São Paulo, sexta-feira, 06 de fevereiro de 2004

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Chile não concebe acordo sem Mercosul

DO ENVIADO ESPECIAL A PUEBLA

A grande aposta do governo brasileiro para confiar em que seus parceiros da Alca querem continuar a negociar, apesar da oferta mínima feita pelo Mercosul em áreas como serviços, compras governamentais e investimentos, está dada pelo tamanho do mercado brasileiro, o maior da América Latina.
Não é uma aposta equivocada, a julgar pela posição do Chile, um dos países que fazem parte do G14, o grupo liderado pelos Estados Unidos e que se opõe ao Mercosul nas negociações da Área de Livre Comércio das Américas.
"Alca sem Mercosul não existe", afirma Osvaldo Rosales, chefe da delegação chilena.
Tanto não existe que Rosales trata de desfazer o que ele chama de "crueldade" de parte da mídia brasileira ao tratar o governo chileno como "aiatolá do livre comércio".
O vice-ministro do Chile diz que, meses antes da conferência ministerial de Miami (a que decidiu por uma "Alca light", ao gosto do Brasil, em que nem todos os temas precisassem ser negociados de forma igual por todos os parceiros), o presidente Ricardo Lagos já estava tentando uma "fórmula flexível que permitisse ao Mercosul tornar-se sócio pleno do processo".
Essa idéia foi levada, inclusive, a um café da manhã que Lagos promoveu durante a Cúpula Ibero-Americana de Santa Cruz de la Sierra, em novembro, com os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Néstor Kirchner (Argentina) e Vicente Fox (México).
Lula agradeceu a gestão, relata Rosales, o que é coerente com o fato de que o governo brasileiro jamais rechaçou a idéia da Alca. Quis apenas torná-la centrada no comércio tradicional (bens, agrícolas e não-agrícolas), em vez de ampliá-la para as chamadas áreas novas do comércio, como investimentos, compras governamentais etc.
Nessas outras áreas, ao contrário do que ocorre com a agrícola, o Brasil resiste a um acordo que liberalize demais o comércio.

Acordo Mercosul-Chile
Ainda assim, o governo chileno insiste em que seria importante ter o Mercosul nos acordos em torno dessas áreas novas.
Mas Rosales admite que, se for o caso, eles podem ser feitos apenas entre o Mercosul e o Chile, que, de resto, já é Estado associado ao Mercosul. "O chanceler Celso Amorim [ministro das Relações Exteriores do Brasil] já lançou essa idéia", conta o vice-ministro e principal negociador do Chile.
O contra-argumento é o de que acordos multilaterais em, por exemplo, investimentos, "reforçam a segurança jurídica para investidores em todo o hemisfério".
Tudo somado, o Chile, como um dos líderes do G14, ainda não soou o alarme a respeito de um fracasso em Puebla.
"Ainda há margem de otimismo de que possamos obter um documento que dê instruções aos grupos negociadores", afirmou. (CR)


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