São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

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Queda nos preços afeta lucros do setor

DA REDAÇÃO

O crescimento do turismo interno foi acompanhado nos últimos anos pelo aumento da concorrência entre as empresas ligadas ao setor. Baixar os preços foi a principal estratégia, mas a disputa colocou em risco o lucro de muitas companhias, que acabaram até saindo do mercado.
"A concorrência derrubou os preços e também várias operadoras", diz Marcelo Barrone, gerente comercial da RCA. O embate para conquistar turistas fez muitas vítimas, entre elas empresas tradicionais como Soletur e Viagens Costa.
Segundo Barrone, o mercado foi obrigado a se reestruturar para se adequar aos novos clientes: o brasileiro que deixou de viajar para o exterior e passou a passear mais vezes dentro do próprio país e as pessoas de classes mais baixas. Ambos se interessam por pacotes de viagens mais baratos.

Passagens mais baratas
Há três anos, era difícil ir a Porto Seguro, na Bahia, por menos de R$ 800, hoje, existem ofertas por R$ 450. "Esses viajantes sempre existiram, mas foi a queda nos preços que ampliou sua participação no mercado", avalia Barrone.
A criação da empresa aérea Gol, por exemplo, apostou nessa idéia. "Consideramos que os passageiros dos ônibus e dos automóveis migrariam para o avião se fosse feita uma redução de 30% no preço das passagens", lembra o vice-presidente da marketing da Gol, Tarcísio Gargioni.
Uma pesquisa realizada pela companhia em setembro do ano passado, na baixa temporada, confirmou que a tendência existe: 5% de seus passageiros declararam que estavam andando de avião pela primeira vez na vida.
O fluxo de passageiros simplesmente dobrou na TAM entre 1998 e o ano passado. Parte desse aumento é atribuído ao sistema de tarifas diferenciadas, implantado em 1999. Entre 2000 e 2001, a oferta de vôos cresceu 38%. Boa parte disso foi devido à maior demanda de turistas.
Desde março, a companhia mantém um Airbus 330, com capacidade para 225 passageiros fazendo a linha São Paulo, Recife e Salvador, duas vezes por semana com 70% de ocupação, um índice considerado alto.
"O turismo de praia recebeu grandes investimentos privados, em hotelaria, e públicos, em infra-estrutura, principalmente em Santa Catarina e no Nordeste. Isso permitiu a abertura de um maior número de linhas para esses destinos", diz o assessor da vice-presidência da Tam, Klaus Kuhnast.
Apesar do aumento no número de passageiros, os preços mais baixos derrubam a rentabilidade das vendas (retorno conseguido pelas empresa) e também ameaçam o lucro.

Sobram leitos
A hotelaria vive outro dilema: excesso de leitos. "O setor vem crescendo a uma média de 7% ao ano, muito acima da demanda porque não se guia pelo turismo, mas pelo mercado imobiliário", declara o presidente da ABIH Nacional (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), Herculano de Albuquerque Iglesias. Pelas estimativas da entidade, o país conta hoje com cerca de um milhão de leitos.
O Brasil assiste a uma verdadeira proliferação de estabelecimentos, que acirra a concorrência e pressiona os preços para baixo, diz o presidente da ABIH. O valor médio das diárias caiu cerca de 50% nos últimos três anos. "Muitas pessoas que não tinham condição de ficar num hotel, passaram a ter acesso a esse tipo de acomodação, mas as empresas não sentiram a diferença porque estão sobrando leitos", diz. (AS)


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