São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2004

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FINANÇAS

Para analistas, registro diário de perdas em fundos não vem sendo realizado

Mercado faz pressão por novos leilões do Tesouro

DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado espera que o Tesouro Nacional continue realizando leilões de recompra de títulos públicos, como o feito ontem, para reverter o movimento de desvalorização de seus papéis de longo prazo. Se essa inversão de tendência na queda dos preços não ocorrer, dizem especialistas, a fuga de recursos dos fundos poderá se intensificar nos próximos dias.
Segundo analistas ouvidos pela Folha, alguns gestores vinham descumprindo a regra que os obriga a registrar diariamente a queda no valor dos títulos públicos no mercado secundário.
De acordo com eles, os administradores dos fundos estariam com medo de que o registro dos prejuízos recentes provocados pela desvalorização das LFTs (Letras Financeiras do Tesouro) levasse a uma intensificação dos saques. Por isso, estariam esperando uma possível recuperação dos preços desses papéis para voltar a fazer, corretamente, a chamada marcação a mercado (registro diário das variações dos preços dos títulos que compõem as carteiras de um fundo de investimento).
O problema, dizem especialistas, é que, se esses preços não se recuperarem, as perdas recentes terão de ser registradas mais cedo ou mais tarde, o que poderá espantar investidores e levar a uma fuga ainda mais intensa de recursos dos fundos.

Descolamento
Dados levantados pela Folha revelam que, entre setembro de 2002 e março passado, os fundos DI apresentaram um padrão de retorno um pouco inferior à rentabilidade média das LFTs que estão no mercado. O fato de os fundos renderem um pouco menos que as LFTs seria explicado porque os gestores descontam da rentabilidade taxas de administração e desempenho.
E a tendência estável de correlação seria normal porque as carteiras dos fundos DI possuem, de forma geral, alta concentração de títulos pós-fixados. Dados do Tesouro revelam que quase 50% das LFTs estão em poder dos fundos.
O problema é que, justamente em abril passado, quando as LFTs de prazos de vencimento mais longos começaram a sofrer forte desvalorização, houve um significativo descolamento da relação histórica entre os retornos dos fundos e desses papéis.

Indício
Entre o início de abril e o último dia 3, os fundos DI tiveram retorno de 1,01%, bastante superior à rentabilidade média de 0,52% das LFTs. Para especialistas, esse seria um indício de que alguns gestores deixaram de computar, diariamente, as variações desses papéis. Afinal, dizem eles, boa parte dessas LFTs de longo prazo continuava nas carteiras dos fundos.
Segundo Luiz Américo de Mendonça Ramos, gerente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) que fiscaliza o cumprimento das regras de marcação a mercado, momentos como o atual sempre causam grande preocupação na instituição.
"O deságio [desvalorização nos preços] de títulos é sempre motivo de preocupação porque dá abertura para os fundos não cumprirem a marcação a mercado. Os gestores têm receio de reconhecer as perdas e, com isso, provocar fuga de recursos", diz ele.
Apesar disso, a CVM ainda não investiga possíveis casos recentes de descumprimento das normas de marcação. (EF e FV)


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