o consumo

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Juros nas alturas são responsáveis por uma série de danos a uma economia. A simples elevação de meio ponto percentual, como a aprovada na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), tem efeito imediato.
Primeiro, aumenta o tamanho da dívida pública. De acordo com o Tesouro, em dezembro, 46,21% da dívida interna estava vinculada à Selic e outros 37%, ao dólar.
Como a maior parte da dívida pública é de curto prazo, qualquer ajuste para cima da taxa de juros eleva o seu valor nominal. O segundo efeito, esse vinculado ao ""mundo real", é o do estancamento da atividade econômica.
A equação: juros altos estimulam as empresas a investirem em aplicações financeiras. Significa ainda, para as que não dispõem de capital, crédito escasso (os bancos preferem comprar títulos do governo a assumir o risco de emprestar dinheiro) e mais caro.
As empresas correm o risco de investir em produção e não encontrar compradores: o consumidor, se tiver dinheiro disponível, pode preferir mantê-lo investido. Se não tiver dinheiro, os mesmos juros vão inibir seu endividamento. Resultado: a atividade econômica recua. Vendendo menos, as empresas são obrigadas a represar aumentos, sob o risco de perderem mais consumidores.

Juros x inflação
Foi esse efeito dos juros sobre a atividade econômica o fator usado pelo BC ao longo de 2002 para tentar combater outro mal: a pressão inflacionária provocada pela contínua depreciação do real.
A desvalorização influencia os preços de produtos que dependem de matéria-prima importada ou dos que têm cotação fixada no mercado externo (como a soja).
Como juros altos provocam menor demanda interna e dificuldades de financiamento, empresas, lojas e prestadores de serviços têm dificuldade para repassar a alta do dólar. Acabam por absorvê-la em sua margem de lucro.
Por outro lado, existe a avaliação de que juros estratosféricos podem fazer pouco para conter a inflação brasileira. As tarifas públicas são reajustadas de acordo com cláusulas contratuais, ou seja, subirão sejam os juros 10% ou 100%. Já as oscilações da taxa de câmbio estão agora mais ligadas ao cenário internacional -possibilidade de guerra. Assim, a política monetária tem efeito limitado sobre a inflação, a não ser que o governo decida promover um ajuste drástico, causando recessão forte para conter os preços.


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