São Paulo, Sábado, 06 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRABALHO
Central quer reajuste salarial se a inflação atingir 10% ao ano; Paulinho diz que reivindica até "na marra"
Força quer reposição automática da inflação

MAURICIO ESPOSITO
da Reportagem Local

A Força Sindical, tradicional aliada do governo federal, vai reivindicar reposição salarial integral automática assim que a taxa de inflação atingir 10% ao ano, justamente o que a equipe econômica tenta evitar a todo custo.
O governo quer impedir a indexação salarial, alegando que alimentaria a inflação e indexaria a economia do país.
Os trabalhadores, entretanto, estão cada vez mais dispostos a reivindicar mecanismos de proteção do poder de compra dos salários.
A defesa da reposição integral pela Força Sindical, anunciada ontem, dá mais força à bandeira da indexação dos salários, já defendida pela CUT (Central Única dos Trabalhadores).
O novo presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, afirma que dará uma trégua ao governo até que a inflação atinja o patamar estabelecido.
Se a taxa superar os 10%, a central vai reivindicar a reposição integral e automática "na boa ou na marra", disse Paulinho.
"Faremos greve e manifestações. O salário não vai poder servir de âncora do Plano Real", acrescentou o dirigente.
A Força Sindical é a segunda maior central de sindicatos do país e representa atualmente 6,9 milhões de trabalhadores. São 872 sindicatos, concentrados na indústria e comércio.
Paulinho, que também é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, afirma que sua categoria deve ser uma das primeiras a reivindicar a reposição automática de 10% da inflação.
O dirigente afirmou que, entre a data-base, em novembro, e o mês passado, a taxa de inflação já está acumulada em 2,5%.
"Pelos índices que estão surgindo, teremos 10% de taxa de inflação anual já em maio", calculou o presidente da Força.

Sem acordo
A rival CUT deve definir na próxima semana a orientação que passará a seus sindicatos em relação à questão salarial, na próxima reunião da Executiva Nacional.
A central representa mais de 2.000 sindicatos, abrangendo um universo de aproximadamente 18 milhões de trabalhadores.
O secretário-geral da entidade, João Felício, afirma que a discussão sobre política salarial, que norteia a ação dos sindicatos filiados, vai passar pela definição de mecanismos de reposição imediata dos salários em caso de inflação alta.
Se o mecanismo será de reposição automática mensal ou semestral, somente a intensidade da taxa de inflação poderá dizer, afirma o dirigente.
O primeiro passo da discussão sobre reposição salarial dentro da CUT será o índice a ser reivindicado para reajustar o salário mínimo, em maio.
Na sua opinião, o índice de reajuste do salário mínimo precisa, antes de tudo, levar em conta a desvalorização cambial.

Na Justiça
A previsão da Justiça do Trabalho com o aumento da inflação em 99 é de crescimento do número de dissídios coletivos, já que empregadores e empregados não deverão chegar a um acordo sobre reposição salarial com frequência. Alguns juízes já estão se manifestando a favor da manutenção do poder de compra dos salários.


Texto Anterior: Colômbia reduz taxas de juros
Próximo Texto: Metroviário e condutor pedem gatilho se inflação chegar a 5%
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.