São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

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SERVIÇOS

Brasileiro passeia mais no Brasil; hotéis melhoram qualidade e preços

Dólar mais caro muda o perfil do turismo no país


ALEXA SALOMÃO
DA REDAÇÃO

A valorização do dólar no Brasil nos últimos três anos frustrou as férias internacionais de muita gente, mas foi decisiva para a mudança do perfil do turismo doméstico (viagens realizadas por brasileiros dentro do país).
O brasileiro com maior poder aquisitivo e poder de barganha concentrou seus passeios no país. Cobrou do mercado -e, ao mesmo tempo, viabilizou- a profissionalização dos serviços.
Hoje, o turista nacional viaja menos de carona, embarca mais no avião, está trocando a casa de parentes por hotéis.
As alterações no comportamento do viajante brasileiro pós-desvalorização do real e seu impacto para a indústria do turismo aparecem na pesquisa "Caracterização e Dimensionamento do Turismo Doméstico no Brasil".
O estudo foi realizada em 2001 pela Fipe/USP (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas e Universidade de São Paulo) para a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) e obtido com exclusividade pela Folha.
O levantamento é um dos mais completos já feitos no país. Toma como base 15 mil entrevistas domiciliares, em 112 cidades de todos os Estados, a partir de critérios do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Custos mais baixos
"Três fatores foram decisivos para as mudanças ocorridas nos últimos anos: o câmbio; a profissionalização das empresas do setor, que aprimoraram e baratearam seus produtos; e o aumento da renda nas camadas mais elevadas", afirma o coordenador da pesquisa, Wilson Rabahy.
As mudanças de hábito aparecem quando é feita uma comparação entre as duas edições da pesquisa.
Na primeira versão, realizada em 1998, um ano antes da mudança cambial, 2,5% dos entrevistados declararam a intenção de viajar e 4 milhões de pessoas saíram do país, segundo dados oficiais da Embratur. Em 1999, a média anual caiu para 2,8 milhões.
No ano passado, viajar ao exterior era projeto de 2,2% dos entrevistados. A valorização do dólar e os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos fizeram quase metade deles (40%) mudar os planos.
Nos últimos três anos, esse viajante que adiou passeios internacionais tomou a frente na mudança de comportamento do mercado interno.
Uma das novidades está no item transporte: 9% dos entrevistados agora fazem turismo viajando de avião. Antes, o avião era o meio de transporte de apenas 6,8% dos entrevistados.
O resultado por pouco não equipara a linha aérea à carona (viagem em carro de amigos), segunda opção do viajante. A carona agora responde por 9,9% das viagens. Na pesquisa anterior, a carona equivalia a 11,8%.

Perua
Os viajantes também descobriram uma nova alternativa: a perua, que sequer aparecia na pesquisa anterior, mas hoje responde por 1,6% das viagens.
As novas alternativas estão tirando gente dos ônibus. Embarcar de mala e cuia na rodoviária era destino certo de 49,6% dos entrevistados em 1998. No ano passado, foi a escolha de 36%.
Há um novo comportamento em relação à hospedagem. A casa de amigos servia de pouso para 73,2% dos entrevistados. Agora, é a opção de 65,9% deles.
Em contrapartida, cresceu a procura por hotéis, que passou a ser a escolha de 15% dos viajantes ouvidos, contra 11% na pesquisa anterior. As pousadas, utilizadas por 2,4% dos entrevistados há quatro anos, apareceram como a opção de 5% dos entrevistados.
Os turistas também declararam que utilizam mais restaurantes, supermercados, locadoras de carros e compram mais produtos típicos dos locais para onde vão e também suvenires.

Falta dinheiro
A falta de dinheiro permanece como a principal causa para segurar as pessoas em casa o ano inteiro. Na pesquisa realizada no ano passado, 60,3% dos entrevistados disseram que não viajam porque não têm dinheiro para esse tipo de atividade de lazer. Na pesquisa anterior, a questão financeira pesava para 74,1%.
A diferença não está no aumento da renda, mas sim no crescimento de outros impedimentos. O "excesso de trabalho" atrapalhou os planos de 15% dos entrevistados e "problemas de saúde" fizeram 8% adiar a viagem.


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