São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2004

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DÍVIDA EXTERNA

Reunião foi em NY

Kirchner diz a credor que não muda oferta

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, indicou ontem em reunião com investidores em Nova York que o país pretende manter sua oferta de reestruturação da dívida com credores privados.
A proposta -que se seguiu à moratória declarada pelo país em dezembro de 2001-, criticada pelos credores, prevê o pagamento de apenas 25% do valor nominal da dívida, de mais de US$ 80 bilhões.
"A proposta de Dubai [durante a reunião do Fundo Monetário Internacional nos Emirados Árabes, em setembro do ano passado] foi séria. Não me animaria a fazer uma [outra] proposta que depois não se cumpra", declarou Kirchner, após ser questionado se pretendia "melhorar" a proposta.
Ele acrescentou que a dívida argentina equivale a 150% de seu PIB (Produto Interno Bruto). "Não há país no mundo assim."
Em mais de um momento ele reiterou a intenção de não alterar a proposta. Logo na chegada à reunião promovida pelo Council of Americas, em que discursou, o presidente afirmou que "a Argentina é um país sério" e que "não muda de posição todos os dias".
Em seu discurso, Kirchner afirmou que o país cumprirá seus compromissos, mas levando em conta possibilidades de crescimento e seus problemas sociais.
Ele disse ainda que o país enfrenta o "paradoxo" de ter contado com o apoio das instituições financeiras internacionais para o modelo econômico que levou a Argentina ao "colapso" e, agora, que sua economia se recupera, ter que superar a crise "sem o apoio internacional" ou mesmo contrariando os organismos financeiros mundiais.
"Os que nos apoiaram durante a queda agora não nos querem dar apoio. Isso não é bom para a Argentina nem será bom para ninguém no mundo", declarou.
Kirchner citou uma série de dados econômicos para convencer sua platéia da recuperação argentina, entre eles o crescimento de 8,7% do PIB em 2003, a expectativa de 7% de crescimento em 2004, o esforço para um superávit fiscal de 5% ao ano e a queda do desemprego, durante seu governo, de 24% para 14,5% da população economicamente ativa.
"A Argentina precisa de investimentos -produtivos, e não especulativos. Queremos construir um capitalismo sério", disse. "Que conte com um Estado inteligente, que possa corrigir males que o mercado não consegue. Um capitalismo com inclusão social."
"Ainda estamos no inferno", declarou Kirchner, afirmando esperar que, ao fim de seu mandato, o país tenha "uma porta para o purgatório".
O presidente argentino afirmou que o país vê como prioritária a consolidação do Mercosul e, referindo-se à Alca, porém sem mencioná-la, disse que já recomendou ao presidente dos EUA, George W. Bush, que conheça a história da construção da União Européia -onde, disse, houve ajuda dos países mais ricos aos mais pobres.


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