São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

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COLAPSO ARGENTINO

Governo deverá trocar maioria dos recursos congelados nos bancos por títulos na moeda americana

País quer dar bônus em dólar a correntistas

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O governo argentino quer acabar com o curralzinho no segundo semestre, mas a solução encontrada pelo ministro da Economia, Roberto Lavagna, poderá promover a "despesificação" da economia. As medidas, que devem ser anunciadas nesta semana, prevêem que a maioria dos recursos congelados nos bancos serão trocados por bônus denominados em dólares.
Os argentinos que possuem contas correntes e cadernetas de poupança poderão optar por receber esses bônus, que terão vencimento em cinco anos.
O câmbio utilizado para a conversão deverá ser de 1,40 peso por US$ 1. Ou seja, uma poupança de 14 mil pesos se transformaria em US$ 10.000 em bônus.
Se optasse por sacar imediatamente todo o dinheiro, o correntista poderia retirar apenas US$ 4.255, de acordo com a taxa de câmbio da última sexta-feira (3,29 pesos por US$ 1). Desta forma, o governo aumenta a atratividade dos bônus e espera evitar uma possível fuga de recursos dos bancos para o dólar quando o curralzinho for eliminado.
Também serão denominados em dólares os bônus referentes a depósitos em prazos fixos na moeda norte-americana -que haviam sido pesificados pelo ex-ministro Jorge Remes Lenicov. Esta conversão será obrigatória. Os papéis terão um prazo de 10 anos para o resgate e pagarão taxa de juros Libor (vigente no Reino Unido). O único caso em que os bônus seriam em pesos é o dos depósitos a prazos fixos na moeda local. Esses depósitos seriam devolvidos em títulos com vencimento de cinco anos e teriam atualização pelo CER (o índice de indexação da maioria dos contratos na Argentina).
A medida deverá ser enviada ao Congresso na forma de decreto, por exigência dos parlamentares. Desta forma, o governo vai arcar com todo o desgaste de não devolver os recursos em dinheiro.
Aprovadas as medidas, o governo daria mais um mês para o correntista decidir a forma de resgate dos recursos. Se houver uma grande adesão ao plano, o curralzinho poderia acabar em pouco mais de 60 dias e sem colocar em risco os bancos, segundo cálculos do Ministério da Economia.
Outro problema que dever ser resolvido por Lavagna nesta semana prevê a redução da abrangência do CER. O ministro quer eliminar o CER para o reajuste de empréstimos habitacionais, hipotecários, pessoais e aluguéis já vigentes, que passariam a ser indexados a um índice de variação salarial. A formação desse índice ainda será definida.
Os financiamentos às grandes empresas, no entanto, continuariam a ser corrigidos pela CER.


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