|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SOCORRO
Estudo de Fabio Giambiagi e André Averbug, do BNDES, diz que demora em fechar acordo agravou situação do país
"FMI errou três vezes na crise brasileira"
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
O FMI (Fundo Monetário Internacional) cometeu pelo menos
três erros importantes antes, durante e depois da crise da desvalorização cambial brasileira, ocorrida em janeiro de 1999, embora o
acordo com o organismo internacional e a política econômica adotada com seu amparo devam ser
considerados bons para o país.
Essas conclusões são dos economistas Fabio Giambiagi e André
Averbug, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no estudo "A
Crise Brasileira de 1998/1999 -Origens e Consequências", que foi divulgado esta semana pelo banco
estatal.
Na época em que o estudo foi
feito, Averbug trabalhava no
BNDES cedido pelo Pnud, o programa das Nações Unidas para o
desenvolvimento, graças a um
convênio estabelecido entre os
dois órgãos.
O BNDES ressalva que as opiniões dos economistas não representam, necessariamente, o ponto
de vista da instituição como um
todo.
O primeiro erro, de acordo com
o estudo, foi a cláusula vigente na
primeira versão do acordo, assinado no final de 1998. Segundo a
cláusula, as reservas internacionais líquidas do país não poderiam ser inferiores a US$ 20 milhões.
Essa cláusula, no entender dos
economistas, ressaltou, no período pré-crise, a idéia de que o governo brasileiro estava perdendo
autonomia decisória no que se refere ao propósito de manter a política então vigente de câmbio fixo, com desvalorização gradual.
"Na prática, o acordo com o
FMI limitava a margem de intervenção do Banco Central em defesa da política cambial", dizem os
autores do texto, acrescentando
em seguida: "Com essa cláusula, o
acordo com o FMI tornou-se de
certa forma estéril."
Já nas conclusões do trabalho,
eles afirmam que a limitação
"acabou alimentando as especulações contra a política cambial
praticada até janeiro de 1999".
Demora
O segundo erro do organismo
internacional teria sido o de "ter
contribuído para a paralisia que
tomou conta das autoridades brasileiras nas primeiras semanas da
crise, após a desvalorização".
Giambiagi e Averbug sustentam
que a demora do organismo internacional em restabelecer as negociações com o país durante a
crise "deu sua cota de contribuição" para que as autoridades econômicas do país tenham assistido
"passivamente" à alta do dólar a
uma média de mais de 4,5% por
dia útil.
Nesse ponto, o estudo condena
a paralisia, mesmo considerando
os complicadores trazidos por
"eventuais divergências entre o
presidente do Banco Central na
época (Francisco Lopes) e o ministro da Fazenda (o mesmo de
hoje, Pedro Malan) e pelo fato de
ainda não terem sido votadas medidas de ajuste fiscal necessárias a
um programa de estabilização".
Repique
O terceiro erro do FMI na crise
brasileira teria ocorrido já no segundo semestre de 1999, após a
turbulência ter sido controlada.
Foi, segundo o estudo, o fato de
não ter sido feita uma revisão
mais rápida da permissão para o
país gastar parte das suas reservas
no mercado de câmbio.
Esse erro, de acordo com os economistas, permitiu, em parte, "a
alta espasmódica da inflação no
final de 1999".
Na época, o dólar, após ter caído
do pico de mais de R$ 2,00 que
atingiu no primeiro trimestre do
ano para R$ 1,65, chegou novamente a R$ 2,00. Isso pressionou
os preços internos, que já sofriam
os efeitos de outros fatores, como
a alta do barril do petróleo no
mercado internacional.
No seu conjunto, o trabalho dos
dois economistas é amplamente
favorável à política do governo
após a crise.
Em relação ao FMI, eles destacam que o "colchão" representado pelo empréstimo de US$ 42
milhões feito pelo Fundo permitiu ao governo brasileiro "superar
circunstâncias dramáticas", entre
elas a elevação e posterior redução dos juros em intensidade e velocidade adequadas.
A austeridade fiscal decorrente
da receita do FMI, para os economistas, "mudou radicalmente o
contexto econômico do país",
permitindo que o Brasil conseguisse superar a crise com a inflação subindo "relativamente pouco".
A nova política permitiu ainda
ao país voltar a crescer (descontados os efeitos típicos de cada período, ditos sazonais), contra todos os prognósticos, só não obtendo melhor desempenho por
causa dos efeitos negativos trazidos para 99 pela recessão do último trimestre de 98, no pré-crise.
Essa recessão, de acordo com o
estudo, também teve seu lado
bom: teria ajudado o Brasil a sair
da crise a custos menores do que,
por exemplo, pagaram o México e
a Coréia do Sul.
A situação recessiva prévia teria
impedido o repasse generalizado
aos preços dos custos da desvalorização cambial, explicando, em
parte, a baixa inflação ao consumidor (8,9% pelo índice oficial,
medido pelo IBGE).
O representante do Fundo Monetário Internacional no Brasil,
Lorenzo Pérez, afirmou à Folha
que não vai fazer comentários sobre o estudo antes de sua publicação.
Texto Anterior: Concorrência: Grandino toma posse hoje no Cade Próximo Texto: Reforma: Déficit da Previdência vai cair em US$ 1,7 bi Índice
|