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LUÍS NASSIF
O modelo iG
A maior aposta da Internet
brasileira chama-se iG, o
portal de Internet gratuita presidido pelo publicitário Nizan
Guanaes. O objetivo final de Nizan é ter um canal de televisão e
montar um grupo de mídia de
espectro amplo. Mas, para que o
objetivo seja alcançado, depende
de o modelo iG de portal ser
bem-sucedido.
O modelo é basicamente o de
consolidar uma marca e criar
um império em torno dela -em
vez de o processo convencional
da criação do império permitir a
consolidação da marca. Ou seja,
consolidada a marca iG, poder
vender o direito de uso para um
conjunto de empresas -como o
iG Flores ou o iG Viagem etc.- e
fazer receita. Fazendo receita,
alavancar recursos e adquirir
emissoras.
O desafio do iG é curioso. Seu
modelo de negócios tem lógica, é
criativo, mas depende de uma
variável fundamental: o tempo
de maturação e, consequentemente, a manutenção da fé do
mercado em seu projeto. Se o
tempo for superior à paciência
do mercado, o projeto naufraga.
Caso contrário, será o primeiro
caso em que uma empresa puramente da nova economia conseguirá invadir o território da mídia convencional -e em tempo
recorde.
Muito do sucesso do iG dependerá de sua capacidade de apresentar boas respostas aos críticos
e impedir que o ceticismo contamine os investidores.
O iG tem dois trunfos. O primeiro, a história vitoriosa de
seus fundadores. O segundo, as
conquistas em poucos meses de
vida. Conseguiu receita publicitária, por meio da venda de projetos. Os concorrentes contestam
os números de Guanaes -que
alega que o iG obteve um terço
das receitas de Internet-, sustentando que na conta estão incluídas as verbas de marketing
cooperativo em outras mídia.
Nizan nega.
O iG consolidou imagem como
um dos portais mais conhecidos
no mercado. Montou uma base
de 2,4 milhões de clientes, diz Nizan. Os concorrentes questionam também esse número. Parte
relevante dessa base é de usuários não-identificados -que entram com login e senha "iG", pelo fato de o serviço ser gratuito, o
que não os tornam automaticamente consumidores de produtos iG. Nizan contra-argumenta
que, mesmo que a base seja a
metade ou um terço, ainda assim é um feito, para um período
tão curto de vida.
O melhor exemplo do desempenho do iG -diz ele- é o fato
de ter antecipado as metas iniciais do projeto e de ter conquistado, recentemente, mais investidores para o portal. Os concorrentes argumentam que, no modelo atual de negócios da Internet, os investidores entram com
determinados valores, mas o
preço a ser pago é fixado posteriormente, em relação ao desempenho do portal. Nizan sustenta
que não, que foi fixado um preço
firme de venda de ações.
O ponto central é que o modelo
de Internet gratuita transforma
cada usuário em um fator de
custo direto e em um potencial
produtor de receita indireta. E aí
se volta ao ponto central da história: qual o tempo e o dinheiro
necessário para consolidar o modelo?
Segundo Nizan, o custo direto
do iG é de US$ 7 milhões mensais
e o plano de negócios prevê o
equilíbrio em 2002. Mas ele está
disposto a apostar que chegará a
esse equilíbrio antes.
A questão é que, por razões estratégicas, o iG apresenta poucos
números para consubstanciar
seu raciocínio, partindo da visão
correta de que a divulgação desses números, antes que o projeto
se consolide, será utilizada pela
concorrência para torpedeá-lo.
Os dados que apresenta para demonstrar a viabilidade do projeto denotam mais o grande publicitário que o financista -como,
por exemplo, justificar o investimento feito com o iG Flores (desproporcional para o retorno pretendido, a não ser como fixação
da imagem iG), com a informação de que o mercado de flores
representa US$ 1 bilhão no país.
Na corrida da Internet brasileira, o iG é o grande recordista
dos 100 m rasos. Mas ele se propõe a vencer os 100 m e a maratona. É uma aposta que só poderá ser respondida pelo tempo.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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