|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Disputa pelos investidores externos fica mais acirrada
Crise reduz liquidez global e alguns bancos não recomendam investir no Brasil
Após a Bovespa ter um
dos melhores desempenhos entre as Bolsas em 2007, alguns analistas consideram que preço de ações está alto
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise nos mercados tornou
escasso o dinheiro para países
como o Brasil. Disputado, esse
capital agora encontra concorrentes à altura em outros emergentes - como Rússia, Hungria, Polônia e África do Sul,
vistos hoje como mais baratos- ou mesmo nos mercados
maduros, que tiveram suas
ações e dívidas desvalorizados
nas últimas semanas.
Depois que a Bovespa subiu
43,65% em 2007, um dos melhores resultados entre as principais Bolsas, as ações brasileiras deixaram de ser vistas como
pechincha, mas não há consenso se estão caras ou não.
Para os analistas que afirmam que os papéis brasileiros
estão com um preço alto, uma
evidência seria o chamado P/L
-divisão do preço pelo lucro de
uma empresa. A conta indica
quanto tempo o investidor deve esperar para receber de volta
o dinheiro aplicado -quanto
maior o tempo, mais caro é o investimento. No caso da Bovespa, essa relação estava na sexta
passada em 14,21, segundo a
Bloomberg. Ou seja, para recuperar o capital colocado na Bolsa, o investidor deveria esperar
o lucro de 14,21 trimestres.
Entre os países com empresas "mais caras" estão todos os
emergentes asiáticos, que crescem acima de 6% ao ano desde
o início da década. As ações listadas na Bolsa de Xangai tinham um P/L conjunto de
39,13 na sexta passada, seguido
por Índia (24,76), Tailândia
(18,96) e Coréia do Sul (15,07).
Já a Europa oriental tem papéis mais baratos que o Brasil,
como Hungria (12,02), Polônia
(11,93) e Rússia (11,42). A África
do Sul também aparece como
oportunidade, com 11,66.
"Toda vez que o mundo fica
mais pobre, o dinheiro fica
mais escasso e mais seletivo. O
Brasil deixou de ser barato, mas
Ásia e Oriente Médio estão caros. Não está claro que diminuirá a liquidez para o Brasil.
Na crise, o risco-país aumentou
menos do que o dos demais
emergentes", disse Paulo Tenani, chefe de pesquisa para América Latina do banco suíço UBS.
"O Brasil continua sendo
atrativo porque tem maior potencial de crescimento. A maior
parte da economia da África do
Sul está na mineração, muito
dependente do crescimento
mundial. A Europa do leste tem
crescimento baixo e mercados
[consumidores] pequenos",
disse Luiz Ribeiro, gestor de
fundos do HSBC.
Os bancos americanos Citibank e JP Morgan reduziram
suas expectativas de valorização para ações no Brasil na semana passada. O Citi cortou
sua previsão para o Ibovespa no
final do ano de 80 mil para 67
mil pontos, sendo que poderia
descer a 50 mil em caso de recessão nos EUA.
Sem citar o Brasil, o UBS disse que as ações de países emergentes podem recuar mais 12%
devido à piora nas perspectivas
de lucro. Para o UBS, as poucas
oportunidades nos emergentes
estão em Israel, Rússia, Taiwan, Polônia e México.
Para Fernando Exel, presidente da consultoria Economática, o Brasil pode ter um P/L
alto, da mesma forma que o governo conseguiu reduzir os juros para 11,25% ao ano. "Eu me
recuso a dizer que todos estão
pagando caro pelas empresas
[da Bovespa]. Na calculadora, o
prêmio de risco é taxa de juro.
Se o juro está mais baixo, o risco [de todo o sistema] está baixo. A mudança talvez seja histórica e tão especial quanto é a
taxa de juro brasileira nunca
ter sido tão baixa", disse.
Ricardo Amorim, diretor de
análise de países emergentes
do West LB, afirma que o estrangeiro lucra com o Brasil
tanto com a valorização das
ações quando com o câmbio
após trazer dinheiro ao país. "O
Brasil é uma aposta de risco e
de retorno mais alto. Quando a
coisa anda bem, você ganha
mais. Quando vai mal, você perde muito", disse.
Conhecido como um dos
mais pessimistas no mercado, o
economista Marcelo Ribeiro,
da Pentágono Asset, teme que o
corte agressivo nos juros americanos estimule a entrada de
dinheiro nos EUA, levando a
uma valorização do dólar e das
ações americanas.
"Não faz sentido o Brasil ter
se beneficiado tanto do crescimento global nos últimos anos
e agora se descolar do mundo.
O Brasil vai perder na mesma
proporção com que ganhou.
Podemos ter o mercado acionário americano subindo, e os
emergentes, Brasil incluído,
caindo. Será o descolamento
reverso", disse, referindo-se à
tese do "descolamento", em
que os países emergentes seriam pouco prejudicados pela
desaceleração nos EUA.
Para Fabio Akira, economista do JP Morgan, o comportamento do câmbio mostra que o
fluxo de dinheiro para o Brasil
deve seguir firme, apesar de ter
desacelerado para novos IPOs
[oferta inicial de ações] e papéis
de maior risco. "No caso dos
IPOs, sobraram só empresas
menores, de pouco interesse.
Continuo otimista em relação
aos fundamentos da economia
brasileira. Pode ter havido algum exagero [na Bolsa], mas o
fluxo deve continuar alto."
Texto Anterior: Tecnologia: Microsoft pode ter que financiar compra de Yahoo! Próximo Texto: Empresas brasileiras têm ações mais caras Índice
|