São Paulo, quinta-feira, 06 de junho de 2002

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Para Belluzzo, Banco Central fez barbeiragem

DA REPORTAGEM LOCAL

A turbulência que tem sacudido o mercado financeiro nos últimos dias tem como principal responsável as "barbeiragens" cometidas pelo Banco Central. Para o professor de economia da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo apontar o fato de o pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, liderar as pesquisas para a sucessão presidencial como motivo da histeria no mercado é um exagero.
"Responsabilizar o fator político pela instabilidade do mercado financeiro chegou a se tornar irritante. O clima das eleições até ajuda um pouco, mas foram as barbeiragens do BC que desencadearam isso [a turbulência"", afirma Belluzzo.
A antecipação da marcação a mercado de títulos públicos que compõem fundos de investimentos na semana passada -e as decorrentes perdas provocadas pelas mudanças- levou investidores a buscarem possibilidades de aplicações mais seguras, como o dólar. Isso ajudou a fazer a moeda norte-americana disparar 3,7% somente nesta semana.
"Tecnicamente a medida é correta. Mas o mercado já estava ruim e isso aumentou as incertezas. Os cotistas de fundos entenderam que levaram um calote", diz Belluzzo.
Para o economista, o governo não pode deixar o mercado "encharcado de liquidez". O aumento da rejeição aos títulos públicos pelas instituições financeiras fez com que "sobrassem recursos" no mercado, o que aumentou a demanda por dólares nestes primeiros dias do mês. Uma das formas de o governo acalmar o mercado seria, na opinião do economista, a intervenção por meio da venda de dólares.
Já para o professor de economia da USP em Ribeirão Preto Alberto Borges Mathias o ambiente político começa a ganhar força em sua influência no mercado financeiro neste momento. "A nova contabilização nos fundos tinha de ser implementada de qualquer forma."
O economista-chefe do banco ABM-Amro Asset Management, Hugo Penteado, diz acreditar que tanto as mudanças nas regras de contabilização dos fundos quanto o cenário político devem ser levados em conta na hora de avaliar a volta da turbulência ao mercado nos últimos dias. Para ele, o principal problema dessa agitação financeira é sua influência negativa na esperada retomada da trajetória de queda dos juros básicos da economia.
"Com o mercado de câmbio novamente agitado, o Copom [Comitê de Política Monetária" deve se tornar mais cauteloso na hora de cortar os juros. Não sabemos ainda se manteremos nossa perspectiva de corte de até dois pontos percentuais na Selic [atualmente em 18,5% ao ano" até as eleições."
Penteado afirma que ainda é cedo para prever qual será a reação do Copom, mas que se a alta do câmbio persistir a cautela em relação ao corte nos juros será maior.
"A pressão no câmbio sofre a influência da maior liquidez registrada no mercado nos últimos dias. Se o governo arrumar uma forma de diminuir esse excesso de recursos poderá diminuir a pressão sobre o mercado de câmbio".



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