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VIZINHO EM CRISE
Suprema Corte considera inconstitucional medida que convertia os depósitos e dívidas feitas em dólar
Justiça da Argentina "barra" pesificação
MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES
A Justiça argentina decidiu ontem que a pesificação -medida
que converteu para pesos os depósitos bancários e dívidas antes
denominados em dólares- é inconstitucional.
A decisão abre caminho para
que milhares de correntistas exijam que os bancos devolvam suas
aplicações, hoje denominadas em
pesos e congeladas nas instituições bancárias, em dólares. Analistas prevêem uma onda de ações
que devem custar ao governo
mais de US$ 10 bilhões.
Ontem, a Suprema Corte ordenou que o Banco Nación devolva
à Província de San Luis um depósito de US$ 247 milhões. O depósito estava congelado e havia sido
convertido, como ocorreu com
todos os recursos colocados nos
bancos, para pesos.
Desde a pesificação, em janeiro
do ano passado, a moeda argentina perdeu 70% do seu valor em
relação ao dólar. Porém a medida
do governo estabeleceu que cada
dólar passaria a valer 1,40 peso.
Esse mecanismo de indexação
dos depósitos não era fixo. Hoje
cada dólar depositado em janeiro
de 2002 vale cerca de 2 pesos, com
correção. Mas a decisão de ontem
obriga o Banco Nación a devolver
o depósito de acordo com a cotação do dólar atual (no mercado livre), de cerca de 3,20 pesos por
dólar. Ou seja, uma diferença de
1,20 peso a cada dólar que estava
depositado e que foi pesificado.
Os bancos afirmam que não
têm como devolver os dólares.
Enquanto o governo pesificou os
depósitos a 1,40 peso por dólar, as
dívidas dos argentinos com os
bancos foram pesificadas a 1 peso
por dólar. A medida causou desequilíbrios nos bancos, que afirmam não ter como devolver os
depósitos com o dólar atual.
As instituições financeiras negociam com o governo alguma
compensação. As estimativas são
que a redolarização possa custar
ao governo algo entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões.
Repercussão
Para o líder da associação de
correntistas, o ator e comediante
Nito Artanza, a decisão "respeita
a estabilidade jurídica e reafirma
que a propriedade é inviolável".
O ministro da Economia, Roberto Lavagna, disse que a decisão
não terá impactos na economia
argentina. "Não muda nada." Ele
afirmou que a decisão é muito especifica, que trata só de um caso e
que o Banco Nación terá "dois
meses para chegar a um acordo".
No mercado financeiro, a reação à decisão, anunciada no início
da tarde, foi moderada: a Bolsa fechou em queda de 0,2% e a cotação do dólar se manteve estável.
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