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OPINIÃO ECONÔMICA
Economia: boas medidas e más notícias
MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES
As boas medidas anunciadas
no último dia 25 de junho
são políticas de crédito e emprego
para inclusão econômica e social
das populações de baixa renda. A
expansão do crédito popular, do
microcrédito e do crédito rural
(para assentamentos e pequena
propriedade familiar) com baixas
taxas de juros significa a democratização do crédito bancário. Esse é
um dos instrumentos mais importantes para a inclusão econômica
nas sociedades modernas. O programa do primeiro emprego para
jovens representa uma forma de
inclusão socioeconômica superior
à da complementação de renda
para as famílias pobres. O governo
pretende alcançar a fração mais
vulnerável da população, os jovens de 16 a 24 anos, entre os quais
se registra a maior taxa de desemprego e violência (sofrida e praticada).
As más notícias não são novas
nem inesperadas. Referem-se à
tendência ao agravamento da desaceleração do investimento, do
crescimento do PIB e das exportações, decorrentes das políticas monetária e cambial praticadas pelo
BC no 1º semestre. Com as tendências deflacionárias atuais, as altas
taxas de juros nominais tornaram-se absurdas em termos reais e
permitem aumentar ainda mais a
"segnoriage" exercida pela tesouraria dos bancos sobre a dívida
pública. Baixar a taxa Selic para
24% no fim de julho continua insuficiente diante de uma inflação
mensal que em junho se aproxima
de zero e é projetada pelo próprio
BC em menos de 7% ao ano para
os próximos 12 meses. A restrição
de crédito interno e os altos
"spreads" praticados no mercado
financeiro agravam a tendência
recessiva da economia, o que implica a necessidade de maior agilidade na flexibilização da política
monetária.
Do ponto de vista da política
cambial -com as tendências à
deflação da economia globalizada-, o Brasil teria de tentar
acompanhar pelo menos o movimento de depreciação do dólar,
sob pena de tornar não-competitivas as nossas exportações de manufaturas e a substituição de importações, além de pressionar a
conta de serviços e remessa de lucros. A altíssima taxa de juros interna favorece a entrada de capitais voláteis (cerca de US$ 13 bilhões até o dia 3), o que obviamente aumenta a vulnerabilidade externa da economia, além de apreciar ainda mais o real. Não foi por
outra razão que a Argentina resolveu, como antes o fizera o Chile,
colocar prazos de "quarentena" à
entrada de capitais.
As novas políticas de expansão
do microcrédito com juros mais
baixos na ponta (de cerca de 2%
ao mês) não podiam esperar pela
"flexibilização" da política monetária, que mal começou e será provavelmente lenta. Sobre o microcrédito, houve acordo entre o presidente da República, o ministro
da Fazenda e os presidentes dos
grandes bancos públicos, o
BNDES, a Caixa e o Banco do Brasil. Essas instituições, além de possuírem "funding" mais barato,
têm maior compromisso com o desenvolvimento econômico e social
do que o sistema financeiro privado e o próprio BC.
Os recursos adicionais de custo
zero são 2% dos depósitos à vista
para todo o sistema, mas os bancos públicos podem utilizar os recursos dos fundos sociais, em particular o FAT, que permitem abertura de linhas de crédito mais baratas. Assim o BNDES pretende
utilizar R$ 1 bilhão, ainda neste
ano, para empréstimos à pequena
produção independente (quase toda informal). A Caixa aumentará
substancialmente o crédito para
capital de giro das micro e pequenas empresas com recursos próprios e do FAT que deverão alcançar cerca de R$ 3 bilhões. O Banco
do Brasil, além de financiar neste
ano cerca de R$ 5 bilhões para a
pequena produção rural, deve
abrir uma agência de microfinanças -Banco do Popular- com
lastro de R$ 2 bilhões (equivalente
a 2% dos seus depósitos à vista).
A Caixa já registrou desde maio
deste ano 200 mil contas simplificadas que permitem o microcrédito popular para qualquer uso e
sem comprovação de renda (Caixa Aqui) e espera alcançar mais
de 500 mil contas que dariam direito a essa linha de crédito até o
fim do ano. Além desses novos correntistas, também os da poupança
com saldo de até R$ 100 (cerca de
12,8 milhões de clientes) poderão
ter acesso a esse tipo de crédito rotativo simplificado. A Caixa é a
instituição cuja distribuição de
contas e clientes mais se aproxima
da população de baixa renda e
das classes médias baixas do país.
Possui 12 mil pontos de atendimento, que cobrem os 5.561 municípios brasileiros. Trata-se, portanto, de uma rede capaz de fazer
uma política universal de crédito
para a população de baixa renda e
pequenos empreendedores muito
superior às políticas focalizadas já
existentes, podendo alcançar,
além dos seus 22 milhões de clientes, mais 2,3 milhões de pessoas
neste ano.
Representando o esforço conjunto das três grandes instituições públicas de crédito, será posto em
movimento um fundo rotativo de
mais de R$ 10 bilhões que terá efeitos apreciáveis como multiplicador de crédito e de renda para os
setores menos favorecidos da população e dos pequenos empresários. Os bancos privados, apesar de
muito concentrados, não possuem
instituições de crédito maiores que
a dos três grandes bancos públicos.
Assim, diferentemente do que
muitos pensam, pode haver uma
saudável "competição" entre os
grandes bancos de varejo (públicos e privados) e seus intermediários financeiros, pelo menos no financiamento do crédito aos consumidores de baixa renda (de
quem são hoje cobrados no mercado taxas extorsivas superiores a
400% ao ano) e para o capital de
giro ou de investimento dos micro
e pequenos empreendedores.
Parte dessas ações depende da
aprovação do Conselho Monetário Nacional para entrar em vigor.
Esperamos que o CMN não coloque restrições ou delongas na regulamentação das medidas anunciadas, seja por pressão do sistema
financeiro privado, seja pelo "conservadorismo" do próprio BC.
Maria da Conceição Tavares, 73, economista, é professora emérita da UFRJ
(Universidade Federal do Rio de Janeiro),
professora associada da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e ex-deputada federal (PT-RJ).
Internet: www.abordo.com/mctavares
E-mail -
mctavares@abordo.com.br
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