São Paulo, terça-feira, 06 de agosto de 2002

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"Não há pânico entre banqueiros"

DO COLUNISTA DA FOLHA

E DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O dólar pode ter voltado a subir ontem, as linhas externas de crédito para o Brasil podem estar sofrendo significativos cortes, mas "os banqueiros não estão em pânico".
Palavra de Paul O'Neill, o secretário norte-americano do Tesouro, após reunir-se com um grupo de banqueiros representando instituições brasileiras e estrangeiras estabelecidas no país.
"Eles (os banqueiros) estão habituados aos altos e baixos da economia brasileira", disse O'Neill aos jornalistas norte-americanos que acompanham a sua visita, conforme a Folha apurou depois.
Antes, o secretário usou a maior parte da entrevista coletiva a jornalistas brasileiros para dizer que não disse o que disse, a respeito de corrupção no Brasil.
A primeira pergunta foi exatamente sobre corrupção. Ele negou, com razão, ter usado a palavra "corrupção". De fato, a frase mais recente, em entrevista à Fox News, não incluiu o termo corrupção, embora ficasse implícito, pela menção ao desvio de dinheiro para contas na Suíça.
A Folha lembrou que O'Neill, no encontro anual 2002 do Fórum Econômico Mundial, em Nova York, havia dito que os juros no Brasil eram altos porque a corrupção era igualmente elevada.
De novo, o secretário disse que não fora bem assim. Alegou que apenas defendera a tese de que todos os países deveriam esforçar-se para ser "investment grade", ou seja, para alcançar uma cotação, pelas agências de classificação de risco, que permita que não paguem prêmio de risco pelos empréstimos.
Pouco depois, Sônia Bridi (TV Globo) perguntou se O'Neill não se sentia responsável pelos estragos causados nos mercados por sua declaração sobre o risco de o dinheiro da ajuda ao Brasil escorrer para a Suíça.
"A sra. viu a declaração na TV?", perguntou o secretário. "Não, vi a transcrição", argumentou a jornalista. "Então, veja a TV", aconselhou O'Neill, de novo sem responder.

Responsabilidade
O secretário estava tão contido que pediu autorização a uma subalterna, a assessora de imprensa Michelle Davis, para soltar um "off the records" (declaração em que o autor não é mencionado). Michelle negou, mas O'Neill ousou assim mesmo, para dizer algo que poderia ser dito em qualquer microfone público sem maiores danos: "Eu sou responsável pelo que digo, mas é diferente assumir a responsabilidade por aquilo que atribuem a mim".
Em Brasília, o secretário do Tesouro adotara uma tática ainda mais diversionista. A uma pergunta sobre qual declaração feita por ele na semana passada fora mais sincera, se o elogio à equipe econômica ou o comentário sobre contas na Suíça, respondeu que o presidente Bush apóia o crescimento econômico e a criação de empregos em todo o mundo.
(CLÁUDIA DIANNI E CLÓVIS ROSSI)


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