|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
O Banco Central e os maquinistas
Indústria de máquinas e BC divergem sobre números da renovação do parque produtivo. Quem está certo?
UM dos números que o Banco
Central utilizou para fundamentar sua avaliação de que a
economia está em recuperação considerável foi o do consumo de bens
de capital: máquinas, equipamentos
e instalações produtivas. A indústria
de máquinas, mais especificamente
a Abimaq, discorda (a Abimaq é a Indústria de Máquinas e Equipamentos Mecânicos). A polêmica é boa,
mas por outros motivos. BC e Abimaq tratam de indicadores diferentes.
O BC afirmou na última ata do Copom que a "produção e a absorção de
bens de capital" sugerem alta "robusta" dos investimentos. A absorção doméstica de bens de capital é
medida pelo consumo doméstico
mais a importação de máquinas, descontada a exportação. Fechou o ano
com alta de 9,2%.
Mas, nessa conta do BC, considera-se o consumo geral de bens de capital. Nas contas da Abimaq, o consumo aparente de máquinas caiu
0,6% no ano passado. Mas nesse número não entram bens como equipamentos para
geração de energia, computadores e
material de transporte. Isso quer dizer que a estatística da Abimaq é parcial e só reflete os problemas de um
setor que vai mal, quando o contexto
geral do investimento é positivo?
Não.
Embora o desempenho do investimento tenha sido o único francamente positivo do nível de atividade
de 2006, o ano horrível da Abimaq
indica problema sério na indústria.
O dado da Abimaq indica que os
números gerais do investimento escondem o fato de a renovação das fábricas brasileiras não estar ocorrendo. Há investimentos em energia,
material de transporte, instalações,
construção civil. Mas parece não haver renovação fabril suficiente para
incrementar a indústria, torná-la
mais competitiva e, enfim, também
capaz de enfrentar as dificuldades
provocadas pelo real forte e pela enxurrada de manufaturas do complexo China-Ásia.
Pior, o mau desempenho do setor
de bens de capital-mecânico é reflexo do péssimo resultado de setores
inteiros da indústria: bens intermediários (insumos industriais elaborados), têxteis, alguns plásticos, calçados, madeira etc.
Embora ainda ruim, o cenário da
indústria, em especial de manufaturas básicas, ficou algo menos pior no
último trimestre. O número de setores no vermelho, que em meados de
2006 se assemelhava ao de anos de
recessão, diminuiu. Mas a curva de
importação de bens industriais continua a disparar, enquanto a de exportações corcoveia entre o vermelho e pouco mais que zero.
Newton de Mello, presidente da
Abimaq, atribui grande parte dos
problemas ao câmbio, que encarece
a produção local. Diz que um fator
adicional de valorização do real foi a
isenção de impostos dos ganhos de
investidores estrangeiros que comprem dívida pública. Mas a polêmica
do câmbio é outra história. Mas deve
continuar: o dólar segue caindo.
vinit@uol.com.br
Texto Anterior: Mercado agora espera Selic 0,25 ponto menor no final de 2007, revela pesquisa Próximo Texto: Tesouro vai desviar recursos para a Caixa Índice
|