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São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2003

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FIM DO SUFOCO?

Analistas prevêem melhora diferenciada por setor da atividade

Pesquisa da CNI indica alta nas vendas da indústria

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A trajetória de queda da atividade industrial, que predominou no primeiro semestre, foi interrompida em julho, segundo dados divulgados ontem pela CNI (Confederação Nacional da Indústria). Na opinião de analistas, entretanto, a recuperação do nível de atividade só deverá a ocorrer nos próximos meses, e de forma heterogênea entre os diferentes setores industriais.
Em julho, as vendas reais da indústria, expurgados os efeitos sazonais, cresceram 0,94% em relação a junho, segundo a CNI -melhor resultado desde março. Sem descontar as influências sazonais, o crescimento real de vendas ficou em 7,52% no período.
Todos os indicadores (vendas, número de horas trabalhadas, salários reais e utilização da capacidade instalada) - com exceção do nível de emprego- foram positivos naquele mês.
Mesmo assim, "ainda é cedo para afirmar que está havendo uma inversão do quadro de retração", diz Flávio Castelo Branco, coordenador da unidade de política econômica da CNI.
Na sua opinião, os indicadores da atividade industrial deverão permanecer estáveis, em torno do patamar de julho, nos próximos meses. "Só mais para o final do ano teremos uma retomada gradual, e bem heterogênea", diz.
Que ninguém se iluda, porém, com a recuperação esperada para o curto prazo, alerta Castelo Branco. "Ela não significará uma retomada forte do crescimento econômico; será compatível com os níveis de crescimento do PIB registrados nos últimos dois anos, em torno de 1,5% anuais", afirma.
Segundo Castelo Branco, setores voltados para o mercado externo já vêm mostrando melhor desempenho, enquanto naqueles voltados para o consumo interno ainda há muita assimetria.
Análise semelhante sobre o desempenho da indústria tem a LCA Consultoria. "Eu diria que estamos num ponto de inflexão, os dados de agosto e setembro deverão mostrar isso", diz Francisco Pessoa Faria, economista da empresa. Na sua avaliação, "se estiver mesmo vindo uma recuperação, vamos ter indicadores heterogêneos e com descompasso nos próximos meses".
Faria lembra que alguns setores como construção civil, por exemplo, deverão se recuperar mais lentamente. Esse setor encolheu 11% no segundo trimestre deste ano. "Sua recuperação depende de um aumento da confiança do consumidor que o leve a assumir dívidas de longo prazo com financiamento imobiliário", diz o economista da LCA.

Desigualdade regional
Os Indicadores Industriais da CNI, divulgados ontem, mostram uma retomada das vendas em todos os Estados no mês de julho em relação a junho. Em sete deles, as taxas foram superiores àquela observada para o país. "Os resultados foram influenciados pelo aumento das exportações e pelo início do processamento de safras", diz o boletim da CNI.
Castelo Branco explica que o comportamento das economias regionais seguiu o ritmo dos setores industriais dominantes em cada estado. Em Goiás, o Estado com maior crescimento das vendas reais, houve um aumento de 14,62% em julho em relação a junho. O que puxou os resultados foi o bom desempenho dos setores químico, de produtos alimentícios e minerais não metálicos.
Já a Bahia - crescimento de 13,4% em relação a junho- foi beneficiada pelos resultados dos setores químico, de produtos alimentícios e de metalurgia.
Na comparação com julho do ano passado, porém, dos 13 Estados analisados pela CNI, apenas dois apresentaram taxa positiva nas vendas reais. No conjunto do país, as vendas reais caíram 3,94% em julho deste ano em relação a julho do ano passado. Nos sete primeiros meses de 2003, os dados da CNI ainda mostram um fôlego curto da indústria (0,06% de aumento de vendas reais). Segundo a CNI, essa estagnação é resultado das dificuldades do setor para se desfazer dos estoques.
Refletindo o desempenho das vendas, o ritmo de produção ainda não mostrou reação: o nível de utilização da capacidade instalada com ajuste sazonal, ficou estável em julho em relação a junho (79,1%). Na comparação com julho de 2002, houve queda de quase dois pontos percentuais.


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