São Paulo, terça-feira, 06 de fevereiro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

O Banco Central e os maquinistas

Indústria de máquinas e BC divergem sobre números da renovação do parque produtivo. Quem está certo?

UM dos números que o Banco Central utilizou para fundamentar sua avaliação de que a economia está em recuperação considerável foi o do consumo de bens de capital: máquinas, equipamentos e instalações produtivas. A indústria de máquinas, mais especificamente a Abimaq, discorda (a Abimaq é a Indústria de Máquinas e Equipamentos Mecânicos). A polêmica é boa, mas por outros motivos. BC e Abimaq tratam de indicadores diferentes.
O BC afirmou na última ata do Copom que a "produção e a absorção de bens de capital" sugerem alta "robusta" dos investimentos. A absorção doméstica de bens de capital é medida pelo consumo doméstico mais a importação de máquinas, descontada a exportação. Fechou o ano com alta de 9,2%.
Mas, nessa conta do BC, considera-se o consumo geral de bens de capital. Nas contas da Abimaq, o consumo aparente de máquinas caiu 0,6% no ano passado. Mas nesse número não entram bens como equipamentos para geração de energia, computadores e material de transporte. Isso quer dizer que a estatística da Abimaq é parcial e só reflete os problemas de um setor que vai mal, quando o contexto geral do investimento é positivo?
Não.
Embora o desempenho do investimento tenha sido o único francamente positivo do nível de atividade de 2006, o ano horrível da Abimaq indica problema sério na indústria.
O dado da Abimaq indica que os números gerais do investimento escondem o fato de a renovação das fábricas brasileiras não estar ocorrendo. Há investimentos em energia, material de transporte, instalações, construção civil. Mas parece não haver renovação fabril suficiente para incrementar a indústria, torná-la mais competitiva e, enfim, também capaz de enfrentar as dificuldades provocadas pelo real forte e pela enxurrada de manufaturas do complexo China-Ásia. Pior, o mau desempenho do setor de bens de capital-mecânico é reflexo do péssimo resultado de setores inteiros da indústria: bens intermediários (insumos industriais elaborados), têxteis, alguns plásticos, calçados, madeira etc.
Embora ainda ruim, o cenário da indústria, em especial de manufaturas básicas, ficou algo menos pior no último trimestre. O número de setores no vermelho, que em meados de 2006 se assemelhava ao de anos de recessão, diminuiu. Mas a curva de importação de bens industriais continua a disparar, enquanto a de exportações corcoveia entre o vermelho e pouco mais que zero.
Newton de Mello, presidente da Abimaq, atribui grande parte dos problemas ao câmbio, que encarece a produção local. Diz que um fator adicional de valorização do real foi a isenção de impostos dos ganhos de investidores estrangeiros que comprem dívida pública. Mas a polêmica do câmbio é outra história. Mas deve continuar: o dólar segue caindo.


vinit@uol.com.br

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