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LUÍS NASSIF
O caminho da TV digital
O brasil tem que anunciar
a intenção de fazer o seu
padrão de TV digital, capacitar
técnicos para isso, mas não cometer a imprudência de sair da
intenção para os atos. A proposta de montar o padrão brasileiro de TV digital deve ser um
meio para alcançar um objetivo
de longo prazo muito mais relevante: tornar o país parceiro no
desenvolvimento de propriedade intelectual e softwares para o
próximo padrão de TV digital
escolhido, seja ele o norte-americano, o europeu ou o japonês.
Em um país que jamais pensou em estratégias de desenvolvimento de longo prazo, é conveniente que o ministro das Comunicações, Miro Teixeira,
preste atenção na proposta. Sua
implementação exigirá uma estratégia concertada dentro do
governo Lula e poderá se constituir na primeira tentativa bem-sucedida de colocar o país em linha com o estado da arte da
tecnologia mundial.
Essa proposta de definição da
estratégia de implantação da
TV digital foi desenvolvida por
especialistas do Cesar (Centro
de Estudos e Sistemas Avançados de Recife), uma ONG sem
fins lucrativos que se transformou na mais bem-sucedida experiência de integração das pesquisas acadêmicas em informática ao mercado, tornando a
Universidade Federal de Pernambuco um dos pólos de excelência na área de computação.
Para eles, o processo é mais importante do que o resultado
imediato. Seja qual for o padrão, a proposta é absorver agora o conhecimento para embarcar na próxima geração de TV
digital.
O Brasil não possui nenhuma
condição, nem técnica nem financeira, de desenvolver um
padrão de TV digital capaz de
concorrer com os três existentes.
O país não dispõe sequer de pessoal para integrar os comitês de
padronização tecnológica na
área de telecomunicações ou de
software.
No entanto, com seus 60 milhões de televisores, o Brasil é
um mercado relevante. Se eventualmente vier a se associar à
China e à Índia na definição de
um padrão, tornar-se-á mais
relevante ainda.
O primeiro passo será anunciar a intenção de criar um padrão próprio e investir na capacitação dos técnicos brasileiros.
Não se perde nada. Essa capacitação será fundamental para
nossos técnicos estarem aptos a
dominar o padrão a ser adotado, seja qual for ele.
Com a ameaça de criação de
um padrão próprio, mais a capacitação de técnicos resultante
desse desenvolvimento, o país
teria condições de entrar na
mesa de negociações com os três
padrões existentes, apresentando uma proposta de largo espectro. Seria adotado o padrão
capaz de permitir ao Brasil tornar-se parceiro no desenvolvimento de software da próxima
geração de TV digital daquele
padrão.
Nas negociações, se exigiria
do padrão vencedor a instalação de centros de desenvolvimento no país, com a formação
de engenheiros brasileiros, a inclusão de empresas e da universidade no desenvolvimento do
próximo padrão.
Os técnicos do Cesar consideraram perigosa qualquer tentativa do país de colocar o interesse no hardware (o aparelho de
TV) à frente do software (os
programas que serão desenvolvidos). Seria reeditar os erros da
reserva de mercado da informática, que privilegiou as máquinas e jogou para segundo
plano a vocação brasileira de
software.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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