|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMÉRCIO BILATERAL
Bloco do Sul propõe abertura de 83,5% para vendas da UE
Mercosul amplia oferta aos europeus
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O Mercosul ofereceu ontem à
União Européia reduzir a zero as
tarifas de importação para 83,5%
de tudo o que bloco europeu exportou para o conglomerado sul-americano na média do período
1998-2000. É uma oferta bem acima que os 33,1% propostos no
ano passado, mas os números
têm que ser relativizados.
Apenas 9,6% de tudo o que os
europeus exportaram no período
98-2000 será liberalizado de imediato. O restante fica com tarifa
zero em um período de até dez
anos, sem contar os chamados
itens sensíveis em que a liberalização se alongará além desse prazo.
Já os europeus haviam proposto
liberalizar, de saída, 62% de tudo
o que importaram do Mercosul.
Além disso, a proposta do Mercosul começa com uma lista de
condicionalidades, entre elas a explicitação de que se trata de uma
"oferta tentativa". É a maneira diplomática de dizer que o Mercosul só confirmará sua proposta se
a UE colocar na mesa de negociação os setores de agronegócio de
interesse do bloco sul-americano.
Apesar das condicionalidades,
os negociadores europeus reagiram de forma positiva, mais positiva, aliás, do que esperavam seus
parceiros do Brasil e do Mercosul.
"Com o movimento de hoje, a
área de livre comércio entre a
União Européia e o Mercosul está
um passo mais próxima", disse,
por exemplo, Pascal Lamy, comissário (espécie de ministro) europeu para o Comércio.
Reforçou seu colega Chris Patten, responsável pelas Relações
Externas da UE: "Esse passo mostra a clara determinação de ambos os lados em fazer dessas negociações um sucesso".
A proposta européia continua
sendo mais suculenta do que a do
Mercosul, se a comparação for exclusivamente com o volume de
comércio entre as partes.
A UE ofereceu eliminar as tarifas para 91% de tudo o que o Mercosul vendeu ao bloco europeu no
período que está sendo usado para a negociação (1998-2000).
Acontece que os negociadores
brasileiros dizem que o problema
com a Europa não é tanto de tarifas, mas de barreiras não-tarifárias (cotas, restrições técnicas ou
fitossanitárias e assim por diante).
Os 91% oferecidos pelos europeus
significariam apenas uns 35% de
abertura adicional do mercado
dos 15 países europeus.
A negociação UE-Mercosul começou no governo Fernando
Henrique Cardoso, durante o
qual se deu a primeira rodada de
propostas de parte a parte. Agora,
entra na segunda fase, a de ofertas
revistas e melhoradas.
Está portanto um passo adiante
da Alca (Área de Livre Comércio
das Américas, prevista para englobar os 34 países americanos,
menos Cuba). A Alca só no mês
passado chegou ao estágio das
ofertas iniciais.
Em ambas as negociações, o governo Luiz Inácio Lula da Silva introduziu uma novidade em relação a seu antecessor: a chamada
"cláusula de indústria nascente".
O Itamaraty prefere manter em
sigilo a formulação exata da cláusula em ambas as propostas. A
teoria a respeito diz que um país
se reserva o direito de proteger,
com tarifas de importação elevadas, um determinado setor industrial que está começando a se implantar, respeitados certos parâmetros internacionais.
No mais, no entanto, a segunda
proposta aos europeus mantém
as linhas gerais da política anterior. Além de condicionar a sua
oferta a uma genuína abertura
agrícola européia, o Mercosul cobra um equilíbrio geral no desenho do acordo. É o jargão diplomático para dizer que não basta,
por exemplo, que a oferta industrial européia seja parecida com a
do Mercosul.
É preciso que, somados todos os
setores, a liberalização seja equilibrada, outra maneira de dizer que
ou a Europa reduz seu protecionismo agrícola ou a negociação
não caminhará.
O Mercosul pede também, como já vinha fazendo antes, um
"tratamento assimétrico". Ou seja, a parte mais pobre e, portanto,
mais vulnerável, que é o bloco do
Sul, deveria ter o direito de fazer a
liberalização de uma forma mais
pausada que os mais fortes, que
são os europeus.
A próxima etapa da negociação
será a reunião do Comitê de Negociação Bilateral, que deverá
ocorrer de 17 a 21 deste mês, em
Bruxelas.
Trata-se da instância técnica
mais alta, que deverá preparar um
esboço do acordo completo, a ser
debatido na reunião ministerial
prevista para o segundo semestre.
Essa é, pelo menos, a expectativa européia.
Do lado brasileiro, o chanceler
Celso Amorim, que não havia visto até a noite de ontem a nova
oferta européia, avançar nesse esboço depende de a União Européia "oferecer uma real liberalização de produtos de nosso interesse, sobretudo na área agrícola".
Texto Anterior: Opinião econômica: União Européia e Alca Próximo Texto: Panorâmica - Celulares: América Móvil fecha compra da brasileira BSE Índice
|