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ARTIGO
Por que apostar no Brasil?
JOHN DIZARD
ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES"
Jamais houve nada mais fácil de
vender aos conselhos de diretores
de multinacionais do que a idéia
de que seu "risco Brasil" deveria
ser eliminado ou reduzido por
hedge. Afinal, existe algum conselheiro em uma empresa de capital
aberto hoje que não tenha se imaginado suando diante de um comitê do Congresso ou tropeçando
em uma resposta em depoimento
gravado? Será que eles desejam se
apanhar dizendo que "bem, talvez
eu tivesse podido votar a favor de
adquirir seguro contra moratórias, mas no momento isso me parecia caro demais"?
Não pela primeira vez, tomar o
curso oposto ao dessas pessoas
pode lhe valer um lucro decente.
Ampla gama de empresas têm
exposição ao Brasil. Se a unidade
operacional de uma empresa ou
instituição financeira tem participação acionária em empresas da
Colômbia, Peru, Turquia ou Rússia, provavelmente pensou seriamente sobre os riscos de longo
prazo envolvidos. Mas a multinacional média sempre encarou o
Brasil como posição fácil de assumir. Com uma população grande
e isolado por trás de elevadas barreiras tarifárias, era possível montar as máquinas necessárias a produzir o modelo do ano passado e
enviar os lucros para casa. Sim, o
Brasil sofria crises periódicas, mas
com a evasão institucionalizada
aos controles cambiais e um pouco de paciência, sempre era possível suportá-las durante um ano
ou dois.
Nos últimos anos, porém, o Brasil adotou uma taxa de câmbio
flutuante razoavelmente bem administrada, reduziu suas barreiras tarifárias e trabalhou para
transformar sua economia razoavelmente fechada em um sistema
no qual a maior parte dos setores
precisa competir em escala mundial. Isso significa que os mercados domésticos de capital do Brasil estão sofrendo com a aversão
mundial a riscos, e o governo e setor empresarial do país têm de pagar taxas de juros reais muito elevadas.
Essas taxas de juros, e os riscos
de que a dívida do governo e das
empresas não possa ser rolada no
futuro eis o problema do Brasil. A
aversão crescente ao risco cria risco maior.
A maior parte do "risco" sobre o
qual se lê no Brasil tem a ver com a
eleição de outubro. Não prestem
atenção demais nisso. O vencedor
será provavelmente ou o candidato do governo, pró-mercado, ou o
candidato da classe trabalhadora
urbana. E se trata realmente da
"classe trabalhadora", não de "lunáticos lançadores de bombas".
Eles querem continuar trabalhando, o que significa que eles e seu
candidato não destruirão o sistema financeiro ou a economia. O
candidato desse grupo deveria ser
definido como um social democrata populista, e não como comunista.
A chave para o Brasil é não o resultado da eleição, mas a situação
do apetite mundial por risco nos
mercados de capitais não agora, e
não no momento da eleição, mas
em janeiro e durante o primeiro
trimestre do ano que vem. Não é
uma declaração tão genérica
quanto pode parecer, já que os
preços de todos os ativos de risco
cada vez mais se alteram em sincronia. Se as pessoas temem comprar ações de empresas britânicas
de telecomunicações, provavelmente também se manterão afastadas dos junk bonds do setor de
energia dos Estados Unidos e dos
títulos da dívida brasileira.
Talvez estejamos passando por
uma nova fase de queda no apetite mundial por risco. Mas isso
provavelmente chegará ao fim no
final deste ano, antes que o risco
da rolagem da dívida brasileira se
torne agudo. No momento em
que os brasileiros estiverem precisando do retorno da confiança
aos mercados, no primeiro trimestre, o provável é que isso já tenha acontecido.
Uma vez mais, o problema fundamental no Brasil é o alto nível
das taxas de juros reais que, este
ano, se incluirmos os efeitos da
desvalorização da moeda local
diante do dólar, está perto dos
20%. Porque a desvalorização já
aconteceu, deveria ser possível reduzir a taxa "real" de juros (descontada a inflação) a menos de
9% no ano que vem. Se as taxas
reais ficarem abaixo dos 9%, o
Brasil será capaz de manter sua
economia em funcionamento até
que os mercados de capitais desapertem os cintos. No futuro, o
país poderia adotar taxas de juros
mais baixas e sustentáveis no longo prazo.
No entanto, não é preciso presumir boas notícias para acreditar
no Brasil. A crise brasileira foi tão
divulgada que os ativos brasileiros estão agora entre os mais protegidos por hedge talvez até protegidos em excesso. No começo do
ano, seguradoras européias e outros participantes do mercado de
swaps de crédito por moratória
decidiram procurar rendimentos
"vendendo proteção" contra a
moratória do governo e de empresas brasileiras. Em outras palavras, eles concordaram em indenizar os investidores caso o Brasil
não pagasse.
Em julho e agosto, os "vendedores de proteção" entraram em pânico e começaram a fazer hedge
para os contratos de hedge que tinham vendido. Venderam títulos
brasileiros a descoberto para reduzir sua exposição líquida ao
país. O resultado foi a disparada
das taxas de juros sobre a dívidas
brasileira, a ponto de o bônus C
denominado em dólares, um título público bastante acompanhado, estar oferecendo ágio de 21%
em relação à curva de rendimento
dos títulos do Tesouro norte-americano. De lá para cá, o ágio
caiu para 17,5%, o que ainda é
muito alto. Ainda mais importante, o ágio supera significativamente o da Colômbia (8,13% diante
dos títulos do Tesouro norte-americano), por exemplo, ou os
9,13% do Peru.
Existe muita menos atividade
de swaps de moratória ou outros
contratos de hedge nesses países,
de modo que não existe para eles
um excesso de vendas como op
que acontece no Brasil.; Se o Brasil
quebrar, eles quebram mais feio.
Se o Brasil se sair bem, o Brasil se
recuperará melhor. De qualquer
forma, manter títulos da dívida
brasileira e vender a descoberto
os títulos de outros países latinos
será boa notícia para você, não
importa se as demais notícias forem boas ou ruins.
Tradução de Paulo Migliacci
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