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São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2003

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CÂMBIO

Bancos e empresas com dívida em moeda norte-americana e possibilidade de intervenção elevam cotação em 2,53%

Dólar volta a ser cotado acima de R$ 3,00

SANDRA BALBI
GEORGIA CARAPETKOV

DA REPORTAGEM LOCAL

A alta de 2,53% do dólar, ontem, foi um "ajuste sadio" feito pelo próprio mercado de câmbio, na opinião de Nathan Blanche, da consultoria Tendências.
O lado saudável de um dólar a R$ 3,04 -fechamento de ontem- depois de bater em R$ 2,911 no dia 30 de abril é que o ajuste está sendo feito sem o dedo do Banco Central. Nas últimas semanas, o coro dos exportadores pedindo um freio na valorização do real foi engrossado por economistas, inclusive gente com estrela vermelha na lapela, e analistas do mercado.
Segundo analistas, a valorização do dólar ontem foi influenciada pelo ajuste das posições de bancos e pela ação do Citibank, que comprou um montante expressivo de dólares para pagar um empréstimo no exterior de um de seus clientes.
Além disso, a possibilidade de que o governo possa fazer qualquer tipo de intervenção que eleve a cotação do dólar aumentou a demanda pela moeda, tanto de bancos quanto de empresas com dívidas ou pagamentos programados em dólares. "Quem precisa de dólares tem medo de não comprar agora e o BC fazer uma intervenção", diz Sérgio Machado, diretor do banco Fator.
Para alguns, se isso ocorrer, significará estabelecer um patamar para a cotação da moeda. "Na prática, isso significaria fixar o câmbio, rompendo a política de flutuação da moeda", diz Gustavo Loyola, sócio da Tendências.
A quebra de regras provocaria, segundo ele, fuga de capital do país. Os investidores que neste ano aplicaram US$ 4 bilhões em papéis de curto prazo empacotariam o dinheiro e iriam embora. A saída desse capital volátil -que ajudou a derrubar as cotações do dólar na entrada- não demoraria a provocar estragos.
"Se o BC intervier no câmbio, o risco é haver uma inversão muito grande do movimento otimista do mercado, podendo causar uma elevação do dólar na mesma velocidade da queda dos últimos meses", diz Blanche. Até sexta-feira, a apreciação do real em relação ao dólar havia sido de 17% -13,23% só em abril.
Para Loyola, "O BC pode, sim, intervir no mercado, mas para conter a volatilidade [oscilação" do câmbio, como fez no ano passado. O erro que alguns analistas cometem é o de tentar associar a atuação da autoridade monetária a um patamar do câmbio", diz.
Ele aponta, ainda, outros erros na discussão sobre a necessidade de o BC segurar a valorização do real. Um deles é considerar que a taxa nominal de câmbio afeta o balanço de pagamentos (saldo das trocas comerciais e financeiras do país).
Segundo Loyola, dizer que o dólar a R$ 3,20 é melhor do que a R$ 3 para preservar as contas externas é uma bobagem. "Tudo depende de qual é a inflação interna; se ela for baixa, US$ 1 a R$ 3 pode valer mais em termos reais que a R$ 3,20 com inflação alta", diz. "As pessoas que querem segurar o dólar raciocinam como se não houvesse inflação lá na frente."
Segundo ele, é a taxa real de câmbio que influencia o fluxo de importação e exportação e, em última instância, o balanço de pagamentos. Tanto que em 2002, quando a taxa média real de câmbio bateu em R$ 3,23, o país conseguiu fazer um superávit comercial recorde, de US$ 13,1 bilhões.


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