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São Paulo, domingo, 06 de julho de 2003

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ESPETÁCULO EM XEQUE

Baixa escolaridade e produtividade menor limitam ganhos sobre capital e afugentam investimento externo

Brasil oferece retorno baixo a investidor

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Investir na economia brasileira tem sido, de forma geral, pior negócio do que em outros países emergentes. Os ganhos sobre o capital no Brasil são, em média, de 15% ao ano, contra taxas de 31% na Índia e 21% no Chile. Para especialistas, isso tem contribuído para a redução no fluxo de investimentos externos para o país.
Estudo inédito dos economistas Fernando Veloso (Ibmec), Samuel Pessôa (Fundação Getúlio Vargas) e Victor Gomes (Universidade Católica de Brasília) mostra que o retorno bruto (sem considerar impostos e depreciação) e real (descontada a inflação) de 15% sobre investimentos no Brasil está no mesmo nível que o registrado pelos Estados Unidos.
O que, à primeira vista, pode parecer ótima notícia -afinal a economia norte-americana é a maior do mundo- é, na verdade, péssimo sinal. Segundo leis da economia, países em desenvolvimento oferecem retornos maiores a investimentos produtivos do que nações industrializadas.
Isso acontece porque a forte escassez de capital no primeiro grupo de países faz com que novos investimentos tenham grande impacto sobre o crescimento da produção, garantindo altos retornos ao investidor. Já em economias desenvolvidas, onde o estoque de capital é bem maior, os ganhos marginais de novos investimentos tendem a ser menores.
Segundo os autores, o Brasil destoa da regra geral por duas razões principais: baixa escolaridade e produtividade limitada.
"Um trabalhador com baixo preparo educacional terá mais dificuldade para operar uma máquina sofisticada do que outro que seja mais preparado. É o que ocorre no Brasil", afirma o economista Fernando Veloso, professor do Ibmec no Rio de Janeiro.
Por isso, outros países emergentes que oferecem maiores ganhos reais médios aos investimentos têm nível educacional superior ao brasileiro. Na Costa Rica, o retorno bruto ao capital é de 20% anuais contra os 15% no Brasil.
Segundo dados de um estudo do economista Ricardo Paes de Barros, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a escolaridade média da população costarriquenha com mais de 15 anos é de 7 anos, contra 5,6 anos da brasileira. O mesmo ocorre no Chile, onde o retorno bruto de investimentos é de 21%. Já a escolaridade média do país deve estar próxima a 9 anos, segundo o economista André Urani, presidente do Iets (Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade).
"Vivemos na época da sociedade da informação, que privilegia o conhecimento tecnológico e a especialização. Por isso, a educação é cada vez mais fundamental para a produtividade", diz Urani.

Produtividade
A baixa escolaridade da população brasileira afeta outro indicador econômico que também atua como freio ao retorno dos investimentos: a produtividade.
Mas a limitada produtividade da economia brasileira não é só produto do nível educacional. Outros fatores, como avanço tecnológico e eficiência, influenciam esse indicador. No caso do Brasil, dizem especialistas, esses dois fatores são prejudicados pela baixa abertura da economia brasileira.
Prova disso são as brutais diferenças entre a produtividade -e, por conseguinte, a rentabilidade- entre distintos setores da economia, como lembra o especialista Alberto Borges Matias, sócio da ABM Consulting.
"Setores mais dinâmicos e abertos ao comércio exterior, como o siderúrgico e a agroindústria, têm oferecido retorno ao investidor muito superior ao de segmentos menos eficientes, como o de eletroeletrônicos e o de informática no Brasil", diz Matias.
Diferenças de setores específicos à parte, a economia brasileira ainda é bastante fechada. A relação entre a corrente de comércio exterior e o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil é pouco superior a 20%, contra 70% da Costa Rica e 60% do Chile, aproximadamente.
"A abertura da economia é importante porque permite que determinados segmentos nos quais não temos vantagem comparativa consigam, por exemplo, insumos mais baratos no exterior. Isso permite que a economia seja mais eficiente", diz Veloso.
De acordo com especialistas, em países onde o mercado de consumo interno é muito grande -como no Brasil e nos Estados Unidos-, dificilmente o grau de abertura da economia será tão alto quanto o de países menores, como o próprio Chile. Mas afirmam que, no caso brasileiro, uma abertura comercial maior é fundamental para que a economia se torne mais produtiva. Atualmente, a taxa de expansão da produtividade brasileira cresce a uma taxa de 1,5% ao ano.
Nas palavras de Veloso, "esse número é bem melhor que as taxas negativas da década de 80, mas precisaria aumentar para 3% ao ano para que o país aumentasse seu potencial de crescimento de forma mais significativa".
O estudo de Veloso, Pessôa e Gomes conclui que, embora mais investimentos sejam necessários para que a economia volte a crescer, essa esperada elevação só terá efeito significativo se vier acompanhada de um aumento da escolaridade e da produtividade.


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