São Paulo, terça-feira, 06 de junho de 2000


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PRIVATIZAÇÃO
Adiamento do leilão provoca expectativa negativa no mercado
Atraso no Banespa sobe juro, diz BC

ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O diretor de Finanças Públicas do Banco Central, Carlos Eduardo de Freitas, disse que novos atrasos no processo de privatização do Banespa poderão despertar expectativas negativas no mercado financeiro e aumentar as taxas de juros que investidores nacionais e estrangeiros cobram para emprestar ao Brasil.
"É um perigo real", disse o diretor do BC, realimentando a polêmica sobre os prejuízos que o atraso na venda do Banespa pode causar aos cofres públicos. Ontem, a Advocacia Geral da União entrou com recurso contra liminares que suspendem o leilão de privatização.
O Ministério Público chegou a apontar problemas nos cálculos anteriores do governo, obrigando o BC a rever seus números e a chegar a um prejuízo potencial equivalente a menos da metade do inicialmente projetado.
A tese central dos cálculos do BC é que, para assumir o controle acionário do Banespa, o Tesouro levantou dinheiro emitindo R$ 2,075 bilhões em títulos.
O adiamento do leilão causaria prejuízo anual de R$ 394 milhões aos cofres públicos, pois esses são os juros que o Tesouro paga sobre os títulos emitidos.
Para ilustrar sua tese, o BC afirma que o dinheiro é suficiente para construir 26,3 mil casas populares. "Dito de outra forma, são 10 mil pessoas por mês que ficam sem receber um teto para moradia", diz o estudo do BC.
O Ministério Público argumentou que os cálculos do BC estavam errados, pois não consideravam que o Tesouro recebe dividendos sobre as ações do Banespa.
O BC refez os cálculos e descobriu que os lucros distribuídos pelo Banespa nos últimos anos podem lhe proporcionar até R$ 220 milhões por ano. Ou seja, o prejuízo potencial cai para R$ 174 milhões anuais.
Ontem, o governo apresentou novas estimativas de prejuízo em um recurso entregue ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) para tentar derrubar duas liminares obtidas pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo contra a privatização, marcada para 18 de julho.
Pelos cálculos enviados ao STJ, o país corre o risco de sofrer prejuízo de até R$ 4 bilhões no pagamento de juros de sua dívida interna.
A perda ocorreria caso o adiamento do leilão do Banespa leve a uma reversão nas expectativas do mercado que impeça uma queda de um ponto percentual nos juros básicos da economia, hoje fixados em 18,5% anuais.
Freitas reconhece que os cálculos do BC têm pouca precisão, pois é impossível estabelecer uma relação matemática entre uma coisa e outra. Mas ele sustenta que o estudo técnico dá uma noção da ordem de grandeza dos prejuízos que o atraso na privatização pode causar aos cofres públicos. ""Estamos falando de bilhões."
O diretor do BC negou que o governo esteja exagerando os possíveis prejuízos com o adiamento da privatização e não se rendeu nem mesmo à argumentação de que o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) não dedicou, nas atas de suas últimas reuniões, uma só linha sobre os atrasos na venda do Banespa, embora o leilão do banco já tenha sido adiado duas vezes.
"O mercado já esperava algum embaraço, mas, se tivermos embaraço em cima de embaraço, a expectativa vira", disse.



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