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FIM DO SUFOCO?
Produção sobe 0,4% no mês, após duas quedas seguidas; resultado é o melhor desde fevereiro, diz IBGE
Indústria dá sinal de recuperação em julho
JULIANA RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
A produção industrial brasileira
iniciou as atividades do segundo
semestre com crescimento de
0,4% em julho em relação a junho, segundo o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística). Apesar de ser um crescimento tímido, foi a primeira taxa positiva nesse tipo de comparação depois de dois meses de queda.
Foi também o maior crescimento mensal desde fevereiro deste
ano (quando registrou 1,3% de alta sobre janeiro) e uma boa recuperação em relação ao resultado
anterior: de maio para junho, a
produção industrial havia caído
2,6%. A sequência de resultados
ruins até fizera o IBGE declarar
que a indústria estava em "recessão técnica", após dois trimestres
consecutivos de retração.
A recuperação da indústria extrativa mineral, que registrou alta
de 8,8% em julho na comparação
com junho, teve forte influência
no resultado mensal. Mas o próprio IBGE ressalta que o desempenho foi distorcido porque, em
junho, parte das refinarias ficou
parada por alguns dias, o que prejudicou a produção de petróleo e
gás natural.
Apesar disso, a recuperação pôde ser observada em outros setores da indústria. Dos 19 ramos
pesquisados, 10 apresentaram
crescimento em julho.
O coordenador de Indústria do
IBGE, Silvio Sales, diz que o ritmo
de retomada será determinado
pelas vendas reais das empresas.
"Se o sinal das vendas melhorar,
poderá haver fôlego para o aumento da produção nos próximos meses", avaliou. Para ele, o
primeiro movimento será de consumo de estoques, que ainda estão altos em alguns segmentos. Só
depois é que a indústria voltará a
produzir mais fortemente.
Após a divulgação dos dados do
IBGE, a CNI (Confederação Nacional das Indústrias) mostrou
que também as vendas se recuperaram em julho, subindo 0,94%
em relação a junho -já descontados os fatores sazonais.
O índice do IBGE de julho, porém, não modifica o resultado da
indústria olhado em prazos maiores: no confronto com julho do
ano passado, a queda da produção foi de 2,5%; no acumulado
deste ano, chega a 0,3%.
Sales acrescentou que a recuperação terá que ser muito forte nos
próximos meses para que as taxas
anuais passem a ser positivas, já
que, no segundo semestre de
2002, a atividade industrial foi
muito alta.
O único indicador que teve alguma recuperação num prazo
maior é o de bens de consumo duráveis. Em julho, a alta foi de 0,7%
ante o mês anterior. Já nos três
meses encerrados em julho, o
crescimento foi de 2,3% sobre o
trimestre terminado em maio.
Ainda assim, o levantamento
mostra que a atividade está muito
pouco voltada para o mercado interno, devido à fraca demanda.
No mês, houve quedas significativas nos setores de móveis (-10,2%), de materiais elétricos e
comunicações (-10%) e de eletrodomésticos (-8,4%).
A crise de consumo também
aparece na queda de 0,7% do segmento de bens intermediários, na
comparação com julho do ano
passado. Dentro da categoria,
houve queda da construção civil
(-11%) e da produção de embalagens (-7,6%). Segmentos ligados
às exportações e à agricultura, em
contrapartida, tiveram aumento
de produção: celulose (12%), extração de minerais metálicos (3%)
e fertilizantes (1,8%).
Dentro dos bens de consumo
não-duráveis, cuja queda na comparação com julho do ano passado foi de 6,3%, recuaram medicamentos (-22,7%), vestuário e calçados (-13%) e bebidas (-10,8%).
Já o setor de bens de capital teve
alta de 0,4% na comparação com
junho. No confronto com julho
de 2003, porém, o recuo é de 6,1%.
Na quinta-feira, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) estimou que a produção da
indústria recuará 0,7% no ano.
Para o economista-chefe do
ABN Amro Asset Management,
Hugo Penteado, a previsão do
Ipea é pessimista. Ele aposta numa alta de 1,5% da produção industrial neste ano e diz que as taxas mensais tendem a melhorar
daqui para a frente.
"Essa alta de 0,4% em julho é
apenas um início da retomada
que virá. Historicamente, a recuperação da produção acontece
dois meses após as quedas dos juros. Além disso, estamos assistindo a uma melhora na economia
americana neste segundo semestre, e isso aumentará a demanda
por produtos brasileiros", diz.
O economista acrescenta que as
taxas de juros no mercado futuro
estavam em queda desde o início
do ano, antes mesmo dos cortes
da Selic. "É com base na taxa futura que as empresas programam
investimentos", diz.
A taxa básica de juros (Selic),
que chegou a 26,5% ao ano durante o primeiro semestre, está
agora em 22% anuais.
Segundo Penteado, o esperado
aumento dos salários reais (pois a
inflação está em queda), a política
fiscal menos severa (já que o superávit primário foi superior à
meta do governo no primeiro semestre, o que abre espaço para
mais gastos), a queda de juros, as
reformas e a estabilidade "devem
contribuir para uma reativação
mais forte da demanda interna".
Andrei Spacov, do Unibanco, é
mais cauteloso quanto à reativação da produção. Ele espera que
uma reviravolta nos índices do
IBGE só ocorra em setembro. "É
natural esperar que a retomada
aconteça, mas dizer que já presenciamos uma recuperação é precipitado."
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