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LUÍS NASSIF
Santa Izildinha e o Copom
Um dos aspectos menos estudados nas políticas econômicas dos países emergentes
é o uso da retórica nas discussões econômicas. O Brasil merecia um estudo à parte, especialmente o discurso econômico desenvolvido nos anos 90
pela extraordinária simplificação e persistência no erro.
A mecânica desse tipo de retórica consiste, em vez de entender a economia como uma
realidade complexa, com um
conjunto de variáveis inter-relacionadas, em isolar cada variável em um compartimento e
apresentar uma resposta específica para ela -mesmo que
não faça sentido para o todo.
Este fim de semana foi pródigo em exemplos para futuros
estudiosos. Vou me ater ao artigo "Economia e senso comum", do ex-presidente do BC
Gustavo Loyola, ao jornal "Valor" de ontem (pág. A13). Escreve ele:
"Ignora-se, propositalmente
ou não, que os juros afetam a
demanda agregada e que sua
redução intempestiva jogaria
lenha na fogueira da inflação".
Pode-se batizar essa lei de
"uso discricionário dos relativos". É como alguém pegar um
subnutrido, passar a dar uma
refeição por dia e um analista
econômico isento alertar para
eventuais riscos com obesidade, já que amanhã ele estará
menos magro do que hoje.
"Ao pressionarem o BC por
menores taxas de juros, (essas
pessoas) não se perguntam sobre o que fariam com suas aplicações financeiras, caso os juros caíssem abaixo da inflação,
por exemplo."
O argumento cria uma caricatura -a de que todos os que
defendem redução querem taxas negativas de juros- e sai
batendo impiedosamente na
miragem. E ela nem reage.
"É raro alguém vocalizar a
idéia de que as empresas com
recursos em caixa também auferem receitas com seus investimentos financeiros e que são
também beneficiárias dos juros
altos."
Os bancos ganham, mas as
grandes empresas também ganham. Que tal Loyola contar
quem paga a conta?
"As classes sociais de menor
renda são justamente as que
mais sofrem as conseqüências
do processo inflacionário (...)
Talvez aí esteja a razão para
alguns manifestarem desinteresse absoluto pelos riscos inflacionários."
Toda a discussão sobre uma
política mais competente, que
combate a inflação com menos
sacrifício, menos desemprego,
menos quebradeira, é reduzida
a essa fantástica inovação teórica: quem é contra juros altos
é a favor da inflação, logo é
contra os pobres. Que santa
Izildinha abençoe o Copom.
"Ademais, o senso comum
aplicado à questão dos juros
torna os bancos centrais instituições monstruosas."
Além de "monstruosas" e
"infalíveis", não seria possível
admitir duas categorias novas
de BC: os meramente competentes e os meramente incompetentes?
"A divergência eventual entre o senso comum e os bons
princípios da teoria econômica
não significa, porém, que as
idéias econômicas sejam complicadas. A lei da oferta e da
demanda é bem mais intuitiva
e de fácil entendimento pelo
homem comum do que, por
exemplo, a lei da gravidade."
Existe também a conta do
"português da esquina" -que
juros altos fazem a dívida aumentar a ponto de torná-la
não-administrável. Utilizou
todo um repertório de senso comum na análise econômica
fast food atual e ignorou solenemente o bom senso.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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