São Paulo, domingo, 06 de agosto de 2006

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Nova York volta a atrair sedes de grandes empresas

Número de companhias que instalaram suas matrizes e subsidiárias em Manhattan mais que dobrou desde 1990

Explicação, segundo analistas, é a vocação da cidade para a globalização e a facilidade de ganhar e gastar muito dinheiro

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK

Após êxodo nas últimas décadas, Nova York volta a sediar as maiores empresas dos EUA e os executivos mais bem pagos do mundo.
O número de empresas que instalaram suas matrizes e subsidiárias em Manhattan mais que dobrou desde 1990, segundo levantamento do Departamento de Trabalho.
Ranking da revista "Fortune" com as 500 maiores companhias dos EUA também mostra tendência de retorno dos executivos a escritórios na cidade. De acordo com dados da prefeitura, o número de sedes passou de 274 para 602 em 15 anos. Resultado: 12 mil empregos com salários milionários.
Entre as grandes empresas que reforçam o movimento, estão o CIT Group, a Alcoa, maior fabricante de alumínio do mundo, e a Federated Department Stores, que administra as lojas Macy's e Bloomingdale's.
A explicação para o fenômeno, apontam analistas ouvidos pela Folha, é a vocação da cidade para a globalização e a facilidade de ganhar, e gastar, muito dinheiro.
"Quando contratam um executivos, as empresas oferecem um pacote de benefícios, não só altos salários. É preciso fazê-los felizes, prendê-los à função e manter a produtividade em alta. Senão, não compensa. E é Nova York onde se concentram os grandes talentos. "Recruto gente de todas as regiões dos EUA e do mundo inteiro. Os mais competentes estão aqui. De todas as áreas", diz o "headhunter" Robert Wynne Parry, que preside umas das maiores empresas de recrutamento de executivos do país (leia entrevista nesta página).
A volta das grandes empresas, no entanto, reflete uma nova tendência no mercado. Só a cúpula -presidência, diretoria e gerência- fica em Mannhattan. A base, com centenas de funcionários, continua nas cidades em que aluguéis, salários e impostos são menores.
Com as inovações tecnológicas, como celular, videoconferência e BlackBerry (minicomputador de mão que navega na rede, envia e-mails e funciona como celular), os executivos comandam os subordinados de qualquer lugar. Há diversos casos, como o da Alcoa, em que a sede fica em Nova York e a produção continua na periferia; no caso, em Pittsburgh (Estado da Pensilvânia).
A emigração das sedes de Manhattan chegou a ser objeto de estudo do sociólogo William H. Whyte (1917-1999), que foi patrocinado pela "Fortune" para analisar o fenômeno e entrevistar presidentes da General Electric e da Pepsi, que à época saíam de Nova York. A pesquisa deu origem à obra "City: Rediscovering the Center" (1988), que avalia o comportamento humano em Manhattan.

Altos salários
A volta dos executivos veio acompanhada de um aumento substancial dos salários, que passaram da média anual de US$ 64 mil (R$ 139 mil) há 15 anos para US$ 160 mil (R$ 347 mil), segundo o Departamento de Trabalho. Em contraposição, o número médio de empregos nos escritórios caiu de 127 para 78 no mesmo período.
"Nova York é uma cidade de matriz, não de filial", diz o subprefeito para desenvolvimento econômico, Daniel Doctoroff.
A administração do prefeito Michael Bloomberg tem cortejado grandes empresas a voltar para Nova York, o que em muitos casos envolve incentivos fiscais. A esperança do republicano é a de que novos empregos sejam gerados e mais dinheiro seja injetado no projeto de revitalização do centro financeiro da cidade, devastado depois do 11 de Setembro.
Só ao banco de investimentos Goldman Sachs, a cidade concedeu US$ 150 milhões em isenção de impostos para construção de sede em Lower Man- hattan, com 9.000 empregos.
O presidente da Alcoa, Alain J. P. Belda, explicou em evento do New York City Business Summit as razões que o fizeram voltar a Manhattan: "Precisamos ter acesso ao melhor. E precisamos das pessoas agora, não daqui a uma semana, quando nossos parceiros precisam perder um dia inteiro para se deslocar até Pittsburgh para uma reunião".
Jeffrey M. Peek, há dois anos no comando do CIT Group, diz que "a inauguração do escritório em Manhattan estabelece nova relação global que faz com que a empresa sirva melhor os clientes e os investidores".
Nova York aparece em primeiro lugar na lista da "Fortune" com 44 das 500 maiores empresas americanas. Há dois anos, eram 40.


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