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São Paulo, domingo, 06 de julho de 2003

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ESPETÁCULO EM XEQUE

De 22 subgrupos, 17 amargam queda no fluxo de capital; insegurança regulatória também prejudica

Investimento externo cai até 68% em 2003

DA REPORTAGEM LOCAL

Na balança dos fatores que têm espantado investidores externos do Brasil, o baixo retorno do capital pesa bastante contra o país. É uma das razões que, segundo especialistas, faz com que a queda no fluxo de investimentos de fora seja violenta e generalizada.
Dados do Banco Central mostram que, de 22 subgrupos de setores como agricultura, indústria e serviços, 17 amargam forte queda de investimentos externos.
Entre janeiro e maio deste ano em comparação com o mesmo período em 2001, segmentos variados sofreram grande retração em seu fluxo de investimento estrangeiro direto.
É o caso de: fabricação e montagem de veículos automotores (-27,7%), produtos químicos (-67,9%), máquinas para escritório, equipamentos de informática (-50%) e produtos minerais não-metálicos (-64,8%).
"Essa fuga de investimentos reflete, em parte, a falta de perspectiva de retornos elevados para quem investe em produção", diz Fernando Veloso do Ibmec.
Outro problema é que o volume de investimentos do exterior está em queda livre até em setores nos quais a produtividade tem sido mais alta, como o de serviços.
Nesse caso, têm contribuído negativamente, segundo especialistas, a insegurança regulatória do país. Em áreas como as de telecomunicações e energia elétrica, ainda não ficou claro o rumo que reajustes de tarifas e outras regras importantes terão.
Não por acaso, os investimentos diretos externos nesses dois segmentos sofrem queda livre. Caíram 53,4% no setor de eletricidade, gás e água quente e 57% no de correio e telecomunicações nos primeiros cinco meses deste ano em comparação ao mesmo período em 2001.
Já há quem acredite que o volume de investimentos estrangeiros diretos para o país neste ano não vá passar de US$ 10 bilhões. Os US$ 16,6 bilhões atraídos em 2002 já eram considerados pouco se comparados, por exemplo, à cifra superior a US$ 30 bilhões registrada em 1999 e 2000.
O pior é que o baixo fluxo líquido de recursos de fora para o país revela outro dado preocupante: o desinvestimento externo somava US$ 900 milhões até maio de 2003, em comparação com os US$ 582 milhões no mesmo período do ano passado.
Esse movimento de retração nos investimentos não é exclusividade do Brasil. O panorama ruim da economia mundial prejudica o mundo todo. Países desenvolvidos que fazem parte da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) tiveram queda de 20% no fluxo de investimento externo em 2002. A instituição prevê que o volume possa cair novamente, entre 20% e 30%, neste ano.

Ganhos financeiros
Baixos investimentos e produtividade reduzida têm sido sinônimos de rentabilidade decrescente para a indústria brasileira.
O risco constante de que a elevada carga tributária, somada a altos juros que corrigem suas dívidas, transforme o já baixo retorno bruto das empresas em prejuízo tem levado muitas delas a aprimorar sua gestão financeira.
Levantamento da ABM Consulting com base nos balanços publicados no primeiro trimestre de 2003 mostra que o resultado financeiro de empresas de variados setores tem sido muito elevado.
Empresas como Cemig, Escelsa, AmBev, Elektro e Sadia tiveram resultado financeiro equivalente a mais de 40% do seu resultado operacional. Um caso extremo é o da Semp Toshiba, que, embora tenha registrado prejuízo operacional, garantiu um lucro líquido de R$ 629 mil graças ao resultado financeiro de R$ 1,378 milhão no primeiro trimestre deste ano.
"As empresas sofisticaram tanto sua administração financeira que seu comportamento, em alguns casos, se aproxima ao de bancos", diz Fernando Coelho, analista da ABM Consulting.
(ÉRICA FRAGA)


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