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CÂMBIO
Bancos e empresas com dívida em moeda norte-americana e possibilidade de intervenção elevam cotação em 2,53%
Dólar volta a ser cotado acima de R$ 3,00
SANDRA BALBI
GEORGIA CARAPETKOV
DA REPORTAGEM LOCAL
A alta de 2,53% do dólar, ontem,
foi um "ajuste sadio" feito pelo
próprio mercado de câmbio, na
opinião de Nathan Blanche, da
consultoria Tendências.
O lado saudável de um dólar a
R$ 3,04 -fechamento de ontem- depois de bater em R$
2,911 no dia 30 de abril é que o
ajuste está sendo feito sem o dedo
do Banco Central. Nas últimas semanas, o coro dos exportadores
pedindo um freio na valorização
do real foi engrossado por economistas, inclusive gente com estrela vermelha na lapela, e analistas
do mercado.
Segundo analistas, a valorização
do dólar ontem foi influenciada
pelo ajuste das posições de bancos
e pela ação do Citibank, que comprou um montante expressivo de
dólares para pagar um empréstimo no exterior de um de seus
clientes.
Além disso, a possibilidade de
que o governo possa fazer qualquer tipo de intervenção que eleve
a cotação do dólar aumentou a
demanda pela moeda, tanto de
bancos quanto de empresas com
dívidas ou pagamentos programados em dólares. "Quem precisa de dólares tem medo de não
comprar agora e o BC fazer uma
intervenção", diz Sérgio Machado, diretor do banco Fator.
Para alguns, se isso ocorrer, significará estabelecer um patamar
para a cotação da moeda. "Na
prática, isso significaria fixar o
câmbio, rompendo a política de
flutuação da moeda", diz Gustavo
Loyola, sócio da Tendências.
A quebra de regras provocaria,
segundo ele, fuga de capital do
país. Os investidores que neste
ano aplicaram US$ 4 bilhões em
papéis de curto prazo empacotariam o dinheiro e iriam embora. A
saída desse capital volátil -que
ajudou a derrubar as cotações do
dólar na entrada- não demoraria a provocar estragos.
"Se o BC intervier no câmbio, o
risco é haver uma inversão muito
grande do movimento otimista
do mercado, podendo causar
uma elevação do dólar na mesma
velocidade da queda dos últimos
meses", diz Blanche. Até sexta-feira, a apreciação do real em relação ao dólar havia sido de 17%
-13,23% só em abril.
Para Loyola, "O BC pode, sim,
intervir no mercado, mas para
conter a volatilidade [oscilação"
do câmbio, como fez no ano passado. O erro que alguns analistas
cometem é o de tentar associar a
atuação da autoridade monetária
a um patamar do câmbio", diz.
Ele aponta, ainda, outros erros
na discussão sobre a necessidade
de o BC segurar a valorização do
real. Um deles é considerar que a
taxa nominal de câmbio afeta o
balanço de pagamentos (saldo
das trocas comerciais e financeiras do país).
Segundo Loyola, dizer que o dólar a R$ 3,20 é melhor do que a R$
3 para preservar as contas externas é uma bobagem. "Tudo depende de qual é a inflação interna;
se ela for baixa, US$ 1 a R$ 3 pode
valer mais em termos reais que a
R$ 3,20 com inflação alta", diz.
"As pessoas que querem segurar o
dólar raciocinam como se não
houvesse inflação lá na frente."
Segundo ele, é a taxa real de
câmbio que influencia o fluxo de
importação e exportação e, em última instância, o balanço de pagamentos. Tanto que em 2002,
quando a taxa média real de câmbio bateu em R$ 3,23, o país conseguiu fazer um superávit comercial recorde, de US$ 13,1 bilhões.
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