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ESPETÁCULO EM XEQUE
De 22 subgrupos, 17 amargam queda no fluxo de capital; insegurança regulatória também prejudica
Investimento externo cai até 68% em 2003
DA REPORTAGEM LOCAL
Na balança dos fatores que têm
espantado investidores externos
do Brasil, o baixo retorno do capital pesa bastante contra o país. É
uma das razões que, segundo especialistas, faz com que a queda
no fluxo de investimentos de fora
seja violenta e generalizada.
Dados do Banco Central mostram que, de 22 subgrupos de setores como agricultura, indústria
e serviços, 17 amargam forte queda de investimentos externos.
Entre janeiro e maio deste ano
em comparação com o mesmo
período em 2001, segmentos variados sofreram grande retração
em seu fluxo de investimento estrangeiro direto.
É o caso de: fabricação e montagem de veículos automotores
(-27,7%), produtos químicos
(-67,9%), máquinas para escritório, equipamentos de informática
(-50%) e produtos minerais não-metálicos (-64,8%).
"Essa fuga de investimentos reflete, em parte, a falta de perspectiva de retornos elevados para
quem investe em produção", diz
Fernando Veloso do Ibmec.
Outro problema é que o volume
de investimentos do exterior está
em queda livre até em setores nos
quais a produtividade tem sido
mais alta, como o de serviços.
Nesse caso, têm contribuído negativamente, segundo especialistas, a insegurança regulatória do
país. Em áreas como as de telecomunicações e energia elétrica,
ainda não ficou claro o rumo que
reajustes de tarifas e outras regras
importantes terão.
Não por acaso, os investimentos
diretos externos nesses dois segmentos sofrem queda livre. Caíram 53,4% no setor de eletricidade, gás e água quente e 57% no de
correio e telecomunicações nos
primeiros cinco meses deste ano
em comparação ao mesmo período em 2001.
Já há quem acredite que o volume de investimentos estrangeiros
diretos para o país neste ano não
vá passar de US$ 10 bilhões. Os
US$ 16,6 bilhões atraídos em 2002
já eram considerados pouco se
comparados, por exemplo, à cifra
superior a US$ 30 bilhões registrada em 1999 e 2000.
O pior é que o baixo fluxo líquido de recursos de fora para o país
revela outro dado preocupante: o
desinvestimento externo somava
US$ 900 milhões até maio de
2003, em comparação com os US$
582 milhões no mesmo período
do ano passado.
Esse movimento de retração
nos investimentos não é exclusividade do Brasil. O panorama
ruim da economia mundial prejudica o mundo todo. Países desenvolvidos que fazem parte da
OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico) tiveram queda de
20% no fluxo de investimento externo em 2002. A instituição prevê
que o volume possa cair novamente, entre 20% e 30%, neste
ano.
Ganhos financeiros
Baixos investimentos e produtividade reduzida têm sido sinônimos de rentabilidade decrescente
para a indústria brasileira.
O risco constante de que a elevada carga tributária, somada a altos juros que corrigem suas dívidas, transforme o já baixo retorno
bruto das empresas em prejuízo
tem levado muitas delas a aprimorar sua gestão financeira.
Levantamento da ABM Consulting com base nos balanços publicados no primeiro trimestre de
2003 mostra que o resultado financeiro de empresas de variados
setores tem sido muito elevado.
Empresas como Cemig, Escelsa,
AmBev, Elektro e Sadia tiveram
resultado financeiro equivalente a
mais de 40% do seu resultado
operacional. Um caso extremo é o
da Semp Toshiba, que, embora tenha registrado prejuízo operacional, garantiu um lucro líquido de
R$ 629 mil graças ao resultado financeiro de R$ 1,378 milhão no
primeiro trimestre deste ano.
"As empresas sofisticaram tanto sua administração financeira
que seu comportamento, em alguns casos, se aproxima ao de
bancos", diz Fernando Coelho,
analista da ABM Consulting.
(ÉRICA FRAGA)
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