São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

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MERCADOS

Bolsa precisa de um estímulo para reverter pessimismo, o que parece distante; novo Ibovespa mantém distorção

Mau humor deverá continuar na Bovespa

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem tendência definida para a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), o mau humor do mercado pode perdurar.
Uma parcela de analistas afirma que a queda de 4,17% (a maior em mais de cinco meses) na quinta-feira passada foi exagerada, mas que a Bolsa pode continuar de lado, oscilando, ciclotímica, ao sabor de pesquisas eleitorais.
No curtíssimo prazo, pode não surgir notícia com força suficiente para reverter o atual pessimismo.
"O fluxo de investimentos estrangeiros para o Brasil diminuiu e estamos agora numa entressafra. Das pesquisas e da trajetória dos juros, o mercado também não deverá ter já surpresas positivas", afirma Beto Scretas, da Schroeder.
Para Octavio de Barros, do BBV Banco, a Bovespa depende principalmente do risco-país, mas também do crescimento econômico, da taxa de juros e da Nasdaq (Bolsa das ações de alta tecnologia).
Com risco a quase 900 pontos, perspectiva de crescimento pífio, taxa de juros a 18,5% e Nasdaq com queda acumulada de 17,30%, o cenário não é favorável à Bolsa.
"Mas se o risco-país cair, a Bovespa pode voltar a caminhar em torno de 13 mil pontos", afirma Barros, do BBV.
A preocupação do investidor, segundo parte dos analistas, não deve ser de quando vender e, sim, quando comprar.
"Já houve queda razoável no mercado de ações e dos títulos da dívida pública, além de grande aumento do risco-Brasil. O mercado passou do otimismo para um semidesespero, sem bases concretas", diz Scretas.
Na semana passada, a Bolsa caiu em consequência da redução de recomendação de compra de títulos brasileiros anunciada por Merrill Lynch, Morgan Stanley, ABN Amro e Banco Santader.
A justificativa principal das instituições foi a melhora do desempenho do pré-candidato Luís Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas de intenção de voto.
Além da piora de indicadores econômicos brasileiros e da instabilidade na América Latina, nos Estados Unidos, as Bolsas foram prejudicadas por balanços e projeções ruins de resultados das empresas.
JP Morgan, Dresdner Bank, Lloyds TSB, Barclays e ING Barings mantiveram recomendação de compra de títulos do Brasil. Merrill Lynch continua a indicar a compra de ações do país.
"O investidor deve ter cautela, já que o mercado, justo ou não, não dá a Lula o benefício da dúvida. Se ele vencer, a Bolsa deve cair. Mas fazer esta ou outra aposta agora é chute, o que não deve nortear a compra e a venda de ativos", segundo Scretas.
"Mais importante que o resultado, será o tom da campanha, se haverá ou não mudança de rumo na economia, afirma o economista-chefe do BBV.

Ibovespa
Desde a quinta-feira da semana passada, entrou em vigor a nova carteira do Ibovespa (índice que concentra as 57 ações mais negociadas na Bolsa). O peso do setor de telecomunicações cresceu de 37% para 43%.
"A cada virada de índice, acentua-se uma distorção: empresas como Globo Cabo, que caiu 58% no ano, crescem em participação, enquanto outras, como Petrobras, que subiu 18% no mesmo período (até o dia 30 de abril), perdem peso", diz Scretas.
O critério de composição da carteira Ibovespa é a liquidez.
"As teles têm liquidez- que pode ser por motivos bons ou não-, mas têm também uma volatilidade enorme. O investidor pensa comprar Bolsa, com todas as empresas, mas se for fundo no Ibovespa, terá colocado quase 50% do seu dinheiro só em teles."


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