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LUÍS NASSIF
Teorias e prática
na economia
O acadêmico, por formação e definição, é o sujeito
que prospecta as teorias existentes, estuda, conhece as últimas formulações. Sua formação se completa quando passa
a conhecer aspectos objetivos
das economias analisadas e a
conferir se os personagens da
economia e instituições econômicas se comportam da forma
prevista no modelo teórico. Aí
reside a diferença entre o economista de manual e o formulador.
Seja qual for a formação do
economista -se fundamentalmente teórico, se analista de
conjuntura e da realidade-,
ele tem que ter na cabeça o conceito, o modelo da economia a
ser analisada, com todas as
suas limitações, e não a formulação ideal da teoria. Não se
trata de tarefa fácil. Economias
e países são realidades bastante
complexas.
Um dos problemas mais sérios da academia é a chamada
alienação do especialista para
adaptar a teoria à realidade. É
uma limitação psicológica porque significa trocar o sonho
ideal, o mundo previsível,
quantificável, esteticamente
perfeito da teoria, o Matrix, por
uma realidade que contém imperfeições e, principalmente,
pessoas. E é uma limitação intelectual porque o economista é
confrontado com situações não
previstas no manual. E aí são
ele e a realidade. Não basta citar terceiros, mostrar-se em linha com as idéias da moda.
Com o instrumental teórico de
que dispõe, terá que identificar
as inadequações da realidade,
fugindo da segurança que o
manual permite.
Há tempos publiquei um trabalho jornalístico, com o título
"O Espetáculo do Desenvolvimento", no qual -sem avançar além das chinelas do jornalismo- procuro demonstrar
de forma estruturada as impropriedades do modelo econômico baseado na dependência de
capital volátil, exercitando
dentro de minhas limitações a
análise da teoria aplicada à
realidade brasileira. O trabalho foi desqualificado pela economista Eliana Cardoso, que
considerou a discussão "fora de
moda".
Ontem, no mesmo espaço de
Eliana no jornal "Valor", o economista Márcio Garcia, da Faculdade de Economia da PUC-RJ, na coluna sob o sugestivo título "As opções reais e o espetáculo do desenvolvimento" confirma, com riqueza de citações,
o que procurei demonstrar no
trabalho jornalístico. Garcia
sai da mera planilha, incorpora na análise pensadores de fôlego muito mais amplo, como
Albert Hirschmann -sugerido
por Edmar Bacha-, e chega às
mesmas conclusões do meu trabalho, que não trata de nenhuma idéia inovadora, mas do
uso do bom senso e do raciocínio para conferir a consistência
do que a teoria propõe.
Na mesma edição do (excelente) jornal, estudos dos economistas da Unicamp -liderados por Luiz Gonzaga Belluzzo e Ricardo Carneiro-
chegam a conclusões semelhantes, ambos há bastante
tempo na linha de frente dessa
crítica ao modelo atual de
abertura financeira.
Tudo isso demonstra que, independentemente de linhas de
pensamento, há princípios fundamentais na economia que
não podem ser desrespeitados.
Mas esse tipo de avaliação só
está disponível a analistas que
conseguem avançar além do
manual e das modas e ganhar
vôo próprio.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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