|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para Belluzzo, Banco Central fez barbeiragem
DA REPORTAGEM LOCAL
A turbulência que tem sacudido o mercado financeiro nos últimos
dias tem como principal responsável as "barbeiragens" cometidas
pelo Banco Central. Para o professor de economia da Unicamp
Luiz Gonzaga Belluzzo apontar o
fato de o pré-candidato do PT,
Luiz Inácio Lula da Silva, liderar
as pesquisas para a sucessão presidencial como motivo da histeria
no mercado é um exagero.
"Responsabilizar o fator político pela instabilidade do mercado
financeiro chegou a se tornar irritante. O clima das eleições até ajuda um pouco, mas foram as barbeiragens do BC que desencadearam isso [a turbulência"", afirma Belluzzo.
A antecipação da marcação a
mercado de títulos públicos que
compõem fundos de investimentos na semana passada -e as decorrentes perdas provocadas pelas mudanças- levou investidores a buscarem possibilidades de
aplicações mais seguras, como o
dólar. Isso ajudou a fazer a moeda
norte-americana disparar 3,7%
somente nesta semana.
"Tecnicamente a medida é correta. Mas o mercado já estava
ruim e isso aumentou as incertezas. Os cotistas de fundos entenderam que levaram um calote",
diz Belluzzo.
Para o economista, o governo
não pode deixar o mercado "encharcado de liquidez". O aumento da rejeição aos títulos públicos
pelas instituições financeiras fez
com que "sobrassem recursos"
no mercado, o que aumentou a
demanda por dólares nestes primeiros dias do mês. Uma das formas de o governo acalmar o mercado seria, na opinião do economista, a intervenção por meio da
venda de dólares.
Já para o professor de economia
da USP em Ribeirão Preto Alberto
Borges Mathias o ambiente político começa a ganhar força em sua
influência no mercado financeiro
neste momento. "A nova contabilização nos fundos tinha de ser
implementada de qualquer forma."
O economista-chefe do banco
ABM-Amro Asset Management,
Hugo Penteado, diz acreditar que
tanto as mudanças nas regras de
contabilização dos fundos quanto
o cenário político devem ser levados em conta na hora de avaliar a
volta da turbulência ao mercado
nos últimos dias. Para ele, o principal problema dessa agitação financeira é sua influência negativa
na esperada retomada da trajetória de queda dos juros básicos da
economia.
"Com o mercado de câmbio novamente agitado, o Copom [Comitê de Política Monetária" deve
se tornar mais cauteloso na hora
de cortar os juros. Não sabemos
ainda se manteremos nossa perspectiva de corte de até dois pontos
percentuais na Selic [atualmente
em 18,5% ao ano" até as eleições."
Penteado afirma que ainda é cedo para prever qual será a reação
do Copom, mas que se a alta do
câmbio persistir a cautela em relação ao corte nos juros será maior.
"A pressão no câmbio sofre a influência da maior liquidez registrada no mercado nos últimos dias. Se o governo arrumar uma forma de diminuir esse excesso de
recursos poderá diminuir a pressão sobre o mercado de câmbio".
Texto Anterior: Para Delfim, BC errou e deve "ficar quieto" Próximo Texto: Guia dos fundos: Investidor deve tentar manter a calma Índice
|