São Paulo, quarta-feira, 06 de fevereiro de 2008

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Setor onde o operador trabalhava não era visto como o de mais risco no banco

DA REUTERS

Um alerta de 30 palavras poderia ter salvado o Société Générale de um escândalo e das perdas bilionárias. O seu presidente do conselho, Daniel Bouton, deveria saber. Foi ele quem o escreveu.
Bouton é o principal autor da bíblia das regras corporativas francesas, em 2002, em que ele criticou os controles de riscos puramente movidos pelo mercado na esteira do escândalo contábil da companhia norte-americana Enron.
Agora o banco de Bouton, uma das maiores instituições financeiras da Europa, é acusado de fazer exatamente o mesmo: dar muita atenção a uma técnica que muitos consideram incompleta -e outros dizem que é falha- às custas do quadro mais amplo.
Resumindo, investigadores disseram que o banco checava se estava ganhando ou perdendo, mas ignorava quanto um corretor relativamente jovem, Jérôme Kerviel, 31, estava apostando.
O Ministério das Finanças da França ressaltou anteontem essa falha evidente, no primeiro dos seus três relatórios sobre a maior fraude financeira realizada por um corretor, em que o Société Générale teve um prejuízo de 4,9 bilhões.
Sob o comando de Bouton, o banco construiu a reputação de trabalhar com derivativos financeiros de alta complexidade. Com isso, ganhou vários prêmios do setor, mas a pergunta que é feita agora é agora é se cresceu rápido demais para os sistemas de controle conseguirem acompanhar.

Apostas
A ironia é que o setor em que Kerviel trabalhava não era considerado, entre os corretores, o de maior risco. Se havia um lugar em que apostas muito arriscadas deveriam se sobressair, era ali.
Análises iniciais do banco e de investigadores apontam que Kerviel escapou dos sistemas ao disfarçar a extensão da inoportuna aposta de 50 bilhões de que as ações européias iriam subir. Ele conseguiu fazer isso porque os sistemas do banco foram feitos para monitorar o tamanho da exposição num determinado período, sem levar em conta os negócios futuros.
Enquanto as suas apostas de que as ações iriam subir fossem confrontadas com outras de mesmo tamanho apostando na queda, a exposição residual à flutuação dos preços parecia pequena.
O banco disse que descobriu nos dias 19 e 20 de janeiro, um final de semana, que era fictício a maior parte do portfólio que deveria funcionar como salvaguarda. Isso deixou o Société Générale exposto a uma aposta errada, de tamanho e impulsividade que só poderiam ter origem entre seus corretores mais experientes e seu conselho.
Kerviel afirmou ontem que assumiria a sua parcela de responsabilidade pelo caso, mas que se recusava a sair como o "bode expiatório" do escândalo financeiro.


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