São Paulo, sábado, 06 de março de 2010

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Alemanha diz que Grécia não precisa de dinheiro agora

Gregos não pediram ajuda financeira, diz a chanceler Angela Merkel; Parlamento aprova pacote que economizará 4,8 bi

Medidas do pacote preveem congelamento de pensões, redução do 13º e do 14º salários de servidores e mais imposto sobre mercadorias

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

Enquanto a tensão subia nas ruas de Atenas, Berlim tratou de jogar água fria na eventual expectativa por um resgate financeiro imediato à Grécia. Em vez disso, ao receber o premiê grego, a chanceler Angela Merkel renovou seu apoio político a George Papandreou.
"A Grécia não nos pediu ajuda financeira", disse Merkel após a reunião, em entrevista coletiva citada por agências de notícias. "A zona do euro está estável no momento. Não podemos prever cenários para os próximos dez anos, mas a questão não se colocou hoje, e trabalhamos para que não se coloque no futuro. Estou otimista."
A Alemanha é o país mais rico da Europa e visto, assim, como provável origem de um socorro financeiro, já que o estatuto da moeda comum veta um pacote nos moldes tradicionais do Banco Central Europeu. Mas a rejeição da população é alta, com eco na mídia alemã.
Papandreou chegou a declarar que não queria "um centavo" do contribuinte alemão e repisou que o que precisava era do compromisso de que Atenas não ficaria na mão se precisasse de crédito para rolar sua dívida, hoje maior do que o PIB.
Em troca, prometeu um rigoroso ajuste fiscal e cortar seu deficit orçamentário de 12,7% do PIB para 2,8% até 2013.
Anunciou três pacotes em cinco meses. O mais drástico deles foi chancelado ontem pelo Parlamento e prevê congelar pensões, subir o imposto sobre mercadorias e reduzir o 13º e o 14º salários dos servidores públicos, entre outras coisas, economizando 4,8 bilhões.
As medidas ressoaram bem fora do país. Arrancaram elogios da União Europeia e aplausos do mercado, que acorreu com uma demanda três vezes acima da oferta de 5 bilhões em títulos gregos de dez anos emitidos anteontem.
Pela primeira vez desde o início da crise, o ágio sobre os papéis recuou, embora pouco. Atenas ganhou fôlego, e a avaliação geral em relatórios de bancos internacionais é que os gregos podem respirar com mais tranquilidade nas próximas rolagens -cerca de 23 bilhões entre abril e maio.
O banco JPMorgan-Chase afirma, por exemplo, que apenas o apoio político da UE, por ora, pode ser suficiente. E é só o que há por enquanto.
Pela manhã, Papandreou se reuniu em Luxemburgo com Jean-Claude Juncker, que preside o grupo do euro. O saldo foi o mesmo de Berlim: "Não acho que uma ação será necessária", afirmou Juncker, segundo o "Financial Times".
Amanhã, Papandreou segue para Paris, e terça, para Washington, onde será recebido por Barack Obama. Apesar do discurso de que não precisa de dinheiro agora, o governo grego cobra o compromisso e se diz pronto para procurar o FMI se a UE faltar na hora H.
Juncker ecoou o BCE e rejeitou a ideia, dizendo que o problema "é da zona do euro e na zona do euro deve ser resolvido". "Precisamos é de assistência técnica do FMI, mas eles não devem tomar a dianteira."
Já o efeito doméstico das medidas -que, no fim das contas, determinará sua viabilidade- ainda é dúbio. Há apoio na mídia e nas pesquisas, mas centenas protestaram ontem no centro de Atenas em ato que descambou para a pancadaria entre manifestantes e a polícia.
O maior sindicato do país, o GSEE, apoia Papandreou, mas critica a UE pelo excesso de rigor com Atenas. Ontem, a entidade convocou outra greve geral para o dia 11 para protestar contra o arrocho que, diz, atinge os setores mais vulneráveis.


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