São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

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Turismo contribui para a distribuição de renda

DA REDAÇÃO

O turista brasileiro está conseguindo fazer, a passeio, durante as férias de verão, o que os programas sociais perseguem há décadas com muito trabalho: transferir renda de regiões mais ricas para cidades e Estados com menor nível de desenvolvimento econômico. Essa tendência foi detectada na pesquisa realizada pela Fipe/ USP.
"Sempre se falou que o turismo gera distribuição de renda, mas só agora os dados permitem comprovar que isso realmente está acontecendo", diz o economista Wilson Rabahy, coordenador da pesquisa da Fipe/USP. Essa transferência é recente e pode ser percebida principalmente nos Estados do Nordeste.
De acordo com o levantamento, de cada R$ 1 que o viajante nordestino desembolsa numa viagem turística por Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo e Minas Gerais, outros R$ 2,24 entram no Nordeste de volta pelas mãos dos turistas que moram no Sudeste e buscam principalmente as praias nordestinas.
Os gastos com passeio de paulistas, cariocas, mineiros e capixabas pelo Nordeste somam R$ 2,7 bilhões -35% do PIB turístico da região, estimado em R$ 7,76 bilhões. Uma participação desse tamanho é surpreendente, de acordo com Rabahy, por dois motivos básicos.

Distância
O primeiro deles diz respeito ao roteiro das viagens. Estudos sobre o movimento de viajantes em qualquer parte do mundo são unânimes: o turista não vai longe. Cerca de 70% do total deles circulam na região em que residem.
Não é diferente no Brasil. A pesquisa apurou, por exemplo, que 47,7% dos paulistas concentram seus passeios no próprio Estado e outros 66,6% visitam apenas Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
No entanto, quando decide ir um pouco mais longe, o paulista tem como destino, geralmente, a região Nordeste. Dos 43,4% de paulistas que vão para outras regiões, metade vai para o Nordeste. A pesquisa indica que até mesmo o Rio de Janeiro, um dos mais importantes destinos do país, ligado pela ponte aérea a São Paulo, perde para a Bahia em número de visitantes paulistas, por exemplo.
O segundo ponto importante refere-se a quanto da renda é reservada para os passeios. Quem ganha entre 8 e 10 salários mínimos (de R$ 1.600 a R$ 2.000), por exemplo, tende a gastar em média R$ 500 com uma viagem por ano.
No entanto, quem ganha o dobro, de 16 a 20 mínimos (R$ 3.200 e R$ 4.000), geralmente não reserva o dobro para uma viagem turística, separando, de forma geral, por volta de R$ 1.500 -ou seja, três vezes mais. E, claro, quem recebe uma remuneração mais alta tem maiores possibilidades financeiras de programar uma viagem para terras distantes. O que também beneficia a região Nordeste.

Outras regiões
O Nordeste está gerando mais receita com o turismo porque atrai viajantes de outras regiões e até países -gente que quando põe o pé na estrada leva mais dinheiro para gastar, diz Rabahy.
"O Nordeste recebeu investimentos privados e públicos que possibilitaram essa expansão. Mas é bom não esquecer: o turista é um curioso, sempre em busca do novo. Quem chegou ao Nordeste, nos próximos anos irá em busca de outros destinos. Os investidores deveriam estar mais atentos ao Norte e ao Centro-Oeste", declara. Segundo a pesquisa, cerca de 8% do PIB turístico da região Norte, avaliado em R$ 3,64 bilhões, já são sustentados por gastos de turistas do Sudeste.


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