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FINANÇAS
Para analistas, registro diário de perdas em fundos não vem sendo realizado
Mercado faz pressão por
novos leilões do Tesouro
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado espera que o Tesouro Nacional continue realizando
leilões de recompra de títulos públicos, como o feito ontem, para
reverter o movimento de desvalorização de seus papéis de longo
prazo. Se essa inversão de tendência na queda dos preços não ocorrer, dizem especialistas, a fuga de
recursos dos fundos poderá se intensificar nos próximos dias.
Segundo analistas ouvidos pela
Folha, alguns gestores vinham
descumprindo a regra que os
obriga a registrar diariamente a
queda no valor dos títulos públicos no mercado secundário.
De acordo com eles, os administradores dos fundos estariam com
medo de que o registro dos prejuízos recentes provocados pela
desvalorização das LFTs (Letras
Financeiras do Tesouro) levasse a
uma intensificação dos saques.
Por isso, estariam esperando uma
possível recuperação dos preços
desses papéis para voltar a fazer,
corretamente, a chamada marcação a mercado (registro diário das
variações dos preços dos títulos
que compõem as carteiras de um
fundo de investimento).
O problema, dizem especialistas, é que, se esses preços não se
recuperarem, as perdas recentes
terão de ser registradas mais cedo
ou mais tarde, o que poderá espantar investidores e levar a uma
fuga ainda mais intensa de recursos dos fundos.
Descolamento
Dados levantados pela Folha revelam que, entre setembro de
2002 e março passado, os fundos
DI apresentaram um padrão de
retorno um pouco inferior à rentabilidade média das LFTs que estão no mercado. O fato de os fundos renderem um pouco menos
que as LFTs seria explicado porque os gestores descontam da
rentabilidade taxas de administração e desempenho.
E a tendência estável de correlação seria normal porque as carteiras dos fundos DI possuem, de
forma geral, alta concentração de
títulos pós-fixados. Dados do Tesouro revelam que quase 50% das
LFTs estão em poder dos fundos.
O problema é que, justamente
em abril passado, quando as LFTs
de prazos de vencimento mais
longos começaram a sofrer forte
desvalorização, houve um significativo descolamento da relação
histórica entre os retornos dos
fundos e desses papéis.
Indício
Entre o início de abril e o último
dia 3, os fundos DI tiveram retorno de 1,01%, bastante superior à
rentabilidade média de 0,52% das
LFTs. Para especialistas, esse seria
um indício de que alguns gestores
deixaram de computar, diariamente, as variações desses papéis.
Afinal, dizem eles, boa parte dessas LFTs de longo prazo continuava nas carteiras dos fundos.
Segundo Luiz Américo de Mendonça Ramos, gerente da CVM
(Comissão de Valores Mobiliários) que fiscaliza o cumprimento
das regras de marcação a mercado, momentos como o atual sempre causam grande preocupação
na instituição.
"O deságio [desvalorização nos
preços] de títulos é sempre motivo de preocupação porque dá
abertura para os fundos não cumprirem a marcação a mercado. Os
gestores têm receio de reconhecer
as perdas e, com isso, provocar fuga de recursos", diz ele.
Apesar disso, a CVM ainda não
investiga possíveis casos recentes
de descumprimento das normas
de marcação.
(EF e FV)
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