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São Paulo, domingo, 06 de abril de 2003

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Empresas continuam sufocadas com governo Lula

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Para as empresas brasileiras com dívidas em dólar, são limitados os efeitos positivos da valorização do real durante os cem dias de governo Lula.
O tropeço do dólar ante o real torna os débitos em moeda estrangeira menores. No entanto, na prática, essa valorização não trará tantos ganhos porque uma parcela das companhias obtém empréstimos com taxas de juros pré-fixadas, sem o impacto dessa variação cambial.
Além disso, há companhias que conseguem financiamentos com base na cotação média da moeda no período do contrato (de seis meses a um ano, se for a curto prazo, por exemplo).
Logo, o impacto da atual queda, que ocorre só há três semanas, tem um efeito tímido nesse conta.
Apenas companhias com empréstimos a vencer nas últimas semanas (em que o valor segue a taxa média diária do dólar) podem ter tido algum ganho.
Pelos dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), porém, não existiram dívidas de empresas para vencimento no período em que ocorreu a valorização do real. Apenas débitos de bancos.
De 10 de março até a última sexta-feira -o período de valorização da moeda brasileira- só bancos como BNL e Banco do Brasil tiveram de honrar com os seus débitos.
Há ainda uma outra ressalva a ser feita. Se por um lado a empresa pode até dever menos ao seu credor (porque pagou as dívidas com base na atual cotação), por outro ela pode não alcançar a receita esperada para pagar essa conta.
Explicando: o dólar "barato" torna os produtos brasileiros mais caros no exterior. E o faturamento obtido com exportação tende a cair. Logo, a receita total da empresa tende a encolher.
No entanto, caso seja uma forte exportadora, como companhias da área de máquinas e equipamentos ou metalurgia, então a receita está garantida. Mesmo que as despesas sejam altas, a geração de caixa em moeda estrangeira está garantida.
Exemplo: a Cosipa, empresa da área siderúrgica, tem dívidas em seu balanço só com variação cambial de R$ 1,3 bilhão. Mas o grupo envia 65% de sua produção para fora do país. Ou seja, ela recebe em dólares.
"É claro que a questão não se resume só ao fato de ter despesas financeiras menores. Para um resultado positivo, as empresas vão ter de reduzir custos e vender mais", diz Alan Marinovic, economista da ABM Consulting.

Ainda está caro
Essas questões estão sendo alvo de debates dentro das próprias empresas, na tentativa de ver se há ganhos com o tombo do dólar.
"Por enquanto eu não ganhei nada com a valorização do real", diz Sérgio Magalhães, presidente da Enaplic, fabricante de máquinas e vice-presidente da Abimaq, entidade do setor.
"Meus insumos importados não reduziram de preço e acho que nem vão reduzir. Os fornecedores já disseram que os custos estão aumentando e que não dá para cobrar menos pela matéria-prima", afirma ele.
Com o real valorizado, importar insumos fica mais barato. Com isso, as matérias-primas, como aço e componentes eletrônicos, sofrem queda nos preços.
Entretanto, essa redução não ocorre num período curto. Os contratos para fornecimentos de insumos importados podem ter preço pré-determinado -que independe da variação do câmbio. E mesmo que o dólar caia, ainda se paga caro pela matéria-prima por um período.
"Há contratos no setor eletroeletrônico em que o valor pago pelo produto importado segue a cotação do dólar no dia. Agora, o ideal é trabalhar dessa forma", diz Paulo Saab, presidente da Eletros, entidade que representa a área eletroeletrônica
A dívida em moeda estrangeira de empresas com capital aberto (sem levar em conta os bancos) chegou a US$ 40,5 bilhões em dezembro de 2002. Se essa dívida fosse vencer na sexta-feira passada, elas teriam que desembolsar R$ 130,4 bilhões. Um ano atrás, a conta seria de R$ 92,2 bilhões.
O valor cai por causa da valorização do real, que torna o peso das despesas das empresas menores.


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