São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Ministro da Casa Civil diz que taxa real deve ser de 6% e diz que país vive uma "situação esdrúxula"

Para Dirceu, juro alto sufoca investimento

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Casa Civil, José Dirceu, disse ontem que os juros altos inviabilizam os investimentos produtivos no país, provocando uma "situação esdrúxula". Ele voltou a defender que a taxa de juros reais (descontada a inflação) caia para 6% ao ano e cobrou investimentos do empresariado.
No mesmo discurso, Dirceu afirmou que os bancos "têm que sair da tesouraria" (em referência aos recursos aplicados em títulos públicos) e se preparar para emprestar ao setor produtivo, "do contrário será uma falácia, uma hipocrisia" o governo baixar a taxa básica de juros (a Selic, hoje em 16% ao ano).
Disse ainda que o setor produtivo não pode depender apenas de "que o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] capte recursos lá fora e empreste na TJLP [taxa de juros de longo prazo, mais baixa que os juros de mercado]". O ministro se dirigiu ainda ao mercado financeiro, depois do sobressalto do risco-país nesta semana, que chegou próximo de 700 pontos. "Os agentes precisam ler a realidade. Há um impulso permanente de reformas no país [referindo-se à da Previdência e à tributária] e vamos avançar mais."
A série de recados de Dirceu foi apresentada no encerramento de um seminário do PP (Partido Progressista), um dos partidos da base de apoio do governo Lula.
Dirceu argumentou que o pagamento de juros da dívida mobiliária do setor público (estimada em R$ 1 trilhão) não apenas consome todo o superávit primário (recursos poupados para o pagamento de juros) "como aumenta ainda mais a dívida". Em 2003, o governo poupou cerca de R$ 75 bilhões com o superávit primário, mas pagou R$ 142 bilhões em juros.
"Essa dívida interna inviabiliza qualquer investimento produtivo, porque o agente financeiro observa o risco/rentabilidade do investimento produtivo e o risco/rentabilidade dos títulos públicos", disse. "Vivemos uma situação esdrúxula. Apesar da demanda evidente pelo crescimento das exportações da economia agroindustrial, os investimentos de infra-estrutura não acontecem nem por parte do governo nem da iniciativa privada. E esse tema está ligado à questão dos juros."
Segundo Dirceu, esse cenário provoca a necessidade de o país diminuir a taxa de juros reais para 6% (hoje, está próxima de 10%). Mas com ressalvas: "[Reduzir] de maneira responsável, lenta, segura e gradual".

Banco Central
O ministro sustentou que o Banco Central, a despeito de "não fazer política econômica, nem desenvolvimento", "sente e apalpa a realidade". Ele argumentou que, se o país pretende ter superávit fiscal menor, depende de uma política que possibilite a redução dos juros e dos serviços da dívida e promova o crescimento.
"Para que o investidor, ao ler a tendência geral da economia, veja que nós podemos reduzir o superávit". Segundo ele, a redução em um ponto percentual permitiria sobra de R$ 15 bilhões para investimentos e custeio do setor público. "Vamos sustentar o superávit primário e a meta de inflação. Todo centavo de real que sobrar será investido em infra-estrutura."
No novo recado aos bancos, o ministro afirmou que o governo irá reorganizar o sistema de defesa da concorrência, sugerindo que os bancos repassem para os juros cobrados dos clientes a mesma proporção de uma virtual queda da Selic. "O sistema financeiro deve sair da tesouraria e emprestar para o desenvolvimento."


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