São Paulo, terça-feira, 06 de junho de 2000


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ATIVIDADE
Segundo o IBGE, índice teve alta de 3,3% em relação ao ano passado
Indústria tem em abril melhor produção do Real

ISABEL CLEMENTE
DA SUCURSAL DO RIO

A indústria brasileira atingiu, em abril, o seu melhor nível de produção desde o início do Plano Real (1994), mesmo com desaceleração no ritmo do crescimento (o acumulado no ano passou de 8% para 6,6% em abril), segundo dados divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Todos os índices sobre a produção industrial de abril estão positivos -2,9% sobre março e 3,3% sobre abril do ano passado- e mostram também que o país hoje produz 2% a mais do que produzia em fevereiro de 1995, pico de produção só igualado no final do ano passado e que vem sendo superado desde então.
Apesar de "nada brilhante", explica o economista Salomão Quadros, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), tal resultado (2%) é importante porque nesses cinco anos a indústria oscilou ao sabor de várias crises internacionais.
Sílvio Sales, chefe do Departamento de Indústria do IBGE, destaca que a desaceleração do crescimento não é uma reversão de tendência. As comparações com os primeiros meses de 99 estão contaminadas por um efeito estatístico (a base era muito fraca).
Sales informou que a produção industrial cresceu 1,4%, nos primeiros quatro meses do ano, em relação ao último quadrimestre do ano passado, o melhor momento da indústria em 1999.
Economistas do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e da CNI (Confederação Nacional da Indústria) concordam que há boas razões para crer que a indústria continuará sua trajetória de recuperação.
As perspectivas otimistas sobre a indústria são corroboradas pela Sondagem Conjuntural da Indústria da FGV. Salomão Quadros, responsável pela pesquisa, lembra que, em abril, 45% dos empresários apontaram a expansão de capacidade como prioridade. Nos dois últimos anos, essa porcentagem não passava dos 20% e o destaque era redução de custos. "O resultado de abril é compatível com um crescimento de 4,5% para a indústria no ano. Estamos no caminho", disse Quadros.
A recuperação está sendo puxada pela categoria mais sensível às mudanças macroeconômicas (como juros, câmbio e cenário internacional): a de bens duráveis. Incluem-se aí automóveis e eletroeletrônicos, principais produtos do setor, que fechou o quadrimestre com crescimento de 19,7% e único, por sinal, cujo crescimento não perdeu velocidade em relação a março, como os demais.
Quanto aos motivos para a retomada da indústria, iniciada em agosto, o IBGE cita a demanda interna facilitada pelas vendas a prazo, as exportações de manufaturados e a ampliação do investimento. Para o Ipea, o resultado de abril, na comparação com o mesmo mês do ano passado (3,3%), decepcionou. "Esperávamos um crescimento de 6%, mas a desaceleração não é motivo para preocupação", afirmou Paulo Levy, coordenador do Grupo Conjuntura do Ipea. "Hoje, as condições são muito mais favoráveis para um crescimento sustentado do que no passado."
O setor dos bens não-duráveis ficou com os piores resultados. Justamente por depender diretamente do poder aquisitivo da população, da geração de renda e emprego -indicadores que, por natureza, são mais resistentes aos recentes avanços da economia.
O que impede a indústria de manter um crescimento acelerado são as "falhas estruturais" da economia, como juros altos e fatores mais complexos (tecnologia) para o setor de bens de capital (máquinas e equipamentos), aponta o economista Flávio Castelo Branco, da CNI.
A pesquisa do IBGE aborda 6.200 empresas de todo o país.



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