São Paulo, terça-feira, 06 de junho de 2000


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LUÍS NASSIF

As "metas inflacionárias"

Responsável pelas contas externas brasileiras, o diretor da Área Internacional do Banco Central, Daniel Gleizer, é a favor da manutenção de taxas de juros elevadas para prevenir eventuais impactos inflacionários futuros de reajustes de preços administrados. Gleizer sustenta que os juros não estão sendo utilizados para atrair capitais, mesmo porque o fluxo de capitais afetado pela taxa de juros é pequeno e indesejável.
Especialista em política monetária, em entrevista ao "Valor" o economista Affonso Celso Pastore afirma ser a favor da manutenção de juros elevados para atrair capitais. Diz que a inflação não preocupa, porque ainda há muito desemprego inibindo aumento de salários. A questão é que o fluxo de capitais para o Brasil depende do diferencial da taxa de juros americana e brasileira, acrescida do "risco Brasil". Quando aumenta o "risco Brasil", aumenta a rentabilidade dos títulos brasileiros lá fora. Persistindo o desequilíbrio com as taxas internas, parte do estoque de capital especulativo que permanece no país pode ser tentada a sair e ser aplicada nos títulos no exterior -gerando alguma pressão no câmbio.
Como se vê, duas visões diametralmente opostas, mas convergindo para uma mesma conclusão: manutenção de taxas de juros elevadas.
Nos últimos anos, a discussão econômica tornou-se tão hermética que poucas vezes conseguiu transmitir com clareza relações de causa e efeito. O não-detalhamento das causas e efeitos impede que se constate se os conceitos estão fincados em bases corretas ou não.
No início do ano, por exemplo, o Banco Central alegava que o cenário internacional era favorável ao Brasil, mas não poderia reduzir os juros para se precaver em relação às "metas inflacionárias". Agora, as metas inflacionárias não são mais o foco da questão.
O BC não reduz os juros porque tentou em abril, justo em um momento em que as expectativas em relação ao exterior estavam açuladas, e o mercado refugou.
No fundo, o receio do BC é que o mercado volte a refugar de novo a redução de taxas. Mas isso nada tem a ver com "metas inflacionárias".

Crescimento e investimento
Na entrevista, o professor Pastore não identifica relação direta entre taxas de juros e crescimento sustentado. Acha que o crescimento sustentado depende do aumento da taxa de investimento privado, de 17% para 22% do PIB. Para tanto, sugere ele, ou o governo corta mais os seus gastos ou aumenta a arrecadação. Para crescer a 6% ao ano, diz ele, há a necessidade de uma política fiscal mais apertada. Ora, despesa do governo é ganho do setor privado. Superávits fiscais constantes, para pagamento de juros, têm função contracionista sobre a atividade econômica.
Lembro apenas que o relatório McKinsey, sobre a competitividade na economia brasileira, avaliou que ela está 45 pontos percentuais atrás da norte-americana. Desse total, 35 pontos podem ser alcançados por meio de melhor gerenciamento e melhor capacidade das empresas de atuar ao longo da cadeia produtiva. Investimentos podem suprir os dez pontos restantes.
Por tudo isso, a análise das condições macroeconômicas para o desenvolvimento tem que ir além da relação investimento/ PIB.


E-mail - lnassif@uol.com.br



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