São Paulo, Quinta-feira, 06 de Maio de 1999
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COMÉRCIO EXTERIOR
Superávit de apenas US$ 30 milhões em abril confirma pouca recuperação das exportações, apesar da máxi
Balança acumula déficit de US$ 779 mi

ISABEL VERSIANI
da Sucursal de Brasília

A balança comercial voltou a ter um desempenho fraco em abril, apesar da desvalorização do real. Houve um superávit de apenas US$ 30 milhões, resultado de exportações de US$ 3,705 bilhões e importações de US$ 3,675 bilhões.
Com esses valores, o déficit comercial acumulado no ano ficou em US$ 779 milhões, o que torna impossível cumprir a previsão de um superávit de US$ 11 bilhões em 99, que consta do acordo com o Fundo Monetário Internacional. Nesta semana, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, descartou a possibilidade de esse superávit ser alcançado.
Na prática, isso pode resultar em uma dependência maior de investimentos e empréstimos externos para o cumprimento dos compromissos do Brasil com o resto do mundo.
Ontem, o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Mário Marconini, disse que, "em breve", sua secretaria divulgará novas projeções para o resultado da balança no ano.
Indagado se um superávit de US$ 2 bilhões no ano poderia ser um resultado plausível, Marconini respondeu: "Acho que US$ 2 bilhões é pouco".
Segundo o secretário, em abril a balança foi parcialmente prejudicada pela paralisação de auditores e fiscais da Receita Federal, promovida nos dois últimos dias do mês. Nesse período, a média diária de exportações sofreu uma redução de 31,4%, e a de importações, de 25,2%.
Em comparação com abril de 1998, as exportações no mês passado caíram 18,96%. No mesmo período, as importações tiveram uma redução de 23,38%.
De acordo com o secretário, as vendas do país para os Estados Unidos também foram afetadas negativamente pela cobrança, por parte dos armadores norte-americanos, de uma sobretaxa nos fretes da rota de exportação Brasil-Estados Unidos.
A sobretaxa começou a ser cobrada em 21 de março e suspensa depois de negociações entre armadores e governo brasileiro. O mercado norte-americano absorve 18% das exportações brasileiras.
As exportações brasileiras estão sendo prejudicadas, ainda, pela queda internacional dos preços das commodities, em consequência do aumento da capacidade de produção mundial. Essa tendência vem se verificando nos últimos três anos.
Marconini afirmou que o governo espera uma melhora nos resultados da balança comercial nos próximos meses.
A expectativa é que as vendas para o mercado externo sejam beneficiadas pela retomada das linhas de financiamento externas às exportações, pelo início das vendas da safra agrícola e pelo crescimento da economia norte-americana.
Ele ressalvou que os exportadores deverão encontrar dificuldade nas vendas para os mercados latino-americanos. "O desempenho estará condicionado à queda na renda desses países."

Relação estatística
Segundo Marconini, para cada um 1% de queda no PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de riquezas produzidas no país) do país corresponderia uma redução de 2% no total importado.
No caso brasileiro, o governo está trabalhando agora com a perspectiva de uma queda de 2% no PIB este ano -já foi prevista uma queda superior a 3,5%.
Desde a desvalorização do real, houve progressos até surpreendentes do lado financeiro: os juros e as cotações do dólar caíram. No entanto, o desempenho das exportações continua decepcionando.


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