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Chile não concebe acordo sem Mercosul
DO ENVIADO ESPECIAL A PUEBLA
A grande aposta do governo
brasileiro para confiar em que
seus parceiros da Alca querem
continuar a negociar, apesar da
oferta mínima feita pelo Mercosul
em áreas como serviços, compras
governamentais e investimentos,
está dada pelo tamanho do mercado brasileiro, o maior da América Latina.
Não é uma aposta equivocada, a
julgar pela posição do Chile, um
dos países que fazem parte do
G14, o grupo liderado pelos Estados Unidos e que se opõe ao Mercosul nas negociações da Área de
Livre Comércio das Américas.
"Alca sem Mercosul não existe",
afirma Osvaldo Rosales, chefe da
delegação chilena.
Tanto não existe que Rosales
trata de desfazer o que ele chama
de "crueldade" de parte da mídia
brasileira ao tratar o governo chileno como "aiatolá do livre comércio".
O vice-ministro do Chile diz
que, meses antes da conferência
ministerial de Miami (a que decidiu por uma "Alca light", ao gosto
do Brasil, em que nem todos os temas precisassem ser negociados
de forma igual por todos os parceiros), o presidente Ricardo Lagos já estava tentando uma "fórmula flexível que permitisse ao
Mercosul tornar-se sócio pleno
do processo".
Essa idéia foi levada, inclusive, a
um café da manhã que Lagos promoveu durante a Cúpula Ibero-Americana de Santa Cruz de la
Sierra, em novembro, com os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva,
Néstor Kirchner (Argentina) e Vicente Fox (México).
Lula agradeceu a gestão, relata
Rosales, o que é coerente com o
fato de que o governo brasileiro
jamais rechaçou a idéia da Alca.
Quis apenas torná-la centrada no
comércio tradicional (bens, agrícolas e não-agrícolas), em vez de
ampliá-la para as chamadas áreas
novas do comércio, como investimentos, compras governamentais etc.
Nessas outras áreas, ao contrário do que ocorre com a agrícola,
o Brasil resiste a um acordo que liberalize demais o comércio.
Acordo Mercosul-Chile
Ainda assim, o governo chileno
insiste em que seria importante
ter o Mercosul nos acordos em
torno dessas áreas novas.
Mas Rosales admite que, se for o
caso, eles podem ser feitos apenas
entre o Mercosul e o Chile, que, de
resto, já é Estado associado ao
Mercosul. "O chanceler Celso
Amorim [ministro das Relações
Exteriores do Brasil] já lançou essa idéia", conta o vice-ministro e
principal negociador do Chile.
O contra-argumento é o de que
acordos multilaterais em, por
exemplo, investimentos, "reforçam a segurança jurídica para investidores em todo o hemisfério".
Tudo somado, o Chile, como
um dos líderes do G14, ainda não
soou o alarme a respeito de um
fracasso em Puebla.
"Ainda há margem de otimismo de que possamos obter um
documento que dê instruções aos
grupos negociadores", afirmou.
(CR)
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