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ESPETÁCULO EM XEQUE
Baixa escolaridade e produtividade menor limitam ganhos sobre capital e afugentam investimento externo
Brasil oferece retorno baixo a investidor
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Investir na economia brasileira
tem sido, de forma geral, pior negócio do que em outros países
emergentes. Os ganhos sobre o
capital no Brasil são, em média, de
15% ao ano, contra taxas de 31%
na Índia e 21% no Chile. Para especialistas, isso tem contribuído
para a redução no fluxo de investimentos externos para o país.
Estudo inédito dos economistas
Fernando Veloso (Ibmec), Samuel Pessôa (Fundação Getúlio
Vargas) e Victor Gomes (Universidade Católica de Brasília) mostra que o retorno bruto (sem considerar impostos e depreciação) e
real (descontada a inflação) de
15% sobre investimentos no Brasil está no mesmo nível que o registrado pelos Estados Unidos.
O que, à primeira vista, pode parecer ótima notícia -afinal a economia norte-americana é a maior
do mundo- é, na verdade, péssimo sinal. Segundo leis da economia, países em desenvolvimento
oferecem retornos maiores a investimentos produtivos do que
nações industrializadas.
Isso acontece porque a forte escassez de capital no primeiro grupo de países faz com que novos
investimentos tenham grande
impacto sobre o crescimento da
produção, garantindo altos retornos ao investidor. Já em economias desenvolvidas, onde o estoque de capital é bem maior, os ganhos marginais de novos investimentos tendem a ser menores.
Segundo os autores, o Brasil
destoa da regra geral por duas razões principais: baixa escolaridade e produtividade limitada.
"Um trabalhador com baixo
preparo educacional terá mais dificuldade para operar uma máquina sofisticada do que outro
que seja mais preparado. É o que
ocorre no Brasil", afirma o economista Fernando Veloso, professor
do Ibmec no Rio de Janeiro.
Por isso, outros países emergentes que oferecem maiores ganhos
reais médios aos investimentos
têm nível educacional superior ao
brasileiro. Na Costa Rica, o retorno bruto ao capital é de 20%
anuais contra os 15% no Brasil.
Segundo dados de um estudo
do economista Ricardo Paes de
Barros, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a escolaridade média da população
costarriquenha com mais de 15
anos é de 7 anos, contra 5,6 anos
da brasileira. O mesmo ocorre no
Chile, onde o retorno bruto de investimentos é de 21%. Já a escolaridade média do país deve estar
próxima a 9 anos, segundo o economista André Urani, presidente
do Iets (Instituto de Estudos de
Trabalho e Sociedade).
"Vivemos na época da sociedade da informação, que privilegia o
conhecimento tecnológico e a especialização. Por isso, a educação
é cada vez mais fundamental para
a produtividade", diz Urani.
Produtividade
A baixa escolaridade da população brasileira afeta outro indicador econômico que também atua
como freio ao retorno dos investimentos: a produtividade.
Mas a limitada produtividade
da economia brasileira não é só
produto do nível educacional.
Outros fatores, como avanço tecnológico e eficiência, influenciam
esse indicador. No caso do Brasil,
dizem especialistas, esses dois fatores são prejudicados pela baixa
abertura da economia brasileira.
Prova disso são as brutais diferenças entre a produtividade -e,
por conseguinte, a rentabilidade- entre distintos setores da
economia, como lembra o especialista Alberto Borges Matias, sócio da ABM Consulting.
"Setores mais dinâmicos e abertos ao comércio exterior, como o
siderúrgico e a agroindústria, têm
oferecido retorno ao investidor
muito superior ao de segmentos
menos eficientes, como o de eletroeletrônicos e o de informática
no Brasil", diz Matias.
Diferenças de setores específicos à parte, a economia brasileira
ainda é bastante fechada. A relação entre a corrente de comércio
exterior e o PIB (Produto Interno
Bruto) do Brasil é pouco superior
a 20%, contra 70% da Costa Rica e
60% do Chile, aproximadamente.
"A abertura da economia é importante porque permite que determinados segmentos nos quais
não temos vantagem comparativa
consigam, por exemplo, insumos
mais baratos no exterior. Isso permite que a economia seja mais eficiente", diz Veloso.
De acordo com especialistas,
em países onde o mercado de
consumo interno é muito grande
-como no Brasil e nos Estados
Unidos-, dificilmente o grau de
abertura da economia será tão alto quanto o de países menores,
como o próprio Chile. Mas afirmam que, no caso brasileiro, uma
abertura comercial maior é fundamental para que a economia se
torne mais produtiva. Atualmente, a taxa de expansão da produtividade brasileira cresce a uma taxa de 1,5% ao ano.
Nas palavras de Veloso, "esse
número é bem melhor que as taxas negativas da década de 80,
mas precisaria aumentar para 3%
ao ano para que o país aumentasse seu potencial de crescimento
de forma mais significativa".
O estudo de Veloso, Pessôa e
Gomes conclui que, embora mais
investimentos sejam necessários
para que a economia volte a crescer, essa esperada elevação só terá
efeito significativo se vier acompanhada de um aumento da escolaridade e da produtividade.
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