|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUíS NASSIF
O câmbio e a lógica Tostines
De um ex-ministro da Fazenda, defensor da antiga política
cambial, em artigo desta semana: "Os defensores da desvalorização já fizeram seu "hedge"
particular. Armaram-se de argumentos para condenar o governo, se a mudança de câmbio
der errado. Dirão que houve demora na decisão, que os juros ficaram altos, que o BC operou
mal".
Da coluna de 25/09/98: "As
contra-indicações (da liberação
cambial) residem no risco de
mexer no câmbio e perder o
controle. Se as mudanças forem
feitas de maneira atabalhoada,
provocarão uma corrida contra
o real, que poderá se desvalorizar muito mais do que o governo planejar. (...) O que os defensores da mudança cambial alegam é que a primeira estratégia
(manter a política cambial anterior) não tem futuro. E, quanto mais se demorar para encarar a questão cambial (que consideram inevitável), maior será
o risco da mudança".
Ou seja, desde sempre, analistas do porte de Delfim Netto
alertavam que, quanto mais se
demorasse, maiores seriam os
riscos da liberação cambial.
Não se trata de engenharia de
obras feitas -ditas agora-,
mas de alertas feitos na época,
antes do desastre.
Não significa que a liberação
cambial já fracassou. Significa
que a demora em implementá-la e a inércia do BC tornaram as
condições mais difíceis -como
um paciente que espera pegar
pneumonia para se submeter a
um tratamento. E a demora se
deveu àqueles que, contra todas
as evidências, apostavam que a
política cambial anterior seria
auto-sustentável -não aos
que, sabendo que as mudanças
eram inevitáveis, propunham
antecipá-las.
Do mesmo ex-ministro, em
19/09/98: "O erro do governo
não pode ser encontrado na política cambial nem na aceleração da abertura da economia,
mas na avaliação insuficiente
sobre as dificuldades institucionais e políticas em relação à reforma do Estado e à reconstrução do regime fiscal e tributário".
Ou seja, em setembro do ano
passado o ex-ministro dava como passado em julgado que o
ritmo das reformas foi insuficiente para a política cambial
adotada. Recentemente, publicou novamente um belo artigo
-toda vez que ele escreve dá
repercussão-, demonstrando
que os cortes fiscais exigidos pelo FMI não seriam factíveis, dada a rigidez do Orçamento brasileiro. Ao mesmo tempo em
que sustentava que as condições para a manutenção da política cambial anterior não
mais existiam, o brilhante cultivador da lógica aristotélica
defendia a manutenção da política cambial anterior -que
dependia de condições que ele
mesmo admitia que não existiam. Entendeu? Nem eu. É a
chamada lógica circular Tostines.
Ninguém mais está cobrando
os erros de análise cometidos
pelos defensores da política
cambial anterior, porque deles
esse "deus ex-machina" -o
mercado- incumbe-se. Mas
que tal um pouco de semancol e
parar de ficar torcendo pelo desastre completo -apenas para
arrumar um álibi para si próprio- e começar a olhar maduramente para a frente?
Aviação
A Transbrasil ganhou centenas de milhões de dólares da
União, acusando-a de fixar tarifas abaixo do seu custo. Praticamente todas as companhias
aéreas -com exceção de
uma- estão operando sem pagar um tostão de impostos.
Por isso mesmo não tem cabimento a pressão que está sendo
exercida sobre honestos oficiais
da Aeronáutica, para que o Departamento de Aviação Civil
(DAC) considere dólar de R$
1,70 para o cálculo das passagens aéreas internacionais.
Significa o seguinte: vende-se
uma passagem internacional
por, digamos, R$ 3.000. Com o
dólar a US$ 2, o pagamento será convertido em US$ 1.500.
Com o dólar a R$ 1,70, a conversão renderá US$ 1.765,00.
Como os acordos aéreos exigem reciprocidade, significará
um enorme subsídio dado a todas as companhias estrangeiras
e nacionais.
E-mail: lnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Criação & consumo - Marcelo Pires: Filtro 100 ou sem filtro? Próximo Texto: Negociações com FMI são concluídas Índice
|