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LUÍS NASSIF
As "metas inflacionárias"
Responsável pelas contas
externas brasileiras, o diretor da Área Internacional do
Banco Central, Daniel Gleizer, é
a favor da manutenção de taxas
de juros elevadas para prevenir
eventuais impactos inflacionários futuros de reajustes de preços administrados. Gleizer sustenta que os juros não estão sendo utilizados para atrair capitais, mesmo porque o fluxo de
capitais afetado pela taxa de juros é pequeno e indesejável.
Especialista em política monetária, em entrevista ao "Valor"
o economista Affonso Celso Pastore afirma ser a favor da manutenção de juros elevados para
atrair capitais. Diz que a inflação não preocupa, porque ainda
há muito desemprego inibindo
aumento de salários. A questão
é que o fluxo de capitais para o
Brasil depende do diferencial da
taxa de juros americana e brasileira, acrescida do "risco Brasil".
Quando aumenta o "risco Brasil", aumenta a rentabilidade
dos títulos brasileiros lá fora.
Persistindo o desequilíbrio com
as taxas internas, parte do estoque de capital especulativo que
permanece no país pode ser tentada a sair e ser aplicada nos títulos no exterior -gerando alguma pressão no câmbio.
Como se vê, duas visões diametralmente opostas, mas convergindo para uma mesma conclusão: manutenção de taxas de
juros elevadas.
Nos últimos anos, a discussão
econômica tornou-se tão hermética que poucas vezes conseguiu transmitir com clareza relações de causa e efeito. O não-detalhamento das causas e efeitos impede que se constate se os
conceitos estão fincados em bases corretas ou não.
No início do ano, por exemplo,
o Banco Central alegava que o
cenário internacional era favorável ao Brasil, mas não poderia
reduzir os juros para se precaver
em relação às "metas inflacionárias". Agora, as metas inflacionárias não são mais o foco da
questão.
O BC não reduz os juros porque tentou em abril, justo em
um momento em que as expectativas em relação ao exterior
estavam açuladas, e o mercado
refugou.
No fundo, o receio do BC é que
o mercado volte a refugar de novo a redução de taxas. Mas isso
nada tem a ver com "metas inflacionárias".
Crescimento e investimento
Na entrevista, o professor Pastore não identifica relação direta entre taxas de juros e crescimento sustentado. Acha que o
crescimento sustentado depende do aumento da taxa de investimento privado, de 17% para
22% do PIB. Para tanto, sugere
ele, ou o governo corta mais os
seus gastos ou aumenta a arrecadação. Para crescer a 6% ao
ano, diz ele, há a necessidade de
uma política fiscal mais apertada. Ora, despesa do governo é
ganho do setor privado. Superávits fiscais constantes, para pagamento de juros, têm função
contracionista sobre a atividade
econômica.
Lembro apenas que o relatório McKinsey, sobre a competitividade na economia brasileira,
avaliou que ela está 45 pontos
percentuais atrás da norte-americana. Desse total, 35 pontos
podem ser alcançados por meio
de melhor gerenciamento e melhor capacidade das empresas
de atuar ao longo da cadeia
produtiva. Investimentos podem suprir os dez pontos restantes.
Por tudo isso, a análise das
condições macroeconômicas para o desenvolvimento tem que ir
além da relação investimento/
PIB.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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