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Onda de fusões eleva riscos de vazamento de informações
Ex-presidente da CVM avalia que problema atinge 25% dos grandes negócios
Na sexta, comissão abriu investigação sobre compra da Suzano Petroquímica, que gerou movimentação atípica de ações na Bolsa
Ana Carolina Negri - 27.set.06/Folha Imagem
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Saguão da Bolsa de Valores, que registrou movimento atípico de ações na semana passada |
TONI SCIARRETTA
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
A estabilidade econômica
transformou as fusões e aquisições em uma importante estratégia comercial. O problema é
que um entre quatro desses negócios costuma vazar para o
mercado antes de serem anunciados oficialmente.
A estimativa, feita pelo ex-presidente da CVM (Comissão
de Valores Mobiliários (CVM),
Marcelo Trindade, é um alerta.
Como as grandes empresas
mantêm políticas de boa governança, precisam de mais profissionais para as negociações de
compra e venda.
Essa também é a opinião dos
especialistas consultados pela
Folha. "Há mais advogados, especialistas em ambiente e até
assistentes sociais envolvidos
nas negociações", afirma Alex
Agostini, economista-chefe da
Austin Ratings. "As chances de
vazamento são maiores."
Foi o que teria ocorrido com
a Vivo. Na quinta-feira passada,
a operadora anunciou a compra
da Telemig e da Amazônia Celular. Segundo a Vivo, advogados das outras empresas envolvidos na transação teriam aberto o teor do acordo antes da assinatura dos contratos.
Na última sexta-feira, a CVM
anunciou a abertura de uma investigação para apurar se houve vazamento de informações
privilegiadas a respeito da compra da Suzano Petroquímica
pela Petrobras, um negócio de
ao menos R$ 2,1 bilhões.
Especialistas do mercado já
registravam um comportamento atípico das ações da Suzano na segunda-feira passada,
quando os papéis renderam
cerca de R$ 2 milhões. Em apenas um dia, a companhia fez girar metade do que costumava
movimentar por mês.
Na terça-feira, esse montante saltou para R$ 5 milhões e
chegou à quinta-feira em R$ 16
milhões. No dia do anúncio, fechou com R$ 64 milhões.
"Quando o volume de negócios de um setor ou o preço das
ações de uma empresa sofre
uma alteração fora do comum,
é sinal de vazamento", afirma
Alex Agostini, economista da
Austin Ratings.
Entre as fusões e aquisições
mais recentes, tiveram suspeita
de vazamento a oferta de compra da Perdigão pela Sadia
-transação que nem chegou a
ser concluída-, a fusão entre os
sites Submarino e Americanas.com e a venda do Grupo
Ipiranga para Petrobras, Ultra
e Braskem. "O vazamento é
muito comum no Brasil", diz
Trindade, que saiu da presidência da CVM em junho.
Petrobras
O que chama a atenção é que,
em menos de um ano, dois negócios envolvendo a Petrobras
vieram à tona antes do anúncio
oficial às autoridades do mercado financeiro. Para o economista Adriano Pires, diretor do
Centro Brasileiro de Infra-estrutura, situações desse tipo
podem afetar a credibilidade do
mercado brasileiro e podem
afastar os investidores. "Ninguém vai aplicar onde poucos
levam vantagem com informações privilegiadas", diz Pires.
Mas, afinal, a CVM tem como
evitar que os vazamentos aconteçam? Para o advogado Leonardo Luiz Cantidiano, ex-presidente da comissão, a instituição possui mecanismos para
detectar os vazamentos.
Apesar de limitações de orçamento e funcionários, a CVM
dispõe de um sistema informatizado que faz acender um sinal
de alerta sempre que ocorrem
negociações atípicas, diz. "A situação melhorou desde que a
autarquia começou a utilizar
filtros que apontam volumes e
preços de negociação na Bovespa [Bolsa de Valores de São
Paulo]", afirma.
Atualmente, o mecanismo de
controle da CVM consegue
identificar até mesmo os nomes dos investidores envolvidos em transações suspeitas.
"Qualquer variação fora dos padrões é pega", diz Cantidiano.
Punições
Mesmo em posse do nome de
um possível responsável, a Comissão de Valores Mobiliários
nada pode fazer sozinha. "Punição é um papel da Justiça",
afirma Cantidiano.
É por isso que, desde novembro do ano passado, a CVM passou a atuar em parceria com o
Ministério Público Federal. A
partir dessa parceria, a CVM
pôde, por exemplo, conseguir
na Justiça o bloqueio das contas de quatro suspeitos de ganhar dinheiro na Bolsa com informações confidenciais sobre
a compra do Grupo Ipiranga.
Entre os investidores que tiveram a conta bloqueada, estava um gerente da BR Distribuidora. Em sindicância interna,
porém, a Petrobras afirmou
que não tinha elementos para
determinar que o funcionário
utilizou informação confidencial em benefício próprio.
O vazamento é crime no Brasil desde 2001. As penas variam
de três a cinco anos de prisão,
mas ninguém foi condenado ou
preso por esse crime até hoje.
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