São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AVICULTURA

Para o consultor Paulo Molinari, indústrias erraram na estratégia e produziram além do que o mercado pode consumir

Gripe aviária não é causa de crise, diz analista

THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA

A crise enfrentada pela indústria de aves no Brasil -que já causou demissões, férias coletivas e redução de quase 20% na produção- não tem relação alguma com a gripe aviária. É o que afirma o consultor Paulo Molinari, da Safras & Mercados.
Para ele, a crise foi causada por uma estratégia errada dos produtores, que, empolgados com os resultados recordes no ano passado, produziram 300 mil toneladas a mais de carne até o final do mês passado em relação ao mesmo período de 2005.
"A previsão era de crescimento de 600 mil toneladas na produção em todo o ano. Mesmo que as exportações crescessem absurdamente, teríamos uma grande quantidade [de carne] encalhada no mercado interno."
Segundo ele, "as exportações de carne de frango neste ano caíram apenas 1,4% em relação ao primeiro trimestre de 2005. Se houvesse uma crise acentuada, esse número seria bem pior", afirmou.
"O setor produziu muito mais, e por isso temos excesso de oferta no mercado interno. Não seriam 30 mil ou 40 mil toneladas não-exportadas que gerariam uma crise dessa proporção. Essa quantidade daria para entrar nas câmaras frias, seria consumida pelo mercado interno ou empurrada para uma exportação futura. Enfim, seria absorvível", disse.
Para Molinari, "se a palavra H5N1 [cepa da gripe aviária] não fosse apresentada na Europa, na Rússia, no Oriente Médio, a crise brasileira seria a mesma".
A avaliação é diferente da da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina, que, na semana passada, estimou em 10 mil o número de funcionários com risco de perder o emprego no Estado devido à gripe aviária.
O analista disse que há outros fatores para a crise, como o câmbio, o embargo russo à carne suína e a safra de boi em plena época. "O setor apostou em 2006 levando em conta a gripe aviária até como fator positivo, já que o país é livre da doença. Aumentou o número de alojamento de matrizes e achou que poderia crescer mais 15%. Mas esqueceu que o primeiro trimestre do ano tem uma sazonalidade de consumo interno e externo muito ruim. Foi uma falha estratégica."


Texto Anterior: Mercado financeiro: Bolsa volta a ultrapassar os 39 mil pontos
Próximo Texto: O vaivém das commodities
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.