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CRESCIMENTO
Especialistas alertam, porém, que não há provas de que previdência privada faça população poupar mais
Governo quer que fundos gerem poupança
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo quer aumentar a
poupança dos brasileiros criando
mais fundos de pensão. Poupando mais para ter aposentadorias
altas no futuro, os brasileiros liberariam recursos para que as empresas pudessem investi-los no
aumento da capacidade produtiva brasileira. O resultado: o país
poderia crescer mais rápido sem
depender de investimento estrangeiro. O problema: não existe evidência de que o aumento dos recursos nos fundos de pensão aumente a poupança nacional.
"Não existe prova de que isso
ocorra. O que pode haver é um
deslocamento de poupança", diz
Kaizô Beltrão, técnico do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada). Ele explica: uma pessoa pode deixar de poupar de
uma forma, aplicando em caderneta de poupança, por exemplo,
para colocar o dinheiro num fundo de pensão. O dinheiro disponível no fundo cresce, mas a mudança não gera nenhum centavo
de aumento na poupança geral.
O crescimento do mercado de
fundos é positivo, diz Beltrão, não
porque aumenta o volume de
poupança, mas porque melhora a
qualidade dela. Como são recursos economizados para a aposentadoria, ficam imobilizados durante períodos longos. É o dinheiro ideal para investimentos de
longo prazo. Como os fundos
obedecem a critérios rígidos de
aplicação dos recursos, eles precisam encontrar boas oportunidades de investimento a riscos aceitáveis. Dessa maneira, o sistema
evitaria desperdício e garantiria
uma aplicação mais eficiente da
poupança disponível.
Mitos
Ainda assim, o ex-economista
do Banco Mundial e ganhador do
Nobel de economia Joseph Stiglitz
avalia que tanto a teoria de que os
fundos privados ajudam a aumentar a poupança quanto a de
que eles conseguem retornos
maiores com suas políticas de investimentos são "mitos" não verificados na prática.
No Brasil, o bom desempenho
dos fundos, do ponto de vista de
ajudar o país a crescer mais, vai
depender do sucesso da política
econômica do governo. Hoje,
mais de 60% dos ativos dos fundos de previdência fechada, por
exemplo, são aplicados em renda
fixa, ou seja, a maior parte é investida em títulos públicos.
Ações e investimentos imobiliários -indicadores de investimentos em atividades produtivas,
já que ajudam as empresas a se financiarem- abocanham pouco
mais de 20%. Ou seja, os fundos
de pensão estão financiando o governo, não o crescimento.
Manoel Cordeiro, coordenador
de investimentos da Abrapp (Associação Brasileira das Entidades
Fechadas de Previdência Complementar), diz que as carteiras dos
fundos são um reflexo das incertezas da conjuntura econômica
brasileira. Mas, diz Cordeiro, com
a queda da taxa de juros, os administradores serão obrigados a
procurar por alternativas aos títulos públicos.
"E isso já está começando a
acontecer. Como as previsões são
de queda [dos juros] no médio
prazo, os fundos já estão se preparando. Porque você não pode mudar uma carteira abruptamente.
Para ter resultados no futuro, precisa começar a analisar projetos e
pensar em novas alternativas agora", diz Cordeiro.
Falta mercado
Outra barreira para que os fundos possam ajudar o país a crescer
mais: o pequeno tamanho do
mercado de capitais brasileiro.
Com o crescimento da procura
dos fundos por papéis e títulos
privados de qualidade -de grandes e boas empresas-, pode faltar ativos no mercado.
Cordeiro, no entanto, avalia que
a indústria de fundos pode crescer junto com o mercado de capitais. "Há um universo de médias
empresas que podem financiar-se
por meio do mercado de capitais
e, desta maneira, emitir papéis
que sejam atrativos para os fundos", diz.
Vencidos os obstáculos -queda da taxa de juros, aumento da
população comprando planos de
previdência privada, crescimento
do mercado de capitais-, os fundos se tornariam um mecanismo
de alocação eficiente da poupança
dos brasileiros mas, diz Beltrão,
não a aumentariam, ou pelo menos não é isso o que mostra a experiência internacional.
No Chile, diz o especialista, o
sistema de previdência foi privatizado, o total de ativos no sistema
privado é maior do que a taxa de
poupança, e, a despeito de ter
crescido tanto, não alterou substancialmente a taxa de poupança
do país. Por quê? Os hábitos de
consumo de uma população não
dependem apenas de fatores econômicos, mas também culturais,
diz Beltrão.
Quando uma pessoa decide
poupar hoje, ela abre mão de consumir bens e serviços agora para
consumi-los no futuro. Este tipo
de decisão depende de fatores
econômicos, como o nível salarial. Mas as pessoas também são
influenciadas por fatores subjetivos, como o maior ou menor medo que elas têm de ficar sem emprego no futuro, ou a confiança
que os membros de uma sociedade podem ter de que seus descendentes providenciarão sua subsistência quando eles envelheçam.
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