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Setor onde o operador trabalhava não era visto como o de mais risco no banco
DA REUTERS
Um alerta de 30 palavras poderia ter salvado o Société Générale de um escândalo e das
perdas bilionárias. O seu presidente do conselho, Daniel Bouton, deveria saber. Foi ele quem
o escreveu.
Bouton é o principal autor da
bíblia das regras corporativas
francesas, em 2002, em que ele
criticou os controles de riscos
puramente movidos pelo mercado na esteira do escândalo
contábil da companhia norte-americana Enron.
Agora o banco de Bouton,
uma das maiores instituições
financeiras da Europa, é acusado de fazer exatamente o mesmo: dar muita atenção a uma
técnica que muitos consideram
incompleta -e outros dizem
que é falha- às custas do quadro mais amplo.
Resumindo, investigadores
disseram que o banco checava
se estava ganhando ou perdendo, mas ignorava quanto um
corretor relativamente jovem,
Jérôme Kerviel, 31, estava
apostando.
O Ministério das Finanças da
França ressaltou anteontem
essa falha evidente, no primeiro dos seus três relatórios sobre
a maior fraude financeira realizada por um corretor, em que o
Société Générale teve um prejuízo de 4,9 bilhões.
Sob o comando de Bouton, o
banco construiu a reputação de
trabalhar com derivativos financeiros de alta complexidade. Com isso, ganhou vários
prêmios do setor, mas a pergunta que é feita agora é agora
é se cresceu rápido demais para
os sistemas de controle conseguirem acompanhar.
Apostas
A ironia é que o setor em que
Kerviel trabalhava não era considerado, entre os corretores, o
de maior risco. Se havia um lugar em que apostas muito arriscadas deveriam se sobressair,
era ali.
Análises iniciais do banco e
de investigadores apontam que
Kerviel escapou dos sistemas
ao disfarçar a extensão da inoportuna aposta de 50 bilhões
de que as ações européias iriam
subir. Ele conseguiu fazer isso
porque os sistemas do banco
foram feitos para monitorar o
tamanho da exposição num determinado período, sem levar
em conta os negócios futuros.
Enquanto as suas apostas de
que as ações iriam subir fossem
confrontadas com outras de
mesmo tamanho apostando na
queda, a exposição residual à
flutuação dos preços parecia
pequena.
O banco disse que descobriu
nos dias 19 e 20 de janeiro, um
final de semana, que era fictício
a maior parte do portfólio que
deveria funcionar como salvaguarda. Isso deixou o Société
Générale exposto a uma aposta
errada, de tamanho e impulsividade que só poderiam ter origem entre seus corretores mais
experientes e seu conselho.
Kerviel afirmou ontem que
assumiria a sua parcela de responsabilidade pelo caso, mas
que se recusava a sair como o
"bode expiatório" do escândalo
financeiro.
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