São Paulo, sábado, 06 de março de 2010

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MARTIN FELDSTEIN

Até que ponto seus dólares estão seguros?



Mesmo que o dólar esteja perfeitamente seguro, é aconselhável que o investidor diversifique suas carteiras

AS AUTORIDADES chinesas e investidores privados de todo o mundo estão expressando preocupações quanto à segurança de seus investimentos em dólar.
Porque o governo chinês mantém boa parte de seus US$ 2 trilhões de reservas cambiais em instrumentos denominados em dólares, há bons motivos para que se preocupe com o valor futuro da moeda dos EUA. E investidores com posições menores em dólar, que podem trocá-las por outras moedas com muito mais rapidez do que os chineses, têm razão em perguntar se não seria mais seguro diversificar suas carteiras com ativos não denominados em dólares -ou se não deveriam até abandonar de vez a moeda norte-americana.
O medo quanto ao futuro do dólar é alimentado por preocupações diferentes, mas correlatas. Será que o valor do dólar manterá sua longa tendência de queda ante outras moedas? Será que a enorme elevação na dívida do governo dos EUA projetada para os próximos dez anos conduzirá a uma onda de inflação ou até a uma moratória? Será que o crescimento explosivo nas reservas excedentes dos bancos comerciais causará rápida inflação à medida que a economia se recupere?
Mas, embora haja muitas causas de preocupação, é seguro afirmar que esses temores são exagerados. Comecemos pelos mais provável dos desdobramentos negativos: uma queda no dólar com relação a outras moedas. Mesmo depois da recente alta do dólar ante o euro, seu valor (ponderado pelo comércio internacional) caiu 15% diante de uma cesta ampla de grandes divisas, ante a situação existente dez anos atrás; a queda atinge os 30% ante as cotações vigentes 25 anos atrás.
Ainda que ocasionais surtos de nervosismo nos mercados financeiros mundiais causem alta do dólar, minha expectativa é que ele continue a cair ante o euro, o iene e até mesmo o yuan. O declínio do dólar é necessário para reduzir o grande deficit comercial dos EUA.
Considere o que um declínio do dólar ante o yuan significaria para os chineses. Se a China hoje detém US$ 1 trilhão, uma alta de 10% na taxa de câmbio entre o yuan e o dólar reduziria em 10% o valor em yuan desses ativos. Isso representa prejuízo contábil, mas não altera o valor dos bens americanos ou dos investimentos nos EUA que os chineses poderiam fazer com seus trilhões de dólares.
Mas o grande risco para qualquer investidor é a possibilidade de que a inflação virtualmente aniquile o valor de uma moeda. Isso não vai acontecer nos EUA. Grandes deficit orçamentários resultaram em inflação alta em países que se veem forçados a criar dinheiro para cobrir esses deficit porque não são capazes de vender títulos públicos de longo prazo.
Esse risco não existe para os EUA. A inflação, na verdade, caiu no país durante o começo dos anos 1980, a última ocasião em que o país experimentou deficit fiscais avantajados.
O presidente do Fed, Ben Bernanke está determinados a manter a inflação baixa, à medida que a economia se recupera. O BC americano explicou que venderá os títulos hipotecários que agora detém em seu balanço, absorvendo liquidez.
Quanto ao futuro mais distante, os investidores podem se proteger contra a inflação nos EUA adquirindo títulos do Tesouro protegidos contra a inflação.
Assim, a boa notícia é que os investimentos em dólar estão seguros. Mas isso não faz deles o investimento com o retorno seguro mais alto. Caso seja provável que o dólar caia ante o euro nos próximos anos, investir em títulos denominados na moeda europeia poderia oferecer retornos seguros mais elevados.
Mesmo que o dólar esteja perfeitamente seguro, é aconselhável que os investidores diversifiquem suas carteiras.


MARTIN FELDSTEIN , professor de economia na Universidade Harvard, foi presidente do Conselho de Assessoria Econômica da Casa Branca e do Serviço Nacional de Pesquisa Econômica no governo Reagan. Este artigo foi originalmente distribuído pelo Project Syndicate.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Excepcionalmente, hoje, a coluna de CESAR BENJAMIN não é publicada.


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