São Paulo, quarta-feira, 06 de fevereiro de 2008

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Empresa usa mais recursos para expansão

MAELI PRADO
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O destino dos recursos captados pelas empresas por meio da emissão de ações sofreu uma mudança importante de 2006 para 2007. Um dos destaques é o menor montante destinado à redução de passivo, que foi de 31,3% do total em 2006 para 9,7% no ano passado. Outro é a elevação da parcela dirigida a atividades operacionais e de infra-estrutura, que cresceu de 25,4% para 33,7% no período.
Esses dados, levantados pela Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), se referem às emissões primárias de ações (que ocorrem nas aberturas de capital), que alcançaram R$ 39,8 bilhões em 2007 -aumento de 139,8% diante do ano anterior.
Outra mudança relevante foi a da parcela destinada ao capital de giro -que serve para suprir necessidades de recursos para operações corriqueiras, como comprar e vender mercadorias. O segmento ficou com 22% do capital levantado em 2007, contra 11,3% em 2006.
Para Luiz Fernando Resende, vice-presidente da Anbid, o aumento do capital de giro como destinação dos recursos captados com IPOs pode ser explicado pela queda dos recursos destinados à redução de passivo. "Como as empresas destinaram menos recursos para reduzir seus passivos em 2007, mais recursos foram para capital de giro. Provavelmente isso aconteceu porque em 2006 elas já haviam captado para reduzir suas dívidas", afirmou.
Em 2006, a parcela destinada à redução de passivo (31,3% do total) teve a maior participação. Em 2007, a liderança ficou com as atividades operacionais e de infra-estrutura (33,7% do total). As atividades operacionais são as principais geradoras de receita das empresas.
Para Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating, o aumento dos recursos destinados a atividades operacionais pode ser explicado pelo bom momento da economia, que estimulou as empresas a investirem em sua atividade. "A economia deve ter crescido mais de 5% em 2007 e em 2008 mais 4,5%. Isso incentiva as empresas a investirem em seu próprio negócio, na sua atividade operacional. É fruto da alavancagem do crescimento", afirma.
Quando se analisa a destinação dos recursos captados com debêntures, os destaques são a elevação dos recursos para capital de giro -que sobem de 42% para 65,5% entre 2006 e 2007- e a maior participação do alongamento de dívidas como destino final. O alongamento de dívidas com dinheiro captado via emissão de debêntures cresceu de 11%, em 2006, para 24,1% no ano passado.
As debêntures são títulos que as empresas lançam para captar recursos no mercado de capitais, sendo na história recente a forma mais procurada de emissão. Esses títulos pagam juros e vencem após determinado prazo, podendo ser resgatados. Como a taxa básica Selic sofreu reduções ao longo de 2007, o custo para se captar por meio de debêntures recuou em relação ao ano anterior.
"O perfil mudou. As empresas reestruturaram seu passivo, saindo do curto prazo para o longo prazo, e renegociaram as taxas de juros. Ou seja, alongaram o prazo com taxas menores", afirma Rodrigues.
As companhias captaram R$ 46,5 bilhões por meio da emissão de debêntures em 2007.
Este ano começou bastante turbulento para os mercados financeiros mundiais. E o Brasil não conseguiu se isolar. Nesse cenário adverso, as empresas nacionais têm preferido, em muitos casos, adiar emissões de ações e debêntures que já tinham planejado.
A Duke Energy International Geração Paranapanema, por exemplo, decidiu suspender, há duas semanas, a emissão de debêntures que havia planejado devido ao cenário turbulento. A empresa pretendia captar R$ 750 milhões com os títulos.
No caso dos IPOs (oferta inicial de ações), que totalizaram 64 operações em 2007, ainda não houve nenhuma neste ano.
Luiz Antonio Vaz das Neves, da KNA Consultores, diz acreditar que o número de IPOs será muito menor neste ano. "As companhias estão mais relutantes e têm se deparado com um cenário mais complicado para conseguir emitir ações. Muita gente que conseguiu lançar ações no ano passado teria dificuldades maiores se decidisse fazer isso neste ano", diz.
Até o momento, há 28 pedidos de lançamentos de ações parados na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), à espera de serem liberados e de uma melhora no humor do mercado. Ver seu IPO fracassar, com baixa procura, é ruim para uma companhia não só por frustrar seus projetos, mas também por sinalizar que a empresa não despertou interesse em seus potenciais investidores.
Segundo Resende, da Anbid, neste ano as empresas devem usar mais a emissão de debêntures para alavancar seus negócios. "Vivemos uma crise mundial, a volatilidade é muito grande nas Bolsas, e é mais difícil realizar emissão de ações."


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