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RECEITA ORTODOXA
Ministro da Casa Civil diz que taxa real deve ser de 6% e diz que país vive uma "situação esdrúxula"
Para Dirceu, juro alto sufoca investimento
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro da Casa Civil, José
Dirceu, disse ontem que os juros
altos inviabilizam os investimentos produtivos no país, provocando uma "situação esdrúxula". Ele
voltou a defender que a taxa de juros reais (descontada a inflação)
caia para 6% ao ano e cobrou investimentos do empresariado.
No mesmo discurso, Dirceu
afirmou que os bancos "têm que
sair da tesouraria" (em referência
aos recursos aplicados em títulos
públicos) e se preparar para emprestar ao setor produtivo, "do
contrário será uma falácia, uma
hipocrisia" o governo baixar a taxa básica de juros (a Selic, hoje em
16% ao ano).
Disse ainda que o setor produtivo não pode depender apenas de
"que o BNDES [Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico
e Social] capte recursos lá fora e
empreste na TJLP [taxa de juros
de longo prazo, mais baixa que os
juros de mercado]". O ministro se
dirigiu ainda ao mercado financeiro, depois do sobressalto do
risco-país nesta semana, que chegou próximo de 700 pontos. "Os
agentes precisam ler a realidade.
Há um impulso permanente de
reformas no país [referindo-se à
da Previdência e à tributária] e vamos avançar mais."
A série de recados de Dirceu foi
apresentada no encerramento de
um seminário do PP (Partido
Progressista), um dos partidos da
base de apoio do governo Lula.
Dirceu argumentou que o pagamento de juros da dívida mobiliária do setor público (estimada em
R$ 1 trilhão) não apenas consome
todo o superávit primário (recursos poupados para o pagamento
de juros) "como aumenta ainda
mais a dívida". Em 2003, o governo poupou cerca de R$ 75 bilhões
com o superávit primário, mas
pagou R$ 142 bilhões em juros.
"Essa dívida interna inviabiliza
qualquer investimento produtivo, porque o agente financeiro
observa o risco/rentabilidade do
investimento produtivo e o risco/rentabilidade dos títulos públicos", disse. "Vivemos uma situação esdrúxula. Apesar da demanda evidente pelo crescimento das
exportações da economia agroindustrial, os investimentos de infra-estrutura não acontecem nem
por parte do governo nem da iniciativa privada. E esse tema está ligado à questão dos juros."
Segundo Dirceu, esse cenário
provoca a necessidade de o país
diminuir a taxa de juros reais para
6% (hoje, está próxima de 10%).
Mas com ressalvas: "[Reduzir] de
maneira responsável, lenta, segura e gradual".
Banco Central
O ministro sustentou que o
Banco Central, a despeito de "não
fazer política econômica, nem desenvolvimento", "sente e apalpa a
realidade". Ele argumentou que,
se o país pretende ter superávit
fiscal menor, depende de uma política que possibilite a redução dos
juros e dos serviços da dívida e
promova o crescimento.
"Para que o investidor, ao ler a
tendência geral da economia, veja
que nós podemos reduzir o superávit". Segundo ele, a redução em
um ponto percentual permitiria
sobra de R$ 15 bilhões para investimentos e custeio do setor público. "Vamos sustentar o superávit
primário e a meta de inflação. Todo centavo de real que sobrar será
investido em infra-estrutura."
No novo recado aos bancos, o
ministro afirmou que o governo
irá reorganizar o sistema de defesa da concorrência, sugerindo
que os bancos repassem para os
juros cobrados dos clientes a mesma proporção de uma virtual
queda da Selic. "O sistema financeiro deve sair da tesouraria e emprestar para o desenvolvimento."
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