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PRIVATIZAÇÃO
Adiamento do leilão provoca expectativa negativa no mercado
Atraso no Banespa sobe juro, diz BC
ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O diretor de Finanças Públicas
do Banco Central, Carlos Eduardo de Freitas, disse que novos
atrasos no processo de privatização do Banespa poderão despertar expectativas negativas no mercado financeiro e aumentar as taxas de juros que investidores nacionais e estrangeiros cobram para emprestar ao Brasil.
"É um perigo real", disse o diretor do BC, realimentando a polêmica sobre os prejuízos que o
atraso na venda do Banespa pode
causar aos cofres públicos. Ontem, a Advocacia Geral da União
entrou com recurso contra liminares que suspendem o leilão de
privatização.
O Ministério Público chegou a
apontar problemas nos cálculos
anteriores do governo, obrigando
o BC a rever seus números e a chegar a um prejuízo potencial equivalente a menos da metade do inicialmente projetado.
A tese central dos cálculos do
BC é que, para assumir o controle
acionário do Banespa, o Tesouro
levantou dinheiro emitindo R$
2,075 bilhões em títulos.
O adiamento do leilão causaria
prejuízo anual de R$ 394 milhões
aos cofres públicos, pois esses são
os juros que o Tesouro paga sobre
os títulos emitidos.
Para ilustrar sua tese, o BC afirma que o dinheiro é suficiente para construir 26,3 mil casas populares. "Dito de outra forma, são 10
mil pessoas por mês que ficam
sem receber um teto para moradia", diz o estudo do BC.
O Ministério Público argumentou que os cálculos do BC estavam
errados, pois não consideravam
que o Tesouro recebe dividendos
sobre as ações do Banespa.
O BC refez os cálculos e descobriu que os lucros distribuídos
pelo Banespa nos últimos anos
podem lhe proporcionar até R$
220 milhões por ano. Ou seja, o
prejuízo potencial cai para R$ 174
milhões anuais.
Ontem, o governo apresentou
novas estimativas de prejuízo em
um recurso entregue ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) para
tentar derrubar duas liminares
obtidas pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo contra a privatização, marcada para 18 de julho.
Pelos cálculos enviados ao STJ,
o país corre o risco de sofrer prejuízo de até R$ 4 bilhões no pagamento de juros de sua dívida interna.
A perda ocorreria caso o adiamento do leilão do Banespa leve a
uma reversão nas expectativas do
mercado que impeça uma queda
de um ponto percentual nos juros
básicos da economia, hoje fixados
em 18,5% anuais.
Freitas reconhece que os cálculos do BC têm pouca precisão,
pois é impossível estabelecer uma
relação matemática entre uma
coisa e outra. Mas ele sustenta que
o estudo técnico dá uma noção da
ordem de grandeza dos prejuízos
que o atraso na privatização pode
causar aos cofres públicos. ""Estamos falando de bilhões."
O diretor do BC negou que o governo esteja exagerando os possíveis prejuízos com o adiamento
da privatização e não se rendeu
nem mesmo à argumentação de
que o Copom (Comitê de Política
Monetária do BC) não dedicou,
nas atas de suas últimas reuniões,
uma só linha sobre os atrasos na
venda do Banespa, embora o leilão do banco já tenha sido adiado
duas vezes.
"O mercado já esperava algum
embaraço, mas, se tivermos embaraço em cima de embaraço, a
expectativa vira", disse.
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