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"Não há pânico entre banqueiros"
DO COLUNISTA DA FOLHA
E DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O dólar pode ter voltado a subir
ontem, as linhas externas de crédito para o Brasil podem estar sofrendo significativos cortes, mas
"os banqueiros não estão em pânico".
Palavra de Paul O'Neill, o secretário norte-americano do Tesouro, após reunir-se com um grupo
de banqueiros representando instituições brasileiras e estrangeiras
estabelecidas no país.
"Eles (os banqueiros) estão habituados aos altos e baixos da economia brasileira", disse O'Neill
aos jornalistas norte-americanos
que acompanham a sua visita,
conforme a Folha apurou depois.
Antes, o secretário usou a maior
parte da entrevista coletiva a jornalistas brasileiros para dizer que
não disse o que disse, a respeito de
corrupção no Brasil.
A primeira pergunta foi exatamente sobre corrupção. Ele negou, com razão, ter usado a palavra "corrupção". De fato, a frase
mais recente, em entrevista à Fox
News, não incluiu o termo corrupção, embora ficasse implícito,
pela menção ao desvio de dinheiro para contas na Suíça.
A Folha lembrou que O'Neill,
no encontro anual 2002 do Fórum
Econômico Mundial, em Nova
York, havia dito que os juros no
Brasil eram altos porque a corrupção era igualmente elevada.
De novo, o secretário disse que
não fora bem assim. Alegou que
apenas defendera a tese de que todos os países deveriam esforçar-se para ser "investment grade", ou
seja, para alcançar uma cotação,
pelas agências de classificação de
risco, que permita que não paguem prêmio de risco pelos empréstimos.
Pouco depois, Sônia Bridi (TV
Globo) perguntou se O'Neill não
se sentia responsável pelos estragos causados nos mercados por
sua declaração sobre o risco de o
dinheiro da ajuda ao Brasil escorrer para a Suíça.
"A sra. viu a declaração na TV?",
perguntou o secretário. "Não, vi a
transcrição", argumentou a jornalista. "Então, veja a TV", aconselhou O'Neill, de novo sem responder.
Responsabilidade
O secretário estava tão contido
que pediu autorização a uma subalterna, a assessora de imprensa
Michelle Davis, para soltar um
"off the records" (declaração em
que o autor não é mencionado).
Michelle negou, mas O'Neill ousou assim mesmo, para dizer algo
que poderia ser dito em qualquer
microfone público sem maiores
danos: "Eu sou responsável pelo
que digo, mas é diferente assumir
a responsabilidade por aquilo que
atribuem a mim".
Em Brasília, o secretário do Tesouro adotara uma tática ainda
mais diversionista. A uma pergunta sobre qual declaração feita
por ele na semana passada fora
mais sincera, se o elogio à equipe
econômica ou o comentário sobre
contas na Suíça, respondeu que o
presidente Bush apóia o crescimento econômico e a criação de
empregos em todo o mundo.
(CLÁUDIA DIANNI E CLÓVIS ROSSI)
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