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São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2003

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FIM DO SUFOCO?

Produção sobe 0,4% no mês, após duas quedas seguidas; resultado é o melhor desde fevereiro, diz IBGE

Indústria dá sinal de recuperação em julho

JULIANA RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

A produção industrial brasileira iniciou as atividades do segundo semestre com crescimento de 0,4% em julho em relação a junho, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Apesar de ser um crescimento tímido, foi a primeira taxa positiva nesse tipo de comparação depois de dois meses de queda.
Foi também o maior crescimento mensal desde fevereiro deste ano (quando registrou 1,3% de alta sobre janeiro) e uma boa recuperação em relação ao resultado anterior: de maio para junho, a produção industrial havia caído 2,6%. A sequência de resultados ruins até fizera o IBGE declarar que a indústria estava em "recessão técnica", após dois trimestres consecutivos de retração.
A recuperação da indústria extrativa mineral, que registrou alta de 8,8% em julho na comparação com junho, teve forte influência no resultado mensal. Mas o próprio IBGE ressalta que o desempenho foi distorcido porque, em junho, parte das refinarias ficou parada por alguns dias, o que prejudicou a produção de petróleo e gás natural.
Apesar disso, a recuperação pôde ser observada em outros setores da indústria. Dos 19 ramos pesquisados, 10 apresentaram crescimento em julho.
O coordenador de Indústria do IBGE, Silvio Sales, diz que o ritmo de retomada será determinado pelas vendas reais das empresas. "Se o sinal das vendas melhorar, poderá haver fôlego para o aumento da produção nos próximos meses", avaliou. Para ele, o primeiro movimento será de consumo de estoques, que ainda estão altos em alguns segmentos. Só depois é que a indústria voltará a produzir mais fortemente.
Após a divulgação dos dados do IBGE, a CNI (Confederação Nacional das Indústrias) mostrou que também as vendas se recuperaram em julho, subindo 0,94% em relação a junho -já descontados os fatores sazonais.
O índice do IBGE de julho, porém, não modifica o resultado da indústria olhado em prazos maiores: no confronto com julho do ano passado, a queda da produção foi de 2,5%; no acumulado deste ano, chega a 0,3%.
Sales acrescentou que a recuperação terá que ser muito forte nos próximos meses para que as taxas anuais passem a ser positivas, já que, no segundo semestre de 2002, a atividade industrial foi muito alta.
O único indicador que teve alguma recuperação num prazo maior é o de bens de consumo duráveis. Em julho, a alta foi de 0,7% ante o mês anterior. Já nos três meses encerrados em julho, o crescimento foi de 2,3% sobre o trimestre terminado em maio.
Ainda assim, o levantamento mostra que a atividade está muito pouco voltada para o mercado interno, devido à fraca demanda. No mês, houve quedas significativas nos setores de móveis (-10,2%), de materiais elétricos e comunicações (-10%) e de eletrodomésticos (-8,4%).
A crise de consumo também aparece na queda de 0,7% do segmento de bens intermediários, na comparação com julho do ano passado. Dentro da categoria, houve queda da construção civil (-11%) e da produção de embalagens (-7,6%). Segmentos ligados às exportações e à agricultura, em contrapartida, tiveram aumento de produção: celulose (12%), extração de minerais metálicos (3%) e fertilizantes (1,8%).
Dentro dos bens de consumo não-duráveis, cuja queda na comparação com julho do ano passado foi de 6,3%, recuaram medicamentos (-22,7%), vestuário e calçados (-13%) e bebidas (-10,8%). Já o setor de bens de capital teve alta de 0,4% na comparação com junho. No confronto com julho de 2003, porém, o recuo é de 6,1%.
Na quinta-feira, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) estimou que a produção da indústria recuará 0,7% no ano.
Para o economista-chefe do ABN Amro Asset Management, Hugo Penteado, a previsão do Ipea é pessimista. Ele aposta numa alta de 1,5% da produção industrial neste ano e diz que as taxas mensais tendem a melhorar daqui para a frente.
"Essa alta de 0,4% em julho é apenas um início da retomada que virá. Historicamente, a recuperação da produção acontece dois meses após as quedas dos juros. Além disso, estamos assistindo a uma melhora na economia americana neste segundo semestre, e isso aumentará a demanda por produtos brasileiros", diz.
O economista acrescenta que as taxas de juros no mercado futuro estavam em queda desde o início do ano, antes mesmo dos cortes da Selic. "É com base na taxa futura que as empresas programam investimentos", diz.
A taxa básica de juros (Selic), que chegou a 26,5% ao ano durante o primeiro semestre, está agora em 22% anuais.
Segundo Penteado, o esperado aumento dos salários reais (pois a inflação está em queda), a política fiscal menos severa (já que o superávit primário foi superior à meta do governo no primeiro semestre, o que abre espaço para mais gastos), a queda de juros, as reformas e a estabilidade "devem contribuir para uma reativação mais forte da demanda interna".
Andrei Spacov, do Unibanco, é mais cauteloso quanto à reativação da produção. Ele espera que uma reviravolta nos índices do IBGE só ocorra em setembro. "É natural esperar que a retomada aconteça, mas dizer que já presenciamos uma recuperação é precipitado."


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